A SEGA está trazendo para o ocidente o último episódio da série Yakuza, lançado em 2016 no Japão. Yakuza 6: The Song of Life chega por aqui dia 17 de abril, mas tivemos o prazer de experimentar o título aqui no Jornada Geek com antecedência.
Então prepare-se: O Dragão de Dojima voltou à cidade, mais velho, mais sábio, surpreendentemente bombado pra sua idade, e com todo o tempo livre do mundo para chutar a cara de mafiosos, trombadinhas, arruaceiros e toda a escória que perambula pelas ruas de Kamurocho, em Tóquio, e Onomichi, em Hiroshima. A aposentadoria não é uma coisa maravilhosa?
Para quem ainda não conhece a série, primeiro um aviso: já é 2018 e os dois primeiros games da série (na linha do tempo em que a história acontece) já estão disponíveis para PlayStation 4 com gráficos atuais e localizados para o Ocidente. Então você não tem mais desculpa para não saber do que se Yakuza se trata.
Dito isso, Yakuza é uma série de jogos onde você vive a extremamente conturbada vida de Kazuma Kiryu, o Dragão de Dojima. Kiryu é um lendário membro da Yakuza, a máfia japonesa, e ao longo dos anos (e dos jogos) se tornou uma figura conhecida e temida em todo o submundo do crime japonês.
A Yakuza não é como a máfia em outros países. Os membros do sindicato do crime japonês têm cartões de visita, escritórios corporativos, administram negócios legais e ilegais e controlam grandes participações nas estruturas socioeconômicas e políticas do país, no mercado de ações, no setor imobiliário e no setor de entretenimento.
Estando tão enraizados na cultura japonesa, muitos membros da Yakuza consideram uma verdadeira honra e orgulho servir a organização. Isso faz com que alguns sigam um código de ética, evitando ferir e importunar cidadãos inocentes e até punindo criminosos que o façam. Esse é o caso de Kiryu, um verdadeiro anti-herói.
Sem descanso para o Dragão
Como nos outros games da franquia, você anda pelas ruas de Kamurocho e, dessa vez, pelas ruas de Onomichi também. Em Yakuza 6, Kiryu precisa encontrar o responsável pelo acidente que deixou sua filha adotiva, Haruka, em coma.
Como se isso não bastasse, Haruka estava no local do acidente com um bebê, chamado Haruto. Ao que tudo indica a criança é filho dela, embora Kiryu não soubesse de sua existência. Agora ele procura por pistas de quem é o pai de Haruto, e o que aconteceu durante o acidente que deixou a jovem entre a vida e a morte.
Não se engane por essa história de grande carga emocional. Yakuza 6, assim como seus predecessores, é um jogo extremamente divertido e repleto de bom humor. Enquanto a história avança e você percorre a cidade, inúmeras atividades estão disponíveis para passar o tempo.
São mini-games muito bem elaborados, como gerenciar um time de baseball de bairro ou montar seu próprio clã e entrar em brigas generalizadas pelas ruas. Quase todos eles te premiam não só com experiência, mas com desenvolvimento de personagens e uma jogabilidade que te prende até os últimos estágios.
Uma série tão única não se cria pensando igual
Essa mistura de drama com alívio cômico da série é inspirada pelo próprio cinema japonês. Na década de 60, um novo gênero cinematográfico surgia no Japão: os filmes de yakuza. eram como os faroeste americanos, mas ao invés de caubóis, tínhamos homens mau-encarados cheios de tatuagens. A violência e o drama em excesso, aliviadas com uma dose de comédia pastelão, eram a marca do estilo.
O criador da série Yakuza, Toshihiro Nagoshi, queria criar um jogo que mostrasse o modo de vida desses gangsteres e as histórias dos distrito vermelho de Tóquio. Essa região, controlada pela Yakuza, é conhecida pelos bares, casa noturnas e hostess clubs, que são “casas de entretenimento adulto”.
Nagoshi já havia se provado um diretor competente produzindo Daytona USA, e já tinha seu próprio estúdio na SEGA. Mas Nagoshi não era formado em design ou desenvolvimento. Ele era formado em cinema.
Quando Nagoshi apresentou sua proposta de criação para a diretoria da SEGA, encontrou dificuldades. Muitos diretores acreditavam que um jogo baseado em uma temática tão delicada e classificação indicativa para adultos tinha grandes chances de fracassar.
