“Liberdade, igualdade e fraternidade“. Quem nunca ouviu falar dos lemas da Revolução Francesa certamente dormiu nas aulas de História (algo que explicaria muita coisa). Mas não se preocupe, We. The Revolution, game point-and-click produzido pela Polyslash e lançado pela Klabater para PC pode ensinar uma série de questões históricas, além de te colocar no papel de um juiz no período do Terror, onde cabeças rolavam (literalmente).
E quer saber o que eu, um historiador, achei desse título? Vista sua toalha, ou toga, e se prepare! É hora de mais uma review do Jornada Geek!
Contextualização histórica
Talvez a parte mais brilhante do jogo, a contextualização do jogo se passa no período do Terror, entre 1793 e 1794, onde os jacobinos liderados por Robespierre perseguem de forma implacável pessoas ligadas à monarquia antecedente e até mesmo jacobinos que discordem da violência explícita utilizada pelo grupo.
E é aí que nós entramos: encarnamos o papel de um juiz em meio a um período conturbado, tendo que fazer justiça ao tomar uma série de decisões como buscar desvendar as intrigas políticas do momento, e além disso, lidar com sua própria família, estando sempre na mira do jogo do poder. O pano de fundo é a Paris do século XVIII durante a Revolução. Nesse momento, você terá que agir além da moral, sendo um articulador entre o desejo do povo e dos jacobinos no poder. Caso a balança pese demais para um dos lados, a guilhotina pode ser seu triste fim, tal como nos eventos reais.
Um pouco sobre a jogabilidade
We. The Revolution tem uma jogabilidade bastante amigável, sendo praticamente feita por cliques, em que você dialoga com diversos personagens de sua família e dentro do contexto político e judicial. Aqui, vemos a figura de um homem em um cargo de importância que, ao mesmo tempo, vive a pressão constante de ser considerado um inimigo tanto pelo sistema, quanto pelo povo.
Um aspecto legal do jogo são os aspectos morais. Uma série de perguntas podem ser feitas aos réus e pessoas ao seu redor, algo que pode nos induzir a opiniões complexas, que refletem na forma com a qual montamos e julgamos o processo. Por vezes, temos de agir de forma politizada, isso é, observando as possibilidades disso impactar na balança entre os dois lados que se antagonizam no jogo do poder. Ou seja, ficamos em uma sinuca de bico que nos faz refletir além, claro, de aprender um bocado sobre o conturbado período revolucionário. Mas aqui há um problema, o jogo infelizmente não está em português, demandando um nível intermediário de inglês que fará toda a diferença para a compreensão do enredo e seus atos.
Outras questões
Em um jogo com enredo e estilo tão ricos quanto We. The Revolution, a qualidade gráfica não faz tanta diferença. Porém, seu estilo de arte, que mais se parece com pinturas, serve muito bem à ideia do Tribunal Revolucionário, cheio de controvérsias e medo. No início do jogo, percebe-se a “inauguração” de uma guilhotina, algo comemorado pelos revolucionários. A título de curiosidade, esse mecanismo de arrancar cabeças incrivelmente resistiu na França até 1977, persistindo quase 190 anos depois da Revolução. Bizarro!
Os diálogos durante as cutscenes são muito bem executados, mas ao longo dos julgamentos, infelizmente nos furtamos a ler apenas balões com as frases, algo um pouco frustrante em um game cujo as conversas são a base. Mas nem isso tira o brilho de We. The Revolution.
Veredito
Francamente, se você gostar de História, esse jogo é uma excelente pedida. Caso não goste, mas tenha interesse em uma trama cheia de sangue, medo e traições, também vale muito à pena. Seu enredo é extremamente bem desenvolvido, nos permitindo ter um controle interessante de cada situação. O personagem principal é, além de um juiz revolucionário, um pai, um cidadão francês, um marido, uma figura pública, um homem letrado. Enfim, é um indivíduo de certos privilégios, ao mesmo tempo, um homem como os outros e que terá que se articular entre trabalho, política e família. Aqui, o que mais vale é a história em sua totalidade, que é muito bem contada. Como historiador e apreciador de boas narrativas, super recomendo We. The Revolution!
O título também tem versões já confirmadas para Nintendo Switch, Xbox One e PlayStation 4, que chegarão nos próximos meses. We. The Revolution recebeu a nota 77 no Metacritic, algo que confesso achar injusto. Porém, compreendo que o estilo foge um pouco aos jogos AAA mais canônicos que contam cada vez mais com um acelerado nível de adrenalina.
*Cópia fornecida pela desenvolvedora.