OUTLAST 2 | Cruzando linhas, criando traumas

Game trata de temas tabus e pesados de frente, sendo um dos títulos de terror mais atmosféricos dos últimos tempos

Outlast 2 é a sequência de Outlast, um game de terror criado pela desenvolvedora Red Barrels. O primeiro título foi um dos responsáveis, ao lado de Amnesia, por difundir o estilo de terror em primeira pessoa. Principalmente, aquele no qual podemos apenas fugir e nos esconder, sem ter como lutar contra ameaças.

Agora, temos a continuação da saga, ainda mais perturbadora e ambiciosa. Esse não é um jogo para todo mundo, e os temas são assustadores tanto quanto são repulsivos e pesados. Será que a experiência vale as imagens fortes e traumas relacionados com elas? Peguem suas câmeras e se preparem. É hora de mais uma análise de Jornada Geek.

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A estranha. A reportagem. O Inferno

Outlast 2 começa com um casal de repórteres indo para uma região isolada do Arizona em busca de uma matéria. Nosso protagonista é Blake Langermann, um câmera que trabalha junto com sua esposa Lynn. Eles vão em busca de pistas sobre uma grávida desconhecida que foi encontrada morta em uma estrada da região, e acabam se colocando em uma situação horrível. O helicóptero que estão cai nas montanhas, Lynn é levada por cultistas e precisamos encontrá-la.

O que se segue são cerca de oito horas de sofrimento, sangue, choque e imagens pesadas. Eu estou falando sério, Outlast 2 não é um jogo para pessoas sensíveis, que se impressionam com facilidade. O game toca em vários tabus como fanatismo, infanticídio, estupro, misoginia e religião. Vemos corpos de crianças mortas, bebês decepados, mulheres violentadas. Não é a toa que esse jogo foi banido em alguns países. A experiência é pesada e sádica, e isso cria uma atmosfera única, destrutiva e marcante.

Eu estou acostumado a jogos de terror, filmes, mangás e afins. E afirmo que Outlast 2 foi um dos poucos que conseguiu captar minha atenção e me deixar realmente desconfortável.

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“E o quarto anjo derramou a sua taça sobre o sol, e foi-lhe permitido que abrasasse os homens com fogo.” (Fonte: Reprodução)

As imagens de dor e sofrimento, a beira do abismo.

Assim como no primeiro game, não controlamos um herói. Blake é agil, corre, pula e só. Ele não pode lutar, então ser encontrado por inimigos é morte quase certa. Felizmente, nossa câmera nos permite ver no escuro, enxergar com zoom e ouvir em longas distâncias. Além disso, podemos nos esconder em vários lugares e usar stealth. Esse é um jogo onde passamos grande parte do tempo correndo de malucos e vendo nosso protagonista apanhar e se sujar. O game é muito bem detalhado, e podemos ver os efeitos da experiência no corpo de Blake.

Ele fica sujo, ensanguentado, cortado. Tudo em primeira pessoa. Outra coisa legal é o inventário. Ao apertar o botão de menu, ele olha para baixo. Com isso, vemos os bolsos da camisa onde ficam guardadas as baterias da câmera e curativos. Essa câmera é nossa única arma, e a parte em que a perdemos é a mais tensa do jogo. Tudo é muito escuro, e ficar sem enxergar é morte na certa.

Não houveram grandes adições quanto a mecânicas, mas tudo que foi bem implementado no game anterior está intacto aqui. A única coisa que não gostei é que não temos vilões marcantes. Todos são introduzidos e retirados rapidamente, sem tempo para cravarem uma impressão como ocorreu no primeiro com o maluco Trager, por exemplo.

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“E foi o primeiro, e derramou a sua taça sobre a terra, e fez-se uma chaga má e maligna nos homens que tinham o sinal da besta e que adoravam a sua imagem.” (Fonte: Reprodução)

Os gritos, o choro. O som da loucura.

A trilha sonora do game ficou impecável. Assinada por Samuel Laflamme, ela pontua muito bem os momentos de terror com as partes frenéticas onde temos que fugir de nossos perseguidores. Nos momentos mais “tranquilos”, ela ajuda a construir e manter a tensão constante. Muito boa, e cai como uma luva na temática.

