Days Gone foi anunciado na E3 2016 e recebido com certa desconfiança pela comunidade gamer. Aparentava ser um jogo de zumbis genérico, porém, com gráficos modernos e sem grandes inovações. O tempo passou e a Sony, publisher do game exclusivo para PlayStation 4, confirmou que ele não fazia parte do seu “Big 4”, composto por Marvel’s Spider Man, The Last of Us Part II, Death Stranding e Ghost of Tsushima. O título estava sendo julgado negativamente pelo público antes mesmo do seu lançamento.
No entanto, uma campanha de marketing agressiva recolocou o jogo nos eixos e devolveu a atenção que Days Gone merece. Nós tivemos acesso antecipado ao game e você confere nossa opinião sobre mais um excelente exclusivo que chega ao PS4 agora, no Jornada Geek!
O poder da narrativa
Days Gone, assim como os principais lançamentos exclusivos da Sony para PlayStation 4, é um game focado em uma experiência singleplayer. Você controla Deacon St. John, o Deek, um motoqueiro e ex-militar que sobreviveu ao “fim do mundo”, mas, no processo, viu sua esposa Sarah embarcar em um helicóptero como sua única alternativa para sobreviver.
A história de Days Gone se passa dois anos depois que os efeitos de um vírus destruiu boa parte da humanidade e criou os “Frenéticos”, humanos que sofreram uma mutação e perderam consciência, ganhando comportamentos animalescos. Eles se assemelham muito aos zumbis que vemos em Guerra Mundial Z, mas com a diferença de que não estão mortos. É nesse universo que Deek e seu melhor amigo Boozer estão.
Deacon se tornou um caçador de recompensas no mundo pós-apocalíptico de Days Gone. O nosso motoboy (aqui, literalmente!) vai realizar favores e missões para os acampamentos em troca de créditos, enquanto encontra tempo para buscar respostas sobre o que houve com Sarah.
Obviamente, eu não vou dar nenhum spoiler sobre o desfecho ou os acontecimentos da história. O que eu posso dizer é que Days Gone é um jogo que traz uma carga emocional grande e uma história original, com reviravoltas e surpresas e muitos flashbacks – alguns até jogáveis. Há até um “final verdadeiro” para ser descoberto após os créditos, à exemplo do que aconteceu com God of War. Ou seja, emoções não vão faltar.
Referências para todos os lados
Se a história de Days Gone é original, o mesmo não podemos afirmar de alguns elementos de jogabilidade. Em um mundo aberto que se assemelha ao tamanho do mapa de Horizon Zero Dawn, o Bend Studio mesclou recursos de vários jogos ao criar o gameplay do seu jogo. E, embora você possa pensar que isso seja ruim, estou aqui para te dizer que não. Que deu muito certo.
Deu certo porque Days Gone puxa o que há de melhor em diversos jogos. O combate é bem semelhante ao visto em Uncharted 4: A Thief’s End, um shooter em terceira pessoa, com elementos de cobertura, mira e até a movimentação de Deacon. Já andar de moto pelas estradas e montanhas do jogo lembram bastante Ghost Recon: Wildlands, afinal, de curvas fechadas e elementos montanhosos o jogo da Ubisoft falou bem. A árvore de habilidades, inclusive, lembra bastante alguns jogos da produtora francesa.
Além disso, é possível destacar referências em gameplay em The Last of Us e God of War, por exemplo. Há momentos em que você fará missões com algum parceiro e aquela famosa “mãozinha” para escalar um local é utilizada.
Por ser um título em um universo pós-apocalíptico, onde os recursos são escassos, é necessário utilizar elementos stealth. E é nesse momento em que se pega referência nos Assassin’s Creed mais novos, ou mesmo em Metal Gear. Distrair um inimigo utilizando uma pedra, para depois pegá-lo por trás e matá-lo. Quem nunca fez isso em um jogo?
A originalidade de Days Gone
Por outro lado, Days Gone consegue inserir elementos com bastante originalidade e que podem virar uma carta marcada da franquia. A gestão dos acampamentos, por exemplo, é interessante pela forma como é conduzida. Você vai sair em missões e conquistar créditos (válidos apenas para o acampamento em questão), ao mesmo tempo em que ganha confiança. Aumentar essa confiança vai te ajudar a comprar melhores itens nesse acampamento.
O mundo aberto também merece sua atenção. Days Gone aposta em uma “não-linearidade”, permitindo que o jogador decida por qual história vai seguir. Não que você esteja um RPG e altere o final como em Assassin’s Creed Odyssey ou The Witcher III: Wild Hunt. Mas como várias missões ficam disponíveis a partir de determinado momento de jogo, é possível escolher por qual caminho seguir enquanto não avança na história principal.
Ainda sobre o mundo do jogo, os jogadores precisam estar atentos o tempo todo. Você será surpreendido por tocaias de saqueadores, acampamentos rivais, diferentes tipos de frenéticos e até animais infectados pelo vírus do jogo. A Sony afirmou que o mundo de Days Gone quer te matar o tempo todo e isso é verdade. Mas não tanto como foi em Far Cry 5, porque aquilo ali foi exagero.
