De todas as redes sociais, o Twitter talvez seja aquela que melhor traduza a fugacidade da vida contemporânea. Tudo bem, o Instagram é o símbolo da autoexposição, com sua enxurrada de selfies, ou de um dadaísmo pós-moderno em que tudo pode ser encarado como arte, do copo do Starbucks até a foto das unhas com a ponta do esmalte descascada. O Facebook não fica atrás, nas timelines pelas quais se acompanha não pensamentos honestos ou vidas reais, mas opiniões modeladas de acordo com o que gostaríamos que os outros pensassem que temos, fragmentos prévia e deliberadamente solicitados para convencer os outros – e talvez a nós mesmos – de que temos uma vida digna não de ser necessariamente vivida, mas de ser postada. Uma vida feita… bem, para o próprio Facebook.
Mas o Twitter – esse mesmo Twitter no qual nasce e morre a maioria dos memes, onde autores de frases de efeito têm legiões de seguidores e onde é possível, sim, ficar bem informado, desde que as informações possam ser consumidas em pequenas pílulas – é o que esfrega em nossa cara, em toda a eloquência e brusca concisão de seus 140 caracteres, o quão efêmeras podem ser as relações humanas. E é justamente sobre relações construídas frase a frase na brevidade dessa rede que falam os livros Twittando o amor e Minta que me ama, editados no Brasil pela Novo Conceito.
No primeiro, a escritora Abigail Donovan, num bloqueio criativo para seu segundo livro, conhece o professor Mark Baynard pelo Twitter e descobre que é possível se apaixonar, mesmo sem nenhum encontro real além de mensagens curtas. No segundo, Jenny Breslin constrói um alterego charmoso e bem-sucedido na rede como forma de alívio para uma vida patética. Nas duas histórias, acompanhamos o confronto entre as dificuldades do mundo tangível e a ilusão propiciada pela internet, com a criação de outros mundos, outras realidades, outras vidas das quais gostaríamos muito mais do que da nossa própria.
Dos dois, Twittando o amor, da americana Teresa Medeiros, revela-se uma obra mais sensível. E até surpreendente. Em termos estruturais, mescla trechos narrados em primeira pessoa com mensagens trocadas por Abby e Mark pelo TweetDeck. Não é nada novo. Tampouco tão bem-sucedido como @mor ou mesmo Simplesmente acontece, mesmo porque, ao contrário desses dois, Twittando não consegue se sustentar apenas sobre o “epistolar” pós-moderno e, ao usar a possibilidade de diálogo privado do aplicativo, não explora o que o Twitter tem de mais característico: o dizer pouco para muitos. Ou, dependendo da relevância, para ninguém. Apesar disso, seu humor, por exemplo, é muito mais interessante e afiado que o de Minta que me ama, o qual não passa de “engraçadinho”. Abby e Mark são personagens inteligentes, irônicos e cativantes (ele, principalmente) e a narrativa ganha muito quando é conduzida apenas pela conversa virtual entre eles.
No mais, se nenhum dos dois romances pode ser considerado um supra-sumo em termos de literatura, ao menos trazem uma reflexão importante: numa sociedade cada vez mais conectada e com possibilidades de interação, por que a solidão parece cada vez maior?