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Jason Reitman estourou para o mundo com o sucesso indie Juno, em 2007, em que tratava de forma bem-humorada de uma menina que engravida na primeira relação sexual e decide doar seu filho para um casal. Dessa forma conseguiu o mesmo sucesso em Amor sem Escalas (2009). Porém, apesar de competente, seu Jovens adultos (2011) não conseguiu despertar a atenção tanto do público quanto da crítica, assim como Reféns da Paixão. Agora, apostou em uma história moderna sobre relações humanas modernas em Homens, Mulheres & Filhos, que teve uma recepção dividida, onde a mesma dicotomia que forma o arcabouço da trama define a opinião da crítica: tem histórias interessantes que prendem a atenção, mas outras que causam enfado e atrapalham um resultado melhor. Ainda assim, vale à pena conferir.
A história entrelaça a vida de várias pessoas: um casal (Rosemarie DeWitte e Adam Sandler) que passa por uma crise no casamento e tenta reencontrar a paixão com relações extraconjugais. Um casal de adolescentes (Anse Elgort e Kaitilyn Denver) que buscam se encontrar e também a compreensão de seus pais. Uma mãe superprotetora (Jennifer Garner). Uma permissiva (Judy Greer). Um pai (Dean Norris) que busca se recuperar da rejeição da esposa que fugiu com outro. Uma adolescente (Elena Kampouris) que sofre de bulimia que faz de tudo para conquistar um garoto mais velho. Em meio a tudo isso a internet, a tecnologia, a vida,o amor ou a falta dele. Tudo o que importa, ou não.
É sempre interessante ver na tela algo que nos é tão próximo, que faz parte do nosso dia a dia, que nos deixam como personagens da história que está sendo contada. Assim, o roteiro de Jason Reitman, adaptado da obra de Chad Kultgen, ganha o público, ainda mais quando traz o artifício visual para ilustrar a conexão virtuais a que as pessoas estão presas a todo o tempo. Adicionado a isso está um estudo interessante do comportamento das pessoas, de como seu estado de espírito está diretamente ligado ao grau de inserção a esse mundo imaginário. Como se somente através da tela de um computador, smartfones ou celular é que pode ser ela de verdade, sem máscaras ou convenções sociais.
Reitman ainda tenta fazer uma ligação interessante entre a liberação sexual da sociedade contemporânea com o avanço nas formas de relacionamentos online, bem representado na melhor subtrama do filme com belas atuações de Rosemarie DeWitte e Adam Sandler (que se segura bem em um papel dramático). Ainda assim, tenta reservar uma parte à inocência, ao amor verdadeiro que nasce mesmo quando a sociedade parece ansiar pela sua extinção. Aí mais uma vez o filme conta com boas atuações, agora do promissor Ansel Elgort e da jovem Kaitilyn Denver.
Entretanto, o contrabalanço da história, que fica a cargo de tramas como a da mãe superprotetora vivida por Jennifer Garner, que mantém vigia todas a “tecladas” da filha, poderia ser melhor explorada, assim como a promiscuidade prematura do menino de apenas 15 anos (Travis Tope) que é viciado em pornografia, e da adolescente que tenta conquistar um rapaz lhe oferecendo sexo. Essas história até tem um bom desenvolvimento, mas, no momento final passam desapercebidas, sem um desdobramento satisfatório e contundente.
Mesmo que não tenha atingido o mesmo sucesso de seus primeiros filmes, Jason Reitman tem o mérito de se manter fiel ao seu cinema. Forma como adiciona humor e melancolia ao seu estudo do comportamento humano, seja em situações limite, ou em vivências cotidianas pode ser entendido como uma grande obra em construção, uma forma de que no “fim de tudo”. E pode até ser que produções como este seu Homens, Mulheres & Filhos se tornem bem mais que uma simples visão paranoica de um mundo em desconstrução ideológica.