John Green é certamente o autor mais cool do momento, não se discutindo qualidade da sua literatura, pois isso é de subjetivo, e sim pelo quanto o hiperlink das mídias sociais elevam seu nome a um status extraordinário no mundo teen. Contudo, tudo tem uma explicação. Green sabe escrever para o seu público, despertar seus anseios, cativar seus desejos e manipular a mitologia estereotipada vendida em enlatados desde a época do saudoso John Hughes. Depois do sucesso de A Culpa é das Estrelas (2014), mais uma obra sua é adaptada para as telonas, agora menos melancólica, com toques de Road movie, mas com uma estranha mistura de suspense e teen movie.
Quentin Jacobsen (Nat Wolff) é um rapaz tímido que viu sua vida mudar quando, ainda criança, viu se mudar para frente de sua casa Margo Roth Spielgeman (Cara Delevigne). Eles cresceram juntos e ele sempre a amou. Com o passar dos anos o instinto indomável de Margot os afastou, até uma noite, pouco antes de se formarem no colegial, ela aparecer e o convocar para um plano de vingança madrugada adentro. No dia seguinte, porém, a garota desaparece, e agora cabe a Quentin e seus amigos seguir as pistas deixadas por ela e finalmente descobrir seu paradeiro.
Não se pode negar que o roteiro adaptado por Scott Neustadter e Michael H. Weber da obra de John Green prima por ser metodicamente feito para agradar a quem tem de agradar. Assim como o livro, o filme procura a todo momento seu público-alvo, se fazendo valer pela fórmula consagrada, como já dito, nos 80 pelas mãos de John Hughes. Sim, temos tudo lá, o garoto sem graça, mas gente fina (o mocinho), o nerd, a descolada, a teen leader que é mais do que parece e, óbvio, o cara engraçado da turma. Nada que a TV Globo não tenha exibido em uma Sessão da Tarde ou durante os 20 anos de Malhação.
Porém, é aí que entra o diferencial do texto de Green. Ele adiciona elementos a mais em sua história, e peculiaridades que raramente se vê em outros longas do gênero. Ali, não há pretensão de desmitificar e sim jogar com os dados que ele possui. Passa pelas situações corriqueiras, como o colégio, os valentões, as festinhas regadas à bebida (com a mesma cena de um louco tomando cerveja no bico da mangueira), mas, catando aqui e ali pedaços de um quebra-cabeças que só o protagonista parece acreditar existir. Cria-se um mistério, meio que bobo e inverossímil, em torno do desaparecimento de Margot, mas, que aos poucos, vai se tornando algo de segundo plano. Com ajudinha é claro de Cara Delevingne, de longe a mais fraquinha dentre os jovens atores, que não passa nenhum carisma a sua personagem.
Talvez a tentativa de se discutir termos mais profundos como as diferenças na formação da personalidade não fiquem tão fundamentadas como era a intenção da obra e do filme. Ainda que sobre em lirismo na parte final, e novamente este saia do esperado, Cidades de Papel carece de mais maturidade. Não daquelas melancólicas de adultos, e sim de uma maturidade que faltou na definição, principalmente na passagem Road-movie, onde o momento derradeiro da separação dos amigos de infância, e das escolhas de um futuro incerto causaria mais impacto (lágrimas?). Faltou o tiro de misericórdia que transparecesse que o filme não é apenas uma balela infanto-juvenil e sim algo que os ajudariam a pensar em suas escolhas.
Contudo, Cidades de Papel é um bom filme, mas com um problema de construção narrativa, pois é feito para um público-alvo, para aqueles que passam pelas mesmas situações ou vivem as mesmas expectativas, perdendo assim parte da mágica de ser cinema. Porém, John Green pode se vangloriar de seu status, pois pouca gente consegue ser tão objetivo em suas obras como ele e tão pouco consegue provocar alvoroço em torno de algo tão simples como um teen movie. Entretanto, como ele próprio escreveu, “todo mundo tem seu milagre”, e o dele é ser cool.