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Uma das histórias mais narradas no mundo multimídia é a vida e morte do ex-presidente americano John F. Kennedy, que foi assassinado com um tiro na cabeça enquanto desfilava em carro aberto na cidade de Dallas, no Texas, em 1963. Entre os mais famosos relatos estão o ótimo JFK – A Pergunta Que Não Quer Calar (1991) de Oliver Stone e a premiada minissérie Os Kennedys, que foi ao ar em 2011. Porém, existia mais a contar, e Jackie traz um relato melancólico dos dias posteriores ao assassinato pela ótica de Jackeline Kennedy, a primeira-dama que marcou época e ajudou a consolidar JFK como um dos mais famosos presidentes americanos.
Quando um tiro disparado por Lee Oswald cortou o ar e acertou a cabeça de John Kennedy (Caspar Phillipson), Jackeline Kennedy (Natalie Portman, esplêndida) se viu mergulhada em um inferno pessoal, ao ter de aguentar o peso do luto e se responsabilizar pelo funeral do marido. Ela não queria que ele fosse apenas mais um e sim fosse devidamente imortalizado na história americana.
Com certeza a trama de Jackie, escrita por Noah Oppenheim, impressiona pela forma intimista como somos lançados na atmosfera fúnebre e amarga que rodeiam a primeira-dama após o incidente. Mesmo que não venha de grandes filmes (Maze Runner e Convergente), o roteirista consegue ser objetivo, mas não deixa que o filme caia no óbvio de uma história mundialmente conhecida e filmada. Na complexidade dos sentimentos que recaem sobre os ombros da protagonista, não conseguimos compreender, logo de início, se ela é uma amorosa e dedicada esposa, ou excêntrica e vaidosa. Porém, ao poucos as motivações dela vão ficando subjetivas, cabendo a cada um uma interpretação pessoal dos fatos.
Pablo Larráin, em seu primeiro trabalho em língua inglesa, abraça o projeto na mesma competência com que impressionou público e crítica com Tony Manero (2008), No (2012), O Clube (2015) e no recente Neruda (2016). Aqui, explora novamente o comportamento humano como o ponto de partida para contar sua história. Pode ser que às vezes o filme soe excessivamente complexo e acabe por afastar aqueles que não sejam tão acostumados ao cinema subjetivo, que se desenrole sobre uma montagem lenta e não linear. Mas, quem conseguir se manter atento às nuances da personalidade de Jackeline, por vezes contraditória, vai se deleitar ao som da ótima trilha sonora de Mica Levi.
Mesmo que não seja tão parecida com a personagem real, Natalie Portman entrega uma atuação espetacular ao conseguir passar ao público muito do comportamento da ex-primeira-dama, seja na fala ou nos simples gestos. Sua indicação ao Oscar de melhor atriz foi mais do que merecida e sua (improvável) vitória na próxima cerimônia da Academia não seria nenhum absurdo.
É bem provável que grande parte do público não conseguirá enxergar em Jackie um grande filme e até acha-lo chato em demasia. Mas, é um grande filme, um estudo de personalidade que mostrará que os mitos são formados muito mais pelo que falam deles do que eles tenham feito na verdade. Só de saber que até na menor das cidades do Brasil é possível em sua grande maioria encontrar uma rua Presidente Kennedy faz da epopeia de Jackeline algo excepcional. Só por isso já merecia ser visto.