O REINO SECRETO DE TODD | LITERATURA

O Reino Secreto de Todd
O Reino Secreto de Todd

Debaixo da cama de um quarto bagunçado podem surgir as mais surpreendentes criaturas: monstros que puxam o pé de noite, seres rastejantes capazes de devorar um animal de estimação se ele passar por ali ou sombras que velam o sono e esperam pelo pesadelo certo para roubar sua alma. Algo ainda mais fantástico pode acontecer se no meio da bagunça estiver a meia suja usada durante meses para praticar esportes. Foi o que aconteceu com Todd, menino de 12 anos que encontrou uma nova raça de pequenos hominídeos vivendo em sua meia, alimentados por pedaços de pele e adorando seu chulé.

Enquanto o pequeno estudante mostrava para sua vizinha chata Lucy as minúsculas criaturas, toda a espécie de novos seres o idolatrava como se ele fosse seu deus, o grande e poderoso Todd. Só que Todd nunca foi grande ou poderoso: seus amigos eram os fracotes que gostavam de brincar de Dragon Sensei, seriado com monstros poderosos que lutavam entre si. Por isso, quando Max, o grandão da turma, chegou de repente em seu quarto, ficou assustado.

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Max descobriu os pequenos toddlianos e resolveu que ia treiná-los para serem apresentados como número de circo no projeto de ciências, uma garantia para a nota 10, e seria a dupla de Todd. Ou seja: ter que cuidar de um monte de pequenos seres que o chamavam de todo poderoso já seria difícil, com Max em sua cola, pior ainda. E o grandão levou a meia para casa, deixando Todd sem saber o que fazer para recuperar seus súditos. Estava dada a largada para toda a confusão.

Os toddlianos são criaturas inteligentes, que se desenvolvem rapidamente e aprendem com muita facilidade, por isso trazem sempre citações ao que ouvem e veem do mundo humano, principalmente cinema e televisão, porque Max os deixa na frente do aparelho a noite toda. Perséfone, por exemplo, vira fã de John Wayne e fala como ele em sua busca por justiça. Lewis, o mais sensato dos pequenos, é também espirituoso em sua ingenuidade. É dele uma das melhores tiradas do livro. Depois de ficar afastado dos pequenos, Todd consegue salvar Lewis, que explica:

Max está nos vendendo como escravos para seus amigos. Ele diz que somos “mordomos”, mas assistimos à televisão o bastante na noite passada para aprender que mordomos têm sotaques diferentes e trabalham num lugar lindo chamado Downton Abbey. Escravos são maltratados e vivem numa terra cheia de ventos e devastada pela guerra chamada Tara.

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Com referências à cultura de massa e um pouco do cotidiano infantil, Louise Galveston é feliz ao mostrar as histórias e desventuras de um jovem que é incapaz de manter vivo seu caranguejo de estimação, mas de repente se vê diante da responsabilidade de resgatar toda uma civilização. O fantástico se une ao dia-a-dia para contar os problemas das relações na escola.

Se nos últimos capítulos as situações começam a parecer forçadas, os personagens não perdem consistência e o livro consegue seguir até o final, que tem como maior pecado apenas o último capítulo, longo demais para dizer nada. Poderia ter explorado um pouco mais o novo amigo que vai à festa, mas melhor não comentar isso aqui para não estragar a leitura, que também esbarra em falhas de revisão.

O selo #irado continua se mostrando uma escolha acertada da editora Novo Conceito, que constrói a cada livro uma boa marca para atrair leitores jovens interessados em diversão. Mesmo a história acontecendo numa escola americana, as relações humanas são universais e muitos, principalmente os pequenos, vão se identificar. E vale a pena procurar debaixo da cama, dentro da meia, para ver se não existe uma nova forma de vida se alastrando pelo quarto. Ou arrume tudo antes que isso aconteça.

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