Pra começar, dois avisos:
Aviso 1: quase não há spoilers neste texto. Dizer ‘quase’ significa que nenhuma grande revelação capaz de atrapalhar seu filme está contida aqui, mas se ainda assim você for pessoa preciosa quanto a detalhes, deixe pra ler o texto no final de semana, depois de ver o filme. Ah, não vai ver o novo Star Wars neste final de semana?! Você merece os spoilers, sinto muito.
Aviso 2: Cresci com Star Wars e estive tão ansioso pelo Episódio VII quanto estive pelo I, e já emendo este aviso na opinião que uma crítica pede. O Episódio I, como era história de uma criança, justifica um filme infantil, com um personagem de animação orelhudo (who must not be named) e um vilão que foi vendido como o pior do mundo e foi uma grande decepção. Depois, nos episódios II e III a trilogia cresceu e mostrou que a saga é realmente boa, num gran finale operístico a ser revisto tantas vezes. O Episódio VII tem pouca diferença, mas vamos lentamente pra não parecer uma crítica do lado negro.
J. J. Abrams é indubitavelmente um ótimo diretor de ação e ficção científica, e mostrou isso em Star Trek (não existe maniqueísmo, os dois podem viver em harmonia). Boa parte do que fez Star Trek brilhar ele repetiu em Star Wars. Existem movimentos de câmera, de nave (basta o trailer) e cenas de ação que são das mais frenéticas pra Star Wars, mas nada que o próprio diretor não tenha mostrado antes.
Foi também no segundo Star Trek que Abrams usou o que poderia ter sido o melhor vilão que já teve, e poderia, por idade e talento do ator, ter feito algo bem melhor (inclusive a voz, ou sobretudo a voz, que fica confusa de ser ouvida) no vilão de máscara negra. Por ser frágil, o ar adolescente toma conta de todo o filme, que tem algumas fragilidades bobas de diálogos, mas também boas sacadas e cenas interessantes (que não posso descrever pra não comprometer o leitor, ou minha vida). E tem a referência ao Predador quando o sujeito ganha as três marcas de sangue na cara… não resisti.
Claro, óbvio e evidente que é o filme a ser visto na próxima sessão de cinema disponível. No entanto, e voltamos ao início deste texto, temos um paralelo entre esta trilogia e a do Episódio I. É um primeiro episódio fraco pra uma trilogia que promete muito mais. E não, a culpa não é da Disney, embora ela venha à mente em algumas cenas. Pelo menos, se o que começou infantil acabou bem, o que começou adolescente pode acabar mais maduro.
A dificuldade, ao bom conhecedor de Star Wars, era óbvia. Fazer a trilogia que antecedeu Uma Nova Esperança tinha um ponto mais fácil: a história era conhecida, o autor do filme só tinha que saber contar. Neste caso, tanto a história quanto a forma de contar são novas e o público, que inclui uma geração a mais que a trilogia anterior, espera por tudo novo. Não encontra. Se a direção, embora boa, não inove pro conhecedor de Abrams, a história tem um grande pecado.
Pela primeira vez, todos podemos ver o filme na ordem certa. A maioria viu 4-5-6 e depois 1-2-3. Em todos eles, uma circunstância essencial era a política. Inegavelmente, em todos, mesmo no infantil I, o que move os filmes é a política. Existe sempre um emaranhado de tramas paralelas, como nos clássicos de Homero, e ao que insista em negar vou dar um exemplo. Episódio II, Ataque dos Clones: a verdadeira guerra dos clones, a ação principal, acontece em um desenho animado de pouco mais de uma hora lançado tempo depois. A porrada grossa não está no filme, mas ao longo dele sabemos que ela acontece. Boa jogada de transmídia.
No Episódio VII, tudo o que tem que acontecer segue diante do espectador. Existem muitas explicações a serem dadas sobre o que ocorreu antes e é resumido no letreiro que sobe no início, mas, em paralelo, nada. Tudo está em cena. O filme começa com um objetivo, muda pra outro e depois volta pro primeiro (não vou contar), às vezes sem alguma grande explicação. Nem a Força e todo o seu potencial podem ser usados como desculpas pra algumas coincidências (estou me coçando, mas não vou contar) e isso, infelizmente, empobrece o que poderia haver de melhor no filme: o roteiro. Dentro da fórmula inicial das duas outras trilogias, esta é a mais fraca em termos narrativos.
Em resumo, saiu Joseph Campbell pra entrar J. J. Abrams. A Força despertou, mas demorou muito escovando os dentes e lavando o rosto. É um grande filme de ação no universo da ficção científica, e não um grande filme de ficção científica com alguma ação, como os anteriores. É delicioso rever os heróis dos 6 filmes anteriores e acompanhar suas consequências, mas é um filme de soluções fáceis perto da expectativa que cria. O resultado? Expectativa ainda maior pros próximos.
De 1 a 5, nota 3.