FAZ UMA HOMENAGEM PRA MIM? | KINOS

jurassic-park-movie-poster-1992-1020141477Parece que foi essa a frase de Steven Spielberg para Colin Trevorrow quando o convidou para dirigir a mais recente continuação de Jurassic Park. E ainda prosseguiu: pode deixar que a fórmula está pronta, é sucesso garantido de bilheteria, já temos o herói desde o primeiro filme e eu mesmo produzo. Quem não ia aceitar?

A pergunta que parece motivar o filme é “o que aconteceria se o parque de John Hammond desse certo?” O criador da InGen é a figura ausente mais presente em toda a história, pois tudo o que ele queria fazer no sonho que foi despedaçado pela ganância de Nedry no primeiro filme funcionou por dez anos. Seu nome está no laboratório, nas referências às motivações do novo dono, como parâmetro para tudo o que acontece naquela ilha desde 22 anos atrás, quando Alan Grant e companhia visitaram o lugar e foram surpreendidos pelo corte de luz diante da cabra abandonada.

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Dez anos de parque em funcionamento, a receita começa a cair, pois dinossauros já não são mais novidades. Para atrair novos visitantes, é importante surpreender e um novo dinossauro é criado. Isso mesmo: criado, não ressuscitado; auge da ganância. O bicho novo é uma mistura de um monte de coisas, quase um Capitão Planeta (daí o World do título?) dos lagartos e, claro, dá errado. Não na criação, mas na prisão: dá um jeito de cair fora e a ilha nunca mais será a mesma… de novo?

Aí é que está a surpresa de Trevorrow: ele não tenta inventar a roda, como o próprio Spielberg fez ao levar dinossauros para San Diego ou Joe Johnston ter o absurdo de uma família num tour pela ilha Sorna, campo de testes da InGen. Os outros dois filmes não são ruins, têm boas cenas, personagens que mantém coerência com a proposta original e, claro, crianças, nem sempre tão espertas. Dessa vez, ao invés de buscar um novo olhar sobre a franquia, Trevorrow retoma o olhar original. É Jurassic Park de Spielberg de cabo a rabo, ou de dentes a cauda.

Isso não faz do filme um plágio, mas uma homenagem articulada pelo próprio diretor do original. Desde a estrutura básica (passeio pelo parque que dá errado) até o grupo de personagens (o aventureiro, a moça que se integra à aventura, o pessimista – que nessa caso fica no laboratório – e duas crianças, uma das quais entende de dinossauros). E muitos dinossauros, claro, com cena de alimentação ao bicho maior e ao T-Rex, o mesmo T-Rex do primeiro filme, convenhamos. O geneticista do primeiro filme também é o mesmo Henry Wu que furou âmbar pra tirar dinossauro de lá. E o Mr. DNA, aquela animação que explica tudo, também volta.

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Algumas tomadas são, desde o princípio, nitidamente inspiradas, da apresentação da ilha ao triunfo do último dinossauro. Tem gente correndo de dinossauro com ele se aproximando atrás, tem galimimus correndo com pessoas passando pelo meio da debandada, tem reflexo de dinossauro se aproximando pelo retrovisor e tem até referância ao terceiro filme, numa cena inútil não fosse por isso, de um pterodáctilo voando sobre o mar (até porque, o leitor constatará ao ver o filme, que pela lógica da história ele se dirige pro lado errado). Quando as crianças se despedem dos pais no aeroporto, a mãe brinca: se alguma coisa vier na direção de vocês, corram. Naquele momento um ruído que parece um guincho se confunde com o grito de uma criança. No fundo, o filme é isso cercado de uma história sobre genética, valores (ganância) e muitos efeitos especiais. Desde o primeiro, quando Ellie Sattler, exausta de tanto fugir de um raptor, vê abrigo e diz: corra.

O que torna tudo isso um filme a ser visto, talvez o melhor desde o primeiro, é justamente o caráter explícito das referências. Quando entra na sala de controle, Claire, que gerencia o parque, encontra um funcionário (o pessimista Lowery) com uma camisa que traz a estampa do parque original. Ele repete que achou no eBay e diz que imaginou que poderia gerar polêmica usá-la ali, afinal, o outro parque fracassou. As referências não param aí: espaços do filme original são visitados, imagens voltam e resquícios de cenas passadas são encontrados pelo caminho. Veículos anteriores voltam à cena, assim como objetos, como os óculos de visão noturna famosos na cena do T-Rex na chuva. Tem também os sinalizadores da mesma cena.

Jurassic World não tenta fugir do modelo criado por Spielberg e diverte, sobretudo ao remeter ao que houve. Antes de ir ao cinema, pensei em fazer maratona dos outros três, presente já visto e revisto do meu irmão, mas não deu tempo. O que fez tudo isso vir à tona foram as 9 vezes que assisti Jurassic Park no cinema, e ainda tenho que ouvir da minha irmã que ela viu uma a mais. Tudo bem, se ela quiser, vamos assistir mais uma vez, Park ou World.

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