Os diferentes tipos de frenéticos
Um dos principais pontos de Days Gone são os inimigos do jogo, os Frenéticos. Como disse acima, eles são humanos que foram afetados por um vírus e, por isso, passaram a ter um comportamento animalesco e até mesmo canibal. Se você eliminar um Frenético na surdina e esperar um pouco, pode ser que outro Frenético passe a se alimentar dele. São elementos que o dinamismo de Days Gone proporciona.
Eles, assim como em The Last of Us, sofreram mutações e agora estão em variadas “raças”. Além do frenético comum, existem as lagartixas, adolescentes que foram infectados e tem um comportamento bem diferente do frenético comum. Há ainda outros tipos, mais fortes e difíceis de serem derrotados. Mas fique tranquilo: embora no endgame eles apareçam com mais frequência (afinal, a infecção vai se espalhando), alguns deles são introduzidos como chefes, o que diminui um pouco a surpresa e a dificuldade de abate.
No entanto, nada assusta mais do que as hordas em Days Gone. Quando vários freakers se juntam, eles passam a compartilhar comportamentos semelhantes e andarem em bando. Na história principal, você obrigatoriamente vai enfrentar algumas, mas são várias espalhadas pelo mapa como missões secundárias e que podem trazer diversos problemas ao jogador.
Mais realismo
Days Gone é um jogo de sobrevivência, em que os recursos são escassos. Por mais que você encontre munição com inimigos humanos, eles raramente vão dropar altas quantidades. É preciso lootear itens por postos avançados, casas abandonadas e checando corpos humanos e de frenéticos.
Uma das tarefas que você vai realizar bastante em Days Gone é limpar pontos de infestação. Primeiro porque você não quer ser caçado o tempo inteiro por frenéticos, segundo porque o fast-travel só fica liberado após a área por onde você vai passar ser limpa.
E, veja só como são as coisas: por vários momentos eu não tinha itens suficientes para queimar os ninhos. Chegava ao local, queimava um ou dois, e tinha que voltar em outro momento, para conseguir produzir um molotov. Esses recursos específicos não são vendidos nas lojas dos equipamentos, sendo ainda mais importante a necessidade de exploração.
Ainda sobre os frenéticos, eles se movimentam mais durante a noite. E o jogo tem ciclos temporais e climáticos, então, tudo isso vai interferir no seu gameplay. Áreas com neve durante a noite tendem a ser mais seguras do que aquelas sem, mas é mais difícil de pilotar a moto. O ideal é sempre ter um abrigo por perto para passar a noite e o tempo de forma segura.
Um dos elementos mais interessantes de Days Gone é poder utilizar o mundo do jogo ao seu favor. Ao invadir um acampamento hostil, muito barulho chamará atenção dos frenéticos e eles irão se deslocar para aquele local, causando uma verdadeira confusão, onde todo mundo se ataca e você pode se esconder e observar tudo.
Por fim, sua moto é sua companheira e é preciso cuidar dela, mantendo-a abastecida e com a “manutenção” em dia. Se você bater muito o veículo, seja no cenário ou em inimigos, seu motor vai estragar e será preciso utilizar sucata, que você encontra pelo mundo, para consertar. O mesmo é dito para gasolina, essa mais escassa se considerarmos o fim do mundo, mas que nos postos de combustíveis e nos galões espalhados pelo jogo ainda estão sobrando. É com a moto que você fará viagem rápida, então, nada de perdê-lá, ou você vai ter que gastar bons créditos para algum acampamento recuperá-la.
Gráficos e desempenho
Infelizmente, aqui é o ponto negativo de Days Gone. A versão utilizada em boa parte da análise foi a 1.02, e incluía diversos erros de desempenho do jogo no PlayStation 4 comum. Foram assets que não carregaram propriamente, quedas constantes de FPS e alguns crashes que fizeram o jogo fechar. Até no infinito eu cai uma vez.
Por ser um exclusivo, eu esperava um carinho maior da Bend Studio ao lançar o jogo no videogame padrão. Esse foi o primeiro jogo que notei tantas falhas de desempenho no console “FAT”. No entanto, de acordo com a própria Sony, “melhorias contínuas de desempenho para PS4 base” devem ser feitas nas próximas atualizações. É esperar pra ver.
Mas, descontado os momentos em que esses problemas acontecem, Days Gone é um jogo muito bonito. Seus gráficos são realistas e bem feitos, e o mundo construído pela desenvolvedora agrada nos detalhes. A infecção começou há apenas dois anos, então, a natureza ainda não tomou tudo para si…
Veredito
Days Gone chegou de mansinho, mas pode facilmente ocupar um espaço no hall de melhores exclusivos do PS4. A nova franquia entrega mais uma narrativa de excelente qualidade por parte da Sony, um gameplay que busca o que há de melhor em outros games de sucesso e ainda insere elementos próprios, que acrescentam bastante à experiência do jogador.
Fica a crítica pela falta de cuidado com o jogo no PlayStation 4 base, o que pode prejudicar milhares de jogadores enquanto a situação não for resolvida. Days Gone será lançado exclusivamente para PlayStation 4 nesta sexta-feira, 26 de abril, por R$ 199,90.
*Cópia fornecida pela desenvolvedora.