Outra coisa legal é a funcionalidade de áudio da câmera. Podemos usá-la para ouvir através de paredes e em distâncias maiores, o que ajuda demais na hora de ver se é seguro ir para determinado lugar ou não. Uma parte do game, em um milharal, usa isso de forma maestral. Só vemos milho, nem a visão noturna da câmera ajuda. Logo, temos apenas o som para nos orientar e sair da frente dos inimigos. Boa mecânica, de fato.

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“Já tive o bastante, Senhor. Tira a minha vida; não sou melhor do que os meus antepassados” (Fonte: Reprodução)

A testemunha final do dia do juízo

Uma coisa sensacional que foi adicionada em Outlast 2 foram os colecionáveis em formas de vídeo. Algumas cenas podem ser gravadas, e são identificadas por um círculo vermelho que vai se enchendo. Após a gravação, podemos rever todas e ouvir um comentário do Blake sobre o que ele viu. O legal é que, conforme o tempo passa, podemos notar como ele vai ficando perturbado. Essa perda de sanidade é muito bem feita, e pinta um personagem muito mais humano.

Um de meus maiores problemas com Resident Evil 7 era como o Ethan ficava indiferente ao que ocorria, inclusive perder membros do corpo e ver horrores e mortes. Aqui não há nada disso. O protagonista está constantemente ofegante e com medo, e pira a cabeça quando sofre alguns machucados sérios. Fica mais “acreditável”, e tira a sensação que estamos controlando um personagem de videogame. Isso ajuda demais na criação da atmosfera opressora pela qual o game é conhecido.

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“E seu evangelho veio em forma de vídeo. Pois ele era um profeta do novo mundo.” (Fonte: Reprodução)

O salário do pecado é a morte

O game é bom. Pra caramba. Mas não é perfeito. A história, ainda que bem contada e atmosférica, deixa muito a desejar com sua conclusão. Não que não seja impactante, porque é, mas  sim por deixar muitos pontos em aberto e sem explicação. Eu passei o game inteiro me perguntando coisas, apenas para o final deixar tudo sem resolução. Tudo termina com um gancho claro para sequências e DLC’s, e espero ver essas questões esclarecidas para frente. Não é ruim, mas deixa um gosto azedo na boca.

Outra coisa que senti falta, como disse, foram de vilões mais marcantes. Nenhum tem presença o suficiente para se destacar, e não ficam em cena o tempo necessário para ser uma ameaça maior que algo de alguns minutos. Nisso o primeiro foi muito superior, e a sequência deu um passo atrás.

Por fim, algumas partes são confusas de entender. Ficamos sem saber para onde ir ou o que fazer, e isso acabando caindo em tentativa e erro até acertar o caminho. Não ocorre sempre, mas alguns pontos acabam se tornando frustrantes.

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“Se um homem ferir alguém com um objeto de ferro de modo que essa pessoa morra, ele é assassino; o assassino terá que ser executado.” (Fonte: Reprodução)

O dia do juízo final

Em suma? Jogue Outlast 2. Mais ainda se for um fã de terror e jogos que não tem medo de sair do lugar comum e tratar de temas polêmicos. O jogo é pesado, repulsivo e revoltante como as temáticas e os cultos que os desenvolvedores se basearam para tecer a narrativa. Não é para todos, mas é algo que realmente não vemos sempre.

Eu não falarei muito da história, pois descobrir e se perguntar é parte importante da experiência. Mas adianto, aproveitem o tempo para observar o mundo e ler todos os documentos. E gravem tudo que puderem. Alguns textos são de arrepiar a espinha, e ajudam demais a aumentar a imersão e criar momentos únicos.

Vilões fracos, buracos na história e algumas decisões de design mal feitas fazem pouco para tirar o brilho de Outlast 2. Ele é um jogo que te trata como faz com o próprio protagonista. Ele nos pega pela cabeça e esfrega nossa cara nas verdades e dificuldades do cenário. Na loucura e no abuso. Ele não tem pena, e se exalta em fazer com que fiquemos acuados e apreensivos. Outlast não tem pena, não perdoa e não esquece. E a experiência se torna inesquecível por conta disso.

Nota ótimo

*Review elaborado usando a versão de PC do jogo. Cópia fornecida pela desenvolvedora.

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