As cinebiografias são usadas praticamente sobre o mesmo arcabouço pela maioria dos diretores que temos hoje em dia: Tem o herói, seja ele um mito da música, um grande ator ou atriz, uma personalidade do esporte, da vida, da guerra, ou seja, o mocinho. Aí vem o drama de vida, que sempre deságuam em dramas profundos, e por fim, a redenção. Porém, existem aqueles que conseguem impor uma narrativa própria, que seja brilhante mesmo sendo convencional, e comovente sem que carregue no folhetinesco. E Angelina Jolie, em seu segundo trabalho como diretora, tenta inovar, trazer algo de subjetivo e ousado, com uma boa história e bons roteiristas. Mas a falta de experiência pesa e a sra. Pitt acaba em um meio termo nebuloso, inconcluso e sem graça, no qual nem a pieguice seria capaz de salvar.
Invencível conta a indelével trajetória de Louis Zamperini (Jack O’Connell), filho de imigrantes italianos, problemático em infância, mas que, com o apoio do irmão mais velho se torna corredor, e mais tarde, campeão olímpico nas Olimpíadas de Berlim em 1936. No exército, Zamperini é mandado para combater na 2ª Guerra Mundial, onde, ao lado de seus companheiros Phil (Domhnall Gleeson) e Mac (Finn Wittrock) ficam à deriva no mar em um bote durante quarenta e cinco dias após a queda do avião onde estavam. Encontrados pelos japoneses, além de enfrentar as mais variadas torturas, Zamperini tem de suportar o ódio que o comandante do campo de concentração, Watanabe (Miyavi), sente por ele.
O que se percebe acompanhando as pouco mais de duas horas de duração do longa é que nada foi nos passado, seja de forma direta ou indireta. Acompanhamos as desventuras de Zamperini, ta, e daí? O roteiro escrito a oito mãos muitas mãos, sendo que entre eles estão os Irmãos Coen, apenas passa dados e fatos, nada mais. É como se filmassem o que está escrito em uma página do Wikipédia. Tudo bem que o início é promissor, mesmo que manjado, com o Louis adulto já mergulhado no inferno da guerra, com flashbacks trazendo aos poucos sua infância e adolescência ao conhecimento de todos. Mas, para por aí. Da metade para frente o que vemos é apenas Zamperini se superando, derrotando adversários somente com sua perseverança, sem nenhuma atribulação, sem conflitos internos, apenas um maniqueísmo mal desenvolvido.
Angelina Jolie tentou andar mais que as pernas, tentando jogar com as imagens, elevar as expectativas (oscarizáveis?), mas não se preparou para isso. Em seu primeiro filme como diretora, ela até consegue achar um meio termo no irregular Na Terra de Sangue e Mel (2011), onde, também em um ambiente de guerra, a da Bósnia, encontra uma direção narrativa contundente para o romance central. Aqui não acontece o mesmo, já que, tirando a crueldade (também mal explicada) do jovem comandante japonês pelo protagonista, nenhuma ação produz uma reação que seja passível de tanta inspiração. Não existe coadjuvantes, não descobrimos como reagiram os familiares após sumiço e nem a comoção em seu país, apenas o bem contra o mau, chato e pueril.
E por fim, tudo se perde, os flashbacks nos deixam com mais interrogações, os atores, que até desempenham bons papéis são arremessados às indecisões de Jolie. Se não fossem os ótimos trabalhos da produção, inclusive a trilha sonora de Alexandre Desplat e a fotografia insinuante do sempre competente Roger Deakins, Invencível não seria um filme digno nem de 10% da grandiosidade da vida de Louis Zamperini. e provavelmente seria um retumbante fracasso que poderia fazer a atriz repensar a nova função em que está se embrenhando. Para sorte dela, a vitória do homem sobre adversidades ainda cativa e leva aos cinemas, mas, da próxima, quem sabe a mocinha não prefira o redondinho, o comum, o “feijão-com-arroz’ mesmo.
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