Baseado no fenômeno pop dos anos 90, que dura até hoje, Power Rangers: Battle For The Grid, traz uma proposta há muito tempo não vista nos jogos dos guerreiros adolescentes: um jogo de luta multi-console. Que, de diversas maneiras, relembra muito a a série famosa.
Criado pela nWay como uma forma de celebrar os 25 anos da franquia, o jogo se apresenta de forma extremamente despretensiosa, emulando seu material de origem, que era uma série de baixo orçamento, que fazia o que podia e criava qualidade, mesmo frente à grandes restrições financeiras. Os gráficos e a jogabilidade são bem simples e há ausência de muito conteúdo esperado em um jogo de luta lançado em 2019. Mas como os Power Rangers da TV, o jogo é capaz de surpreender.
Limitações diversas
Desde o começo, nota-se que o título passa a sensação de estar incompleto. Existem apenas nove personagens jogáveis e cinco estágios, como o mesmo número de músicas e total falta de vozes na maioria dos personagens. Mesmo que haja o esforço admirável em deixar os lutadores distintos uns dos outros, ainda é muita pouca representatividade em uma franquia com 25 anos e centenas de personagens interessantes. O fato de o jogo ser em formato de lutas 3 x 3 não ajuda nesse departamento, ressaltando ainda mais a falta de elenco, que é capaz apenas de gerar três times distintos de combatentes, criando muita repetição de confrontos, seja contra a CPU ou um oponente humano.
Há muito pouco conteúdo disponível nos diferentes modos que o jogo apresenta. O modo arcade, por exemplo, tenta seguir a história recente dos quadrinhos, com o surgimento do Lorde Drakkon, uma contra-parte maligna do Power Ranger Verde, que destruiu os rangers de sua dimensão e criou um exército usando o poder de seus adversários caídos, mas meramente reserva linhas de diálogo entre lutadores e o vilão durante a última luta. O modo treino não tem funções de playback, tão comuns hoje em dia para o treino de combos e situações específicas, e o online também não é muito variado, possuindo apenas lutas ranqueadas e casuais, não contando com ferramentas simples e comuns, como os lobbies de multiplayer.
A esperança que surge no gameplay
Como já dito acima, as batalhas em Power Rangers: Battle For The Grid são travadas em combates de três contra três. Cada jogador escolhe um personagem principal e mais dois assistentes, que podem ser chamados para atacar o inimigo e ajudar a estender combos ou interromper os do oponente. Eles só podem aparecer uma vez antes de terem de esperar alguns segundos para atacar de novo, então é importante esperar o momento certo para utilizar a ajuda, seja de maneira ofensiva ou defensiva.
Cada personagem tem um ataque de assistência próprio, então é imperativo que se conheça todos para aproveitar ao máximo a sinergia que a habilidade de um lutador tem com o outro, além de entender o risco que o time inimigo apresenta. Além disso, há a opção de trocar de lutador durante esse movimento, adicionando uma ferramenta a mais para confundir os adversários, que deverão prever se você só chamou o assistente para uma ajuda momentânea, ou se vai trocar o atacante principal do time, deixando o anterior descansando e recuperando sua barra de vida.
A simplicidade antes citada se mantém com os controles. São quatro botões de ataque, três destinados a golpes fracos, médios e fortes, além de um que abriga os movimentos especiais de cada personagem. Tais técnicas são ativadas ao se combinar uma direção com o botão. Dessa forma, o jogo se torna bem acessível, sem exigir movimentos complexos do jogador.
Além de outras combinações de botões usadas para arremessar, usar golpes EX e acessar o movimento especial de cada personagem, existem os “Megazord Ultras”. Comandos que chamam, uma vez por partida, os robôs e monstros gigantes famosos da franquia, para auxiliar o jogador com ataques devastadores, que podem facilmente virar uma batalha e duram mais conforme o número lutadores ainda podem lutar. Assim, se adiciona um novo elemento estratégico, gastar sua ajuda em tamanho família cedo demais pode garantir a derrota de um membro importante do time adversário, ou deixar você indefeso quando estiver apenas com um combatente restante
No entanto, mesmo com os comandos simplificados, o gameplay pode se revelar complexo na prática. Os combos são fluidos, e pode-se combinar golpes de assistência para deixa-los ainda mais devastadores.
Embora existam apenas nove personagens, todos são bem variados. Por exemplo, Tommy, o Ranger verde original, que é um personagem balanceado, com um projetil e golpes anti-aéreos, Kat, que é uma lutadora voltada a ataques rápidos e combos, combatentes focados no combate a distância, como a Ranger Slayer e aqueles destinados a causar grande dano, em troca de ter baixa velocidade, como o monstro Goldar. Dessa forma, pode-se criar combinações de times interessantes, apesar do elenco de número reduzido.
Veredito
Power Rangers: Battle For The Grid é um jogo que consegue entregar uma experiência muito divertida, porém limitada. O título admite ser um projeto de baixo orçamento, refletido em seu preço, bem menor que dos AAA convencionais, mas isso não muda o fato de seu conteúdo ser altamente limitado. Até o fechamento dessa análise, um pacote gratuito com três novos lutadores e vozes para os personagens já foi anunciado. Um bom sinal, que demonstra comprometimento da desenvolvedora, mas ressalta outro problema dos jogos atuais, a dependência de DLC, e como um jogo pode ser lançado sem ser considerado completo até por quem o constrói.
De maneira geral, fica a sensação de potencial desperdiçado. Alcançaram um nível de jogabilidade extremamente acessível e divertido, mas com pouca substância. Resta torcer para que mais pacotes ao longo da vida do jogo possam mudar um pouco desse cenário.
Power Rangers: Battle for the Grid foi lançado para PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch, entre o fim de março e o começo de abril. Uma versão para PC, via Steam, também está confirmada e chega ainda no primeiro semestre. No Metacritic, o título alcançou 60 pontos na versão de Switch, a melhor até aqui.
*Review elaborado usando a versão de PS4 do jogo. Cópia fornecida pela desenvolvedora.