Quando li Três dias para sempre, fiquei com raiva por bem mais que três dias. Por bem mais de três meses, aliás, porque só agora, passado algum tempo, consigo digerir para tentar – tentar mesmo – escrever sobre. Achei, na verdade, que ficaria com raiva, de fato, para sempre.
Este não é um texto fácil de ser escrito. Tampouco prazeroso. Sou adepta da teoria de que, se não há nada de bom para falar, é melhor ficar calada. Infelizmente, na prática, nem sempre isso é possível. Pelo menos não quando falar é justamente o cerne do trabalho.
Eis o que diz a sinopse na orelha da publicação: “Line mora sozinha no Rio, ainda juntando os cacos depois que o seu noivo a abandonou no dia do casamento. Sem um emprego decente, sem um amigo sequer e sem coragem de voltar para a sua cidadezinha natal, ela vê os dias passarem enquanto aguarda algum sinal do destino sobre qual caminho seguir. No ônibus ela conhece o brasiliense Teo, que está na cidade a passeio, curtindo o verão mais escaldante dos últimos mil anos. Olhares trocados, mensagens de texto e uma vontade incontrolável de se ver mais uma vez… É assim que começam as paixões mais gostosas. Para Line, poderia ser apenas uma distração (maravilhosa) para as noites quentes de Copacabana, seja nos barzinhos junto com a galera ou na (quase) privacidade do apê onde Teo está hospedado. O problema é que um coração cansado de sofrer se preenche com a maior facilidade e Teo não pode ir embora sem saber que mudou a vida dela para sempre”.
Este livro, com certeza, mudou a minha vida para sempre. Porque me deixou muito pê da vida – um PÊ bem maiúsculo seguido de muitas exclamações – com o mercado editorial brasileiro. Até então eu tentava compreender as opções comerciais, a escolha por publicações que sejam mais rentáveis em detrimento de outras com qualidades literárias superiores. Afinal, é um negócio como qualquer outro, infelizmente; e se o capitalismo é selvagem, a arte e a literatura ele costuma estraçalhar nos dentes.
Minha compreensão, contudo, não alcança esse ponto. A história é fraca, os personagens não têm carisma algum, o final inesperado prometido na capa é o fim da picada (e olha que esperei muitas páginas pelo final). Só para dar uma ideia de como a trama não se sustenta, a noiva é largada no altar e nesse casamento não tinha nenhum familiar, nenhum amigo, nenhum conhecido, nenhum tipo de convidado que a ajude, console ou pelo menos a impeça de ficar dias trancada num quarto de hotel e depois ter que contar com a caridade da gerente, que lhe oferece um subemprego em troca de comida e um quartinho para morar? Oi? Quem estava, afinal, nesse casamento? Tudo bem que a família é do interior da Bahia e o casório seria no Rio de Janeiro, mas, mesmo assim, ninguém foi? É um detalhe que nem faz parte da pseudo-história de amor principal, mas, de novo, preciso perguntar: oi???
Ler Três dias para sempre me deixou triste. Ter de escrever este texto também. Porque tento respeitar ao máximo os autores, mesmo quando não gosto, mas não há como perdoar a irresponsabilidade das editoras. Até para inundar as livrarias de modismos é preciso haver bom-senso. E limite.