Com a temporada de premiações cinematográficas tendo sido finalizada, o filme Roma acabou vencendo 3 estatuetas durante a 91ª edição do Oscar. Contudo, uma polêmica surgiu ao longo dos últimos dias ao indicar o início de uma verdadeira batalha entre Steven Spielberg e a Netflix.
Segundo informações do site IndieWire, o icônico cineasta está atualmente travando uma batalha nos bastidores cinematográficos contra a gigante do streaming. O motivo? Ele acredita que a empresa não cumpre as regras impostas pela academia para concorrer ao maior prêmio do cinema.
“Steven acredita fortemente que existe uma diferença entre a situação de streaming e cinema. Ele ficará feliz se os outros (cineastas) se juntarem a sua campanha quando isso acontecer na reunião do Conselho de Governadores da Academia. Ele vai ver o que acontece”, afirmou um porta voz da Amblin.
A reunião em questão acontecerá em abril, quando o cineasta pretende propor algumas mudanças para que um filme seja elegível ao prêmio, além de destacar pontos de que a Netflix não está seguindo todas as regras necessárias para participar do mesmo.
Alguns dos pontos levantados pelo cineasta, de acordo com a publicação, são os seguintes:
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- A Netflix gastou muito em sua campanha nos bastidores para o prêmio. Um estrategista do Oscar estimou que “Roma” teve um investimento de US$ 50 milhões em gastos com o Oscar, enquanto Green Book teve cerca de US$ 5 milhões investidos em sua campanha. (O New York Times informou que foram gastos US$ 25 milhões, enquanto a Netflix insiste que este valor foi gasto dentro do seu orçamento de marketing).
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- O massivo impulso de “Roma” esmagou os distribuidores de língua estrangeira. O co-presidente da Sony Pictures Classics, Michael Barker, afirmou que não tem opções financeiras a não ser lançar os indicados ao Oscar “Never Look Away” e “Cafarnaum” quando os cinemas forem abertos após as férias, o que significou menos eleitores da Academia.
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- “Roma” só passou três semanas nos cinemas em uma quantidade limitada de salas.
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- A Netflix não reporta bilheteria.
- A Netflix não respeita a janela cinematográfica de 90 dias para lançar o filme em home vídeo.
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- Os filmes da Netflix estão disponíveis em 190 países, 24 horas por dia, 7 dias por semana.
O cineasta já declarou anteriormente que não aprova filmes da Netflix concorrendo ao Oscar, principalmente por acreditar que eles são feitos para TV. Com isso, o mesmo então acredita que os projetos deveriam concorrer ao Emmy, na categoria indicada para filmes de TV.
Vale sempre destacar que a questão envolvendo a bilheteria dos filmes não afeta em nada uma indicação ao prêmio, o que pode ser algo equivocado na visão do cineasta. Entretanto, a sua ideia é sugerir na próxima reunião que estabeleçam um maior tempo de exibição para que um filme concorra ao Oscar, já que atualmente basta estar há 1 semana nos cinemas para que o projeto se torne elegível.
Entretanto, tal mudança também seria prejudicial para os grandes estúdios, já que basicamente eles teriam que mudar suas estratégias de lançamentos. Um filme lançado no Natal, por exemplo, estaria fora da corrida pelo maior prêmio do cinema, algo que hoje não acontece.
Contudo, ao final de uma análise, parece que Spielberg simplesmente deseja que os filmes sejam exibidos no cinema de forma exclusiva, e por mais tempo, para que assim possam concorrer ao prêmio.
Por sua vez, presente do outro lado da questão, o cineasta Alfonso Cuarón, defendeu a presenta da empresa de streaming na premiação. Na ocasião (via Screen Rant), o mesmo explicou a visão estratégica da Netflix no caso de Roma, defendendo a presença por um tempo menor nas salas de cinema e em menos quantidade:
“É preciso haver uma maior diversidade na forma como lançamos nossos filmes. Os modelos de distribuição precisam ser mais flexíveis, dependendo do filme. Não é possível impor a estratégia de lançamento de um filme em um filme menor. Você pode precisar de menos salas de exibição e ou modelos em que a chamada janela é mais curta. Estamos pensando em um único paradigma. É um momento para começar a abrir paradigmas. Agora mesmo é um confronto entre modelos econômicos. Não é como um modelo que beneficia cinema, e o outro não.”
Em uma postagem no seu twitter, a Netflix apresentou a sua posição sobre os argumentos de Spielberg:
We love cinema. Here are some things we also love:
-Access for people who can’t always afford, or live in towns without, theaters
-Letting everyone, everywhere enjoy releases at the same time
-Giving filmmakers more ways to share artThese things are not mutually exclusive.
— Netflix Film (@NetflixFilm) March 4, 2019
“Adoramos cinema.
Aqui estão algumas coisas que também amamos:
– Acesso para pessoas que não podem sempre pagar, ou vivem em cidades sem cinema
– Deixar todos, em todos os lugares, desfrutar de lançamentos ao mesmo tempo;
– Dar aos cineastas mais maneiras de compartilhar arte. Essas coisas não são mutuamente exclusivas.
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Como essa batalha vai acabar? Bem, não temos ideia. A Academia pode acabar mudando suas regras, ou não. A resposta deve vir somente nos próximos meses, possivelmente até mesmo em abril. Ainda assim, vale destacar que a questão não envolve somente Spielberg, mas também o receio de parte da indústria cinematográfica que atualmente ainda não aceitou muito bem o formato de trabalho da Netflix.
Vale ainda citar que o próprio Spielberg tem contratos do seu estúdio, Amblin, com a Netflix. E justamente um dos projetos produzidos pelo seu estúdio para o serviço de streaming é A Maldição da Residência Hill, que atualmente caminha para uma segunda temporada sob o nome de A Maldição da Mansão Bly.
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