Classificação:
Existem filmes em que a intenção é melhor que o produto, onde uma boa idéia não consegue ser totalmente transportada para um bom roteiro. E seguindo essa linha, Marcas do Passado, de Claudia Llosa, lançado aqui no Brasil diretamente para a versão HOME VÍDEO, tem até momentos em que consegue genuinamente emanar emoção e despertar a curiosidade do público. Entretanto peca por não dar importância a detalhes dos quais todos desejam saber, deixando aquela incômoda sensação de alguma coisa está faltando.
Vinte anos depois de ter abandonado seu filho e de passar por inúmeras dificuldades, Nana Kunning (Jennifer Connelly) consegue se estabelecer como uma terapeuta renomada e curadora. Só que uma jovem jornalista, Jannia (Mélanie Laurent), está determinada a investigar o destino do filho distante de Nana, Ivan (Cillian Murphy). Nesse processo ela descobre que os laços que os afastam passa por uma grande tragédia.
A diretora peruana Claudia Llosa despontou para o mundo com seu excelente filme-denúncia A Teta Assustada (2008), e depois se colocou em suspensão artística no cinema. Quando esse seu novo projeto surgiu, muito se esperava dele. Porém, ao contrário de sua obra anterior, seu Marcas do Passado não consegue ser equilibrado, pois se escora em belas imagens e boa direção de cena, mas se perde na construção do roteiro que por vezes parece mutilado, sem uma construção lógica que ligue o início e o meio, com o fim.
As sequências seguem a narrativa de construção elíptica, os eventos vem e vão, desconstroem a ordem cronológica, e isso torna a curiosidade em torno dos motivos que justificam o sabido abandono algo que realmente prende a atenção. Somos pegos numa névoa gélida, em que os acontecimentos não são icônicos, e em momento algum, algumas características peculiares, como o fato de Ivan ser um falcoeiro, poderiam ter ganhado um pouco mais de profundidade. Perde-se assim grande oportunidade de ter aquele algo a mais que valorizaria o drama.
Não se pode negar que Claudia Llosa tem um talento peculiar na direção. Ela induz um intimismo suave, que nem torna as cenas desgastantes demais e muito menos desperdiça as boas atuações de Jennifer Connelly e Cillian Murphy. Contudo, não consegue se manter num ritmo constante, pois, como já dito, o roteiro se perde em sua parte final, deixando muitas pontas soltas que não são ligadas. Parece que não houve uma idéia interessante que deixasse o final mais plausível.
No fim, a sensação de que o filme poderia nos entregar muito mais do que nos mostrou é óbvia. Talvez um excesso de preciosismo de Claudia Llosa, ou mesmo uma falta de criatividade para criar um fim, Marcas do Passado acaba sendo uma obra que justificou o porque não conseguiu distribuição para os cinemas no Brasil. Não valeria uma hora e meia de projeção na tela grande. E, vendo o potencial quando se lê a sinopse, é uma pena