Angelina Jolie chiou por seu Invencível ter sido deixado de lado na temporada de premiações em 2015. Quando se esperava uma enxurrada de indicações ao Oscar, teve de se contentar com as nomeações de consolação em Edição e Mixagem de som, além da excelente fotografia de Roger Deakins, aliás, a melhor coisa do filme. Bem, mas ela não pode reclamar, já que ao menos o longa não deu prejuízo nos cinemas. Agora, com o seu lançamento em DVD / Blu-ray e sem contar com a necessidade e expectativa em concorrer aos grandes prêmios cinematográficos, espera-se que a trama amoleça os olhares mais críticos e a bela história de superação de Louis Zamperini seja mais apreciada.
Invencível conta a indelével trajetória de Louis Zamperini (Jack O’Connell), filho de imigrantes italianos, problemático em infância, mas que, com o apoio do irmão mais velho se torna corredor, e mais tarde, campeão olímpico nas Olimpíadas de Berlim em 1936. No exército, Zamperini é mandado para combater na 2ª Guerra Mundial, onde, ao lado de seus companheiros Phil (Domhnall Gleeson) e Mac (Finn Wittrock) ficam à deriva no mar em um bote durante quarenta e cinco dias após a queda do avião onde estavam. Encontrados pelos japoneses, além de enfrentar as mais variadas torturas, Zamperini tem de suportar o ódio que o comandante do campo de concentração, Watanabe (Miyavi), sente por ele.
O que se percebe acompanhando as pouco mais de duas horas de duração do longa é que nada foi nos passado, seja de forma direta ou indireta. Acompanhamos as desventuras de Zamperini, tá, e daí? O roteiro escrito a muitas mãos, sendo que entre eles estão os Irmãos Coen, apenas passa dados e fatos, nada mais. É como se filmassem o que está escrito em uma página do Wikipédia. Tudo bem que o início é promissor, mesmo que manjado, com o Louis adulto já mergulhado no inferno da guerra, com flashbacks trazendo aos poucos sua infância e adolescência ao conhecimento de todos. Mas, para por aí. Da metade para frente o que vemos é apenas Zamperini se superando, derrotando adversários somente com sua perseverança, sem nenhuma atribulação, sem conflitos internos, apenas um maniqueísmo mal desenvolvido.
Angelina Jolie tentou andar mais que as pernas, tentando jogar com as imagens, elevar as expectativas (oscarizáveis?), mas não se preparou para isso. Em seu primeiro filme como diretora, ela até conseguiu achar um meio termo no irregular Na Terra de Sangue e Mel (2011), onde, também em um ambiente de guerra, a da Bósnia, encontra uma direção narrativa contundente para o romance central. Aqui não acontece o mesmo, já que, tirando a crueldade (também mal explicada) do jovem comandante japonês pelo protagonista, nenhuma ação produz uma reação que seja passível de tanta inspiração. Não existem coadjuvantes, não descobrimos como reagiram os familiares após sumiço e nem a comoção em seu país, apenas o bem contra o mau, chato e pueril.
E por fim, tudo se perde, os flashbacks nos deixam com mais interrogações, os atores, que até desempenham bons papéis são arremessados às indecisões de Jolie. Se não fossem os ótimos trabalhos da produção, principalmente a fotografia insinuante do sempre competente Roger Deakins (que poderia muito bem ter saído cm o Oscar), Invencível não seria um filme digno da grandiosidade da vida de Louis Zamperini, e provavelmente seria um retumbante fracasso que poderia fazer a atriz/diretora repensar a nova função em que está se embrenhando. Talvez devesse começar menos presunçosa, didática mesmo, para depois se aperfeiçoar e dar passos que a perna possa suportar.