DRAGON SINKER | A nostalgia dos JRPG’s

Apesar de alguns problemas, o jogo presta uma boa homenagem

Lançado pela KEMCO inicialmente para Android (é isso mesmo), Dragon Sinker é um JRPG (Japanese Role Playing Game) com todos os elementos clássicos do gênero, inclusive o gráfico em 8-bits. Hoje é comum vermos diversos games se aproveitando da boa recepção que o uso moderno dos 8-bits vem tendo para lançar jogos muito mais baratos com um forte apelo em outros setores que não sejam o gráfico.

Também é comum vermos empresas aproveitarem isso para lançar uma enxurrada de jogos extremamente similares a baixo custo, produzidos tão rápido quanto um X-Salada vegetariano. Infelizmente, a KEMCO se encaixa nessa segunda categoria.

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Tendo nos presenteado no passado com a franquia Top Gear, hoje a desenvolvedora se apresenta como a “maior produtora de JRPG’s mobile do Japão”. Com isso temos diversos jogos para dispositivos móveis que parecem ter grande parte do esforço de produção voltado para o tempo de entrega do produto final em detrimento da qualidade.

Por isso, a empresa aproveitou para relançar seu maior sucesso, Dragon Sinker, para PC, PlayStation 4, Playstation VitaNintendo Switch nos últimos meses. O título já estava disponível para iOS e Nintendo 3DS também, além do Android. O único que ficou de fora, por enquanto, foi o Xbox One.

Depois de dizer isso tudo, devo acrescentar que gostei de Dragon Sinker, que é sem dúvidas o melhor jogo da produtora nos últimos anos. Talvez nas últimas décadas, até. Isso não quer dizer que ele seja excelente, nem que tenha poucas falhas. Mas ele usa um golpe muito baixo que te faz deixar tudo isso pra lá e continuar jogando: a nostalgia.

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A revolução dos RPG’s no passado

Eu me lembro de jogar videogames por todo o fim de semana durante a infância, nos anos 90. Naquela época eu ainda tinha um Super Nintendo, e era difícil achar lojas para comprar os cartuchos no interior. Então a gente saía da escola nas sextas-feiras e passava direto na locadora.

Meu jogos favoritos eram Rockman 7 (Que só tinha na versão japonesa na loja) e Megaman X. Em uma quinta-feira pré feriado, eu saí o mais rápido que pude até a minha locadora preferida. Nesse casos você podia alugar três cartuchos pelo preço normal e ficar com eles até a segunda-feira, sem pagar pela locação do feriado, pois a loja não funcionava. Então era comum esgotar tudo.

Era o que tinha acontecido quando cheguei na locadora. Todos os meus jogos favoritos já tinham sido alugados. Os que eu gostava só um pouco também. O rapaz da loja, vendo que eu não encontrava nada, me mostrou umas últimas 10 fitas que ainda estavam disponíveis, todas juntas no canto da prateleira.

DRAGON SINKER | A nostalgia dos JRPG's

Era muito difícil escolher um jogo desconhecido antigamente. Não havia a internet com sites de críticas, notícias em tempo real nem vídeos mostrando o gameplay. Só tinha a capa do jogo e a sinopse em inglês no verso. Não ajudava muito eu ter nove anos, com meu conhecimento em línguas estrangeiras resumido a “Yes”, “No” e “Game Over”. Então só me restava ver qual capa era mais bonita e levar.

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Eu me lembro de ter saído da loja desanimado, com um jogo de tênis, um de bilhar (que acabei gostando – quem não gostava de Side Pocket?) e uma fita de uma caixa marrom horrorosa com uma espadinha cheia de textos que eu não sabia ler.

Era The Legenda of Zelda: A Link to the Past.

Eu nunca tinha visto um jogo como aquele. Claro, eu não entendi nada do que estava acontecendo conforme eu passava pelos lugares, mas eu podia andar pra onde eu quisesse. Não haviam fases, nem uma estrutura de seguir em frente o tempo todo, enfrentar o chefe e repetir isso até o fim do jogo. Hoje em dia isso é muito comum, mas antes era quase que exclusividade dos RPG’s.

Havia mesmo um mundo a ser explorado, da maneira que me desse vontade. A Link to the Past virou um dos meus jogos favoritos instantaneamente, e o RPG em breve seria o meu gênero preferido.

