
A indústria de games está sempre mudando. Com a chegada de cada nova tecnologia, o setor abraça os avanços para oferecer melhores experiencias de jogo. O mercado é muito competitivo e os hábitos de consumo são diferentes e afetados por vários fatores externos. Atualmente, se comenta sobre a incorporação de recursos blockchain em jogos eletrônicos.
Essa tecnologia, que permite a criação de ativos digitais verdadeiramente únicos e negociáveis, tem despertado interesse de estúdios e desenvolvedores ao redor do mundo. Embora ainda exista resistência de parte do público gamer, a tendência de silenciar termos como “NFT” e “Web3” para focar na experiência do jogador começa a afetar em como esses recursos são apresentados.
Mesmo nas notícias sobre Bitcoin é possível notar como o mercado de criptomoedas influencia outros setores. O Brasil, que está entre os 10 principais em adoção cripto, essa influência tem sido observada e aguardada por grande parte do público que já está habituado a inovações.
Introdução silenciosa da blockchain
Vários estúdios de desenvolvimento têm apostado na blockchain como forma de criar ecossistemas nos quais itens virtuais, como skins, avatares e até terrenos em mundos virtuais, pertencem de fato aos jogadores. Um exemplo, mencionado em eventos internacionais, como o Madeira Blockchain, é o do estúdio Redcatpig.
O CEO dessa empresa enfatiza que a principal dificuldade está em comunicar aos desenvolvedores internos as vantagens de utilizar blockchain para criar experiências de propriedade digital. Contudo, a comunicação não é o único problema. Em muitos casos, há receio quanto à recepção do público.
O termo “NFT”, por exemplo, já gerou controvérsias em vários fóruns de jogos, com jogadores temendo que isso abra espaço para práticas abusivas de microtransações. Para contornar essa resistência, alguns desenvolvedores optam por não utilizar termos relacionados à Web3 ou blockchain nas estratégias de marketing.
Preferindo, então, valorizar o ganho real para o usuário, como a possibilidade de ter um item exclusivo, negociável e que não perde valor fora do jogo. Outro exemplo é o estúdio VEU, uma empresa baseada em Los Angeles, que enfrentou reações negativas ao integrar blockchain em seus projetos.
A empresa viu que parte de sua comunidade rejeitou essa tecnologia por acreditar que ela significaria custos adicionais ou complexidades desnecessárias na experiência de jogo. Por isso, a VEU passou a tratar o blockchain como um mecanismo de suporte, enfatizando a usabilidade e a liberdade que os jogadores conquistam ao possuir, de fato, um item digital.
Resistência da comunidade gamer e o mercado BR
A comunidade gamer desconfia de práticas que possam comprometer a diversão ou a acessibilidade do jogo, isso é natural. Modelos que prometem “ganhar dinheiro” ou que envolvem criptomoedas às vezes trazem a impressão de um possível “pay-to-win” ou de desequilíbrios artificiais no gameplay.
Muitos jogadores temem que a integração de blockchain seja apenas uma forma de empurrar novos sistemas de cobrança, sem benefícios tangíveis. Por outro lado, é inegável que o mercado de itens cosméticos e colecionáveis já existe, e é gigantesco. Jogadores de títulos populares, como alguns jogos de tiro em primeira pessoa ou plataformas de criação de mundos, investem pesado em skins e acessórios.
A blockchain chega justamente para formalizar essa negociação, permitindo que as pessoas de fato possuam seus itens digitais e possam vendê-los no futuro, se desejarem. Ainda assim, a estratégia de não enfatizar o termo “NFT” segue como predominante. Como explica Marco Bettencourt, CEO da Redcatpig, os jogadores não precisam saber que é Web3 ou blockchain.
O que eles precisam é apenas entender que, se compram uma skin, eles são donos dela e podem revendê-la amanhã, se quiserem. Esse discurso tem sido adotado por diversos estúdios que buscam se manter competitivos, sem afastar o público. No Brasil, o público de jogadores é um dos mais engajados do mundo.
Segundo dados da 9ª edição da Pesquisa Game Brasil, cerca de 74,5% da população brasileira afirma ter o hábito de jogar algum tipo de jogo eletrônico, seja em consoles, PCs ou smartphones. Esse número faz do país um dos principais mercados gamer da América Latina. Além disso, o Brasil também é pioneira na adoção e uso de criptomoedas.
De acordo com estimativas citadas pela Chainalysis em seu relatório de índice de adoção global, o país figura entre as principais nações em número de usuários de ativos digitais. Essa proximidade com o universo cripto é um solo fértil para a adoção de jogos blockchain, pois boa parte dos jogadores já está familiarizada, pelo menos, com a ideia de tokens digitais.
Há, ainda, esforços do governo brasileiro para fomentar a economia digital e a inovação. As políticas de incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento (P&D) têm sido reforçadas com o propósito de acompanhar tendências tecnológicas, como a inteligência artificial e a própria blockchain.