Cinebiografias estão sempre ganhando o seu espaço no mercado Hollywoodiano. Basta olhar para o calendário anual para ter uma ideia de como tudo anda sendo desenvolvido, sempre com projetos dentro de tal perspectiva. Mas também é evidente um fato: essas histórias baseadas em fatos reais nunca conseguem contar toda a vida do seu protagonista, então um momento disso é definido, sendo utilizado exatamente o ponto mais importante de sua vida. Lincoln teve pelas mãos de Spielberg uma parte da Guerra de Secessão sendo abordada, enquanto Michael J.Foxx estrelou a cinebiografia que mostrou a infância e a ascensão de Ray Charles. São diversos pontos de vistas, para muitos nomes e situações. Agora, chegou a vez de Sniper Americano mostrar um pouco da vida daquele que é considerado um dos mais letais atiradores da história.
Antes de abordar o filme valem as ressalvas. Sim, ele gerou diversas polêmicas. Desde suas entrevistas o atirador Chris Kyle mostrava uma visão completamente patriota, com a ideia de matar o inimigo. Entretanto, o projeto cinematográfico não é contestado por isso. Na verdade, alguns artigos e matérias assumem que o mesmo escondeu fatos da vida do soldado, buscando mostrar apenas o melhor. É claro, nenhuma novidade até aqui. Para completar, deixando tudo isso de lado, a produção fez US$ 90 milhões de dólares em bilheteria no seu fim de semana de estreia nos EUA.
A trama começa mostrando Chris Kyle (Bradley Cooper) aproveitando sua vida no Texas e participando de diversos rodeios. Entretanto, sua vida muda após os atentados de 11 de setembro. Determinado em servir e proteger o país, logo o texano acaba passando por um intenso treinamento para se tornar um atirador de elite das forças especiais da marinha americana. É na mesma época que ele conhece Taya Renae (Sienna Miller), com quem se casa e começa a construir sua vida. Entretanto, com um dever a cumprir, ele passa a combater o inimigo em território iraquiano. Ao final, o membro dos SEALS ficou conhecido como uma verdadeira lenda entre seus companheiros, com mais de 160 mortes no currículo.
É claro, todos os aspectos do filme mostram muito do seu protagonista. Desde os primeiros minutos, a narrativa de Sniper Americano coloca Chris Kyle como uma lenda em ascensão, começando pelas lembranças da infância, passando pelo momento em que ele assistiu ao atentado de 2001 pela televisão e o seu treinamento, até os momentos de combate. É uma cinebiografia do homem patriota, sempre em busca de apenas ajudar o seu país. Entretanto, engana-se quem também tira a conclusão de que o roteiro fica apenas nisso. Não, a adaptação vai mais longe sob uma interessante direção de Clint Eastwood e o seu modo de conduzir uma história desde a sua fotografia. Além disso, a ambientação também ganha o seu destaque.
Com o verdadeiro objetivo de apresentar um grande herói, a produção explora até as lembranças de Chris Kyle para mostrar sua ligações com a honestidade e o simbolismo dos EUA. Em uma cena, na mesa do jantar, o pai já ensina que existem 3 tipos de pessoas: Lobos, Cordeiros e Cães Pastores. E ainda ressalta: o filho tem que ser o terceiro. Além disso, o famoso ditado de “Deus, Nação e Família” também se faz presente no desenvolver da trama. Como grande destaque em tela fica Bradley Cooper. A transformação de seu corpo ao ganhar 18 Kg é visível, além do mesmo realmente aparentar ser Chris Kyle, já que estudou todos os trejeitos e movimentos do soldado.
Uma verdadeira transformação de impacto, mas que mesmo assim ganha uma companhia interessante nas telas: Sienna Miller. A atriz não teve que passar pelo mesmo processo do protagonista, mas é sem dúvida um ponto importante do filme como Taya Kyle. Afinal, ela também acabou vivenciando todas as consequências do que aconteceu com o seu marido. Em tal contexto, ainda existe um processo de completa desumanização do soldado com a evolução do roteiro. É algo que vai chamando cada vez mais atenção através dos traumas que vão se fazendo presentes e de um verdadeiro caminho para o abismo de sentimentos. Entretanto, vale destacar a química do casal protagonista ao saber como retratar isso.
Todo o desenvolvimento de Sniper Americano tem dois grandes pontos para se destacar. O primeiro vai para Clint Eastwood, já que mesmo com o filme recheado de polêmicas e algumas falhas técnicas (por exemplo: o bebê falso) conseguiu sim passar uma visão do que Chris Kyle pensava, sabendo exatamente o que mostrar de sua infância e de como cuidar de todo o seu projeto para a desenvoltura do seu herói estadunidense. Afinal, dentro de todo o conteúdo mostrado, Kyle é realmente um herói. Entretanto, o outro ponto vai exatamente para o elenco já citado. Bradley Cooper é intenso com seu personagem e suas transformações de humor através da trama, enquanto Sienna Miller representa uma visão totalmente diferente, servindo realmente como aquela que pode mostrar para o marido ao tentar lhe ajudar que ele está com problemas.
Além disso, os dois personagens também tem visões claramente diferentes. O soldado é o guerreiro, o atirador, aquele que busca defender os seus amigos a todo custo no campo de batalha, enquanto a esposa é aquela que deve lembrar o mesmo de seus sentimentos, mostrar como a guerra lhe modificou e tentar trazer de volta aquele homem que conheceu. São pontos gritantes, tão visíveis, que fazem a produção ganhar força e o seu ar de um western moderno. Ambientes totalmente diferenciados entre lar e guerra também são utilizados para isso desde a primeira cena em combate do protagonista. Um ótimo projeto, merecedor de suas indicações ao Oscar, mesmo que não seja aquele que merece o prêmio.
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