FE | A tentativa da EA de mergulhar nos indies

É claro quando um título se preocupa em entregar uma boa experiência para os jogadores

Anos atrás, jogos indies não eram levados a sério, sendo taxados como casuais demais e comparados a jogos de smartphone, com o objetivo apenas de passar o tempo na fila do banco. Grandes produtoras nem perdiam seu tempo investindo pouco no que, teoricamente, retornaria pouco. Deixavam isso para os pequenos.

Mais uma vez, criadores, designers e roteiristas provaram para empresários e marqueteiros que a inovação e boas ideias é que ditam o mercado. Sucessos como Undertale, Hollow Knight e Firewatch apostavam na exploração dos sentidos, na música, na arte e na vontade de fazer algo novo.

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Stardew Valley criou um universo completo e estimulante, que começa simples e rapidamente ganha profundidade em suas mecânicas, fazendo com que cada aspecto explorado pelo jogador gere recompensa. Hotline Miami mostrou que visuais, músicas e um ritmo frenético já bastam. Tudo isso é fácil de se ver, mas incrivelmente difícil de se criar.

A pedra fundamental desses jogos está em um conceito simples que às vezes é esquecido: jogos são diversão. Quando um jogo deixa de ser estimulante, quando o jogador pula partes que não gosta e deixa de explorar e perde a curiosidade naquele universo, esse jogo fracassou com o jogador.

A Electronic Arts parece estar dando uma chance para esse tipo de trabalho. Para provar isso, a produtora lançou em 16 de fevereiro seu game original Fe, desenvolvido pela Zoink Games.

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Fe é um jogo de plataforma e aventura que aposta no seu clima sereno para fazer com que o jogador não se apresse para explorar seu arredores. Esse incentivo vem da combinação de elementos musicais, visuais e a ausência de diálogo: quase nenhuma mensagem do jogo é passada através de texto, e não existem diálogos falados. Essa dinâmica, já muito explorada em outros títulos, cria uma imersão tão forte que as raras mensagens na tela se tornam disruptivas, como se te desligassem do jogo por um segundo.

Além da bela arte e ambientação

O protagonista de Fe é um pequeno animal que carrega o nome do jogo. Fe é um filhote que usa seu canto para atrair outros animais a segui-lo e conceder-lhe favores. É como se ele fosse uma espécie de criatura mágica da floresta, uma que todos conhecem e confiam. Até a vegetação local pode ser convocada a te ajudar na sua jornada, onde você segue floresta adentro salvando os animais de invasores que os enjaulam e machucam.

Os diferentes tons vocais ou habilidades especiais nosso pequeno herói são adquiridos gradualmente. Progredir através do jogo envolve coletar itens e resolver quebra-cabeças; qualquer um que conheça jogos modernos de plataforma 3D não terá dificuldades.

Fe
Foto: Divulgação

No início, Fe desperta em uma clareira sombria. A cena inicial lembra Ori and the Blind Forest, que também começa com uma pequena criatura deixada sozinha em uma floresta escura. O uso de cores e planos geométricos dá ao mundo uma qualidade suave e acolhedora que você se apega com facilidade, sem o abuso de pixels granulando os cenários de forma agressiva.

Então você tem o contato com a primeira criatura da floresta: um alce. Fe se comunica com os animais usando sua voz, que pode ter um tom mais baixo ou alto dependendo do quanto você pressionar o botão (no meu caso, o R2 do PS4). Os animais que você encontra te ajudam a avançar pelos obstáculos da floresta, cada um de uma forma diferente.

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Toda a jogabilidade se dá baseada nesse sistema. Alguns animais falam outras línguas, sendo necessário que você aprenda essas línguas antes de conseguir a ajuda deles.  E com isso você segue resolvendo quebra-cabeças até o fim do jogo.

Fe
Foto: Divulgação

O que Fe apresenta de menos empolgante é justamente como ele se encaixa na normalidade. A maneira como a história é contada é bem legal, mas a história em si deixa a desejar. Desde o início você entende que a floresta está tentando se defender dos invasores, e esse ritmo se mantém até o final. Sem muito desenvolvimento, personagens carismáticos ou reviravoltas.

Um jogo tranquilo, em todos os aspectos

Fe não é um jogo especialmente punitivo. Seu recurso de autosave é generoso o suficiente para que raramente seja preciso percorrer um longo caminho depois de um game over. Apesar disso tornar o jogo mais fácil, não foi um ponto negativo para mim. Fe não é um jogo que se joga pela trama, nem pela excitação. É um jogo que você coloca depois de um dia cansativo, em que você não quer pensar demais e só se deixar levar pelo seu apelo sensorial. Resta saber se esse apelo é o suficiente para fazer os jogadores ficarem até o fim.

Fe
Foto: Divulgação

Ainda assim, é interessante ver a EA se aventurando em games mais “fora da caixinha”. É claro quando um título se preocupa em entregar uma boa experiência para os jogadores ao invés de ser uma campanha de marketing interativa, como vários jogos que andamos vendo por aí.

Nota bom

Fe está disponível em formato digital para Xbox OnePlayStation 4Nintendo Switch e PC, via Origin. O título de plataformas faz parte do programa EA Originals. O game ficou com média de 70 pontos no Metacritic, na versão avaliada.

*Review elaborado usando a versão de PS4 do jogo. Cópia fornecida pela desenvolvedora.

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