Após mais de um ano de mudanças, negociações e muita insistência, Nagoshi conseguiu a liberação e a verba para produzir Yakuza.
A atenção aos detalhes
Depois da aprovação, Yakuza teve uma produção… interessante. Para reproduzir fielmente o distrito vermelho de Kabukicho (que ganhou o nome de Kamurocho no game), a equipe teve que conhecer muito bem o que ia retratar. Não sei dizer em números, mas podemos ter certeza que um pouquinho da verba de produção de Yakuza foi para pagar bebidas nos bares e apostar em jogos de azar.
Somente dessa forma foi possível que Yakuza se tornar o que é. Mesmo sendo um universo completamente estranho para nós, com uma cultura tão diferente, tudo parece natural e vivo.
Yakuza 6: The Song of Life pega todos os aspectos que o fazem um jogo tão bom e apenas melhoram a experiência dos anteriores. Você pode pensar que após seis entradas principais, a franquia perderia o gás, mas pelo contrário. Minigames clássicos, como os simuladores de encontros nos hostess clubs, estão aqui. Com novas garotas e, obviamente, novas histórias.
Você pode jogar Virtua Fighter 5 em uma loja de arcades da SEGA. Você pode cantar no karaokê em um mini-game estilo Guitar Hero enquanto tenta não se distrair com as imagens ridículas de Kiryu em clipes na praia passando no telão. Você pode entrar em um chat virtual e convencer camgirls a tirarem as roupas com a mesma lábia de um pré-adolescente sozinho em casa.
A clássica porradaria nas ruas continua ótima
De alguma forma, o combate de Yakuza 6 permanece o mesmo de antes e não enjoa. Existe uma satisfação enorme em chutar inimigos já caídos no chão e vê-los voando por uma vidraça. As Heat Actions continuam firmes: com essas habilidades, você pode usar itens que encontrar no chão e até o cenário para causar dor de maneira espetacular.
Não tem nada mais gostoso que enfrentar um cara bem maior e mais forte que você e quebrar a cabeça dele com uma bicicleta. Diversas vezes desviei do meu caminho ao ver o ícone de inimigos no mapa, só para ir até eles e quebrar tudo.
No meio de tudo isso, Toshiro Nagoshi ainda consegue entregar um enredo de cinema. Todos os novos personagens são tão carismáticos quanto os antigos, e a cada avanço da narrativa, a trama se complica e te deixa mais intrigado. Você torce pelos amigos de Kiryu, e fica aflito quando estão em situações de perigo. No meio de tantos agentes, fazer o jogador desenvolver tamanha empatia por vários deles é uma façanha digna de nota.
Ah, tem um modo online
Sem dúvida o maior dos mini-games dessa edição é o Clan Creator. Nele você vai recrutar lutadores para sua gangue, treiná-los e liderá-los contra outros clãs, inclusive contra outros jogadores. O modo funciona com um jogo RTS (Real Time Strategy) onde você gasta recursos para invocar suas unidades e dizimar o clã inimigo.
O modo é bastante divertido, mas podia conter menos unidades e maior ênfase nas unidades de líderes, pois falta um pouco da necessidade do uso de estratégia nas batalhas. Eu não cheguei a perder nenhuma durante o jogo na dificuldade normal, vencendo simplesmente por superioridade numérica e níveis mais altos que os inimigos.
Mesmo assim, é muito divertido recrutar os personagens na rua e botar eles pra dar distribuir porrada.
Uma pérola que não pode passar despercebida
Acho que você já deve ter imaginado a minha nota para Yakuza 6: The Song of Life. A franquia continua incrível, e depois de tantas entradas a SEGA conseguiu produzir uma continuação que não só mantém o nível, mas ainda traz mais coisas boas para a série.
Não tenho mais nenhum ponto negativo para explorar. Engano, talvez tenha dois: por que a franquia ainda não foi localizada para português (vamos SEGA, a gente adora Yakuza) e quanto vamos ter que esperar pela chegada de Yakuza Kiwami 2 no ocidente?
Yakuza 6: The Song of Life chega exclusivamente para PlayStation 4 no dia 17 de abril e está disponível em pré-venda por R$ 209,90. Assinantes PS Plus tem 10% de desconto na pré-venda.
*Cópia fornecida pela desenvolvedora.