Crackdown 3 parecia ser a “continuação de um jogo que quase ninguém jogou e que ninguém pediu”. Desde seu anúncio, durante a E3 de 2014(!), este game exclusivo para Xbox One sobreviveu, enquanto outros projetos muito aguardados, como Scalebound e Fable Legends, morreram na praia.
Mas será que a aposta da Microsoft Studios se pagou com este azarão esquecido? Confira o que nós achamos em mais uma análise do Jornada Geek!
O bom
A chegada de Crackdown 3, após um longo ciclo de desenvolvimento, fez com a Microsoft promovesse um marketing agressivo, afinal, o primeiro Crackdown completou 12 anos desde seu lançamento para Xbox 360. Entre as ações, duas merecem destaque.
A primeira foi anunciar a retrocompatibilidade de Crackdown (2007) e deixá-lo disponível gratuitamente na Xbox Live. A segunda foi contratar Terry Crews – mais famoso como o Julius, o pai mão-de-vaca do Chris, no seriado Todo mundo odeia o Chris – e fazer dele o principal personagem em Crackdown 3. E o cara foi feito para o papel: assim que ligamos o game, Commander Jaxon (Crews) faz a instrução antes de uma batalha, uma sequência introdutória extremamente bem trabalhada, e rouba a cena. Ele transforma as falas em momentos vibrantes, deixa o game (mais) explosivo e dá vida ao comandante.
Além disso, tratando-se de uma sequência para uma franquia ausente já há algum tempo, portanto um pouco esquecida, a desenvolvedora Sumo Digital apostou suas fichas com segurança e fez de Crackdown 3 um jogo praticamente igual ao primeiro, trazendo somente uma nova história e visuais turbinados em neon azul e laranja.
E o que isso tudo significa? Bem, para começar, prova que é possível se divertir sem queimar os neurônios ou se preocupar com uma grande história ou mecânica complexa. Nem todo game precisa ser um marco da narrativa interativa ou um estudo sobre um personagem.
Crackdown 3 incorpora a simplicidade presente em games como Just Cause e Sunset Overdrive, principalmente por saber que se trata de um videogame. A arquitetura de seu mundo aberto é simples. A função principal é completar as missões dadas e coletar as Orbs, que darão acesso às melhorias.
A falta de inovação ao ser comparado com seus antecessores, é um ponto a favor. Como? Ao abrir o jogo, os menus são simples, diretos e rápidos, assim como os tutoriais. É pegar e jogar. É o blockbuster do cinema, um Velozes e Furiosos, em forma de game.
O mau
Existe uma história aqui: dez anos depois dos eventos de Crackdown 2 (2009, Xbox 360), um ataque terrorista derruba as fontes de energia por todo o mundo. Assim, A Agência é ativada para poder investigar sobre a procedência dos ataques: New Providence, uma cidade controlada pela obscura corporação Terra Nova.
Se o game cumpre sua função por ser divertido no plano interativo, não espere nada profundo aqui. Tal como no blockbuster deste verão, a história serve o único propósito de conectar as partes do todo. Logo, é possível fechar a trama em 6 horinhas se buscar as Orbs ficar repetitivo.
Além da campanha há o multiplayer, chamado Crackdown 3: Wrecking Zone. Com dois modos, Agent Hunter e Territories, dois times devem se enfrentar, cada um com cinco jogadores, em um dos três mapas, nove armas e duas habilidades adicionais para armadura. É muito pouco para dar robustez e manter um jogo online.
Em Agent Hunter, o objetivo é coletar 25 insígnias de agentes adversários que foram abatidos, enquanto o objetivo do seu time em Territories é alcançar 250 pontos ao dominar áreas específicas. Todos os mapas podem ser destruídos quase inteiramente, mas a demolição fica chata rapidinho. Há um certo potencial perdido – ou, pelo menos, inexplorado – no multiplayer. Enquanto nenhum conteúdo extra sair, haverá pouca motivação para se conectar.
O feio
Apesar de ter dito que Crackdown 3 é uma versão do primeiro, só que desta vez com visuais turbinados, é importante frisar o downgrade gráfico que o jogo sofreu. Ter o jogo rodando na TV não se parece tanto quanto aquele Crackdown 3 visto nos trailers, nem mesmo o muito divulgado processamento em nuvem, cujo trabalho seria trazer destruição de prédios e explosões sem precedentes, parece algo comum.
As primeiras semanas do game foram inundadas com atualizações gigantes para consertar bugs e otimizar sistemas, tanto na versão da campanha quanto no multiplayer, o que incomodou um pouco. Vamos torcer para que os desenvolvedores consigam deixar o game pronto. Foram vários dias com atualizações de 3 a 8 GB estacionando o console.
A nova continuação também perdeu muito do carisma gráfico existente nos dois outros jogos, pois o filtro com estilo de história em quadrinhos, presente nos títulos do Xbox 360, quase desapareceu: os personagens tinham bordas mais grossas, cores mais saturadas. Tudo isso deu espaço para uma versão mais séria, modernizada e, talvez, genérica demais. O esquema de cores do novo, às vezes, cansa os olhos.
Mais um pouquinho de bom!
E ainda assim, o foco está na diversão e ela está presente em Crackdown 3. A campanha pode ser jogada sozinho ou em modo cooperativo, em arquivos diferentes, e dura aproximadamente 14 horas para os jogadores dispostos a completar o pacote.
Cruzar New Providence no meio da bagunça é viciante e o jeitão sandbox faz de cada área um pequeno playground, ficando ainda mais divertido a cada nova habilidade dos personagens. Aliás, é possível escolher entre 15 agentes diferentes e cada um tem, dentre as cinco habilidades do jogo, características próprias, podendo ser aptidão com veículos, armas, agilidade, força ou explosivos. Todas mudam o jeito de jogar.
No começo, apenas seis dos agentes estão disponíveis, sendo necessário encontrar o DNA dos outros nove pela cidade – este é um trecho que dá uma liga bem interessante à fraquinha história, mas não vamos dar spoilers!
Existem 750 Orbs de agilidade para serem achadas e outras 250 escondidas por aí. Procurá-las é, na maior parte do tempo, divertido e também um bom desafio.
Veredito
Crackdown 3 é um jogo descomprometido com o atual cenários de games: não aproveita seu potencial gráfico, tem um multiplayer beirando o desnecessário e não segue a tendência de ter obrigatoriamente uma grande história o impulsionando. Tampouco alcançou tudo aquilo que prometeu. Mas consegue se encontrar naquilo que é crucial: ser divertido e entreter, sem muita complexidade ou preocupação.
Crackdown 3 traz incluído o conteúdo multiplayer, Wrecking Zone, e está disponível para Xbox One e Windows 10 em formato digital por R$ 199,95, sendo compatível com os programas Xbox Game Pass e Xbox Play Anywhere. No Metacritic, o game alcançou a média de 60 pontos na versão avaliada.
*Review elaborado usando a versão de Xbox One do jogo. Cópia fornecida pela desenvolvedora.