Como Dragon Sinker apela para o saudosismo

Quando eu comecei a jogar Dragon Sinker, a música, os gráficos e a ambientação me levaram imediatamente para vinte anos no passado. Está tudo ali: a história clichê do herói que precisa derrotar o dragão; os magos, bardos e guerreiros; as cidades com lojinhas e estalagens…

Dragon Sinker
Foto: Divulgação

Para quem cresceu jogando isso, o charme é muito forte, mas também pode ser muito batido. Felizmente, Dragon Sinker deixa espaço para alguns recursos que dão novos ares ao antigo sistema: você pode definir seu combate como automático, deixando a CPU para lidar com a melhor maneira de lutar contra seus inimigos enquanto você observa até quando achar necessário.

Além disso, se você perder uma batalha contra um chefe, você pode tentar novamente desde o início da luta, em vez de cair na tela de Game Over. O jogo também permite que você personalize os níveis de dificuldade e a taxa de encontros de inimigos.

A narrativa

O jogo começa com o Príncipe Abram e seus companheiros de confiança prestes a atacar o dragão maligno, Wyrmvarg. Wyrmvarg é um monstro terrível que exige um sacrifício humano do reino de Abram todos os anos para aplacar sua fúria. Cansado disso, Abram resolve sair pelo mundo em busca das armas dos lendários heróis que venceram Wyrvarg no passado.

Encontrar e recrutar outros personagens resolvendo missões secundárias é uma grande parte do jogo. Você pode ter até 12 deles viajando junto com você, divididos em esquadrões de quatro heróis.

Isso oferece bastante estratégia, porque o jogo também inclui um sistema de Jobs, parecido com o de Final Fantasy V. Ao combinar esquadrões de diferentes jobs, você pode obter vários tipos de bônus, além de ter muitas opções para lutar dentro das dungeons.

Dragon Sinker
Foto: Divulgação

E assim o jogo prossegue, até o inevitável momento em que você e seus companheiros devem destruir o dragão. O mundo de Dragon Sinker tem um bom tamanho, mas o que faz o jogo durar mesmo é a quantidade de grinding que você deve fazer para avançar a história.

Dificuldade x praticidade

O game mesmo já te avisa logo no começo que, ao cruzar pontes, monstros mais perigosos te esperam do outro lado. Eu nunca imaginei que seria literalmente. As pontes marcam os limites de cada área do mapa, e ao passar para a outra área, você enfrenta monstros novos, com muito mais níveis que os anteriores e em maior quantidade.

Logo no início, ao sair da cidade natal de Abram até a primeira dungeon do jogo, eu segui em direção ao sul, onde me foi dito ser o local do meu objetivo. Enfrentei apenas uma luta, contra duas gosmas rosas (prepare-se combater para todos os inimigos clássicos do gênero, até aqueles que ninguém nunca gostou) e não tive nenhuma dificuldade.

Então cruzei a ponte e por pouco não tomei um pau de duas cobrinhas roxas, me obrigando a voltar à região anterior, mesmo que ela não tivesse nada, apenas para enfrentar mais gosmas e subir alguns níveis, necessários para matar as cobras da região sul. Eu joguei na dificuldade Hard.

Dragon Sinker
Foto: Divulgação

Esse estilo hardcore é divertido e desafiador  no começo, mas rapidamente você se cansa dele. Isso é porque ele simplesmente está ali para prolongar o jogo: ele não te recompensa por criar táticas inteligentes e usar bem seus recursos. Ele só exige que você tenha níveis altos, com bastante pontos de vida e dano. Tentei diminuir a dificuldade para a Normal, buscando equilibrar as coisas, mas ela deixa o jogo tão fácil que eu nem precisava prestar atenção nas ações dos personagens.

Veredito

Dragon Sinker não tem nada que você já não tenha visto décadas atrás. Mas a nostalgia é uma força poderosa e o jogo a usa muito bem. Se você não tem muita saudade dos RPG’s de antigamente, tem uma tonelada de jogos do gênero mais modernos e completos à sua disposição. Mas se você adora JRPG’s e sente falta das tramas mais simples, pode achar aqui algo que valha à pena.

Nota bom

O título está disponível para Android, iOS, Nintendo 3DS, Nintendo Switch, PlayStation 4, PlayStation Vita e PC, via Steam. O preço do jogo varia de acordo com a plataforma escolhida.

*Review elaborado usando a versão de PS4 do jogo. Cópia fornecida pela desenvolvedora.

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