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Ah, o cinema. É tão bom respirar seus ares, ou imaginar o que acontece em seus bastidores. Quem não gosta de um making of? Bem, os Irmãos Coen parecem que, assim como qualquer cinéfilo que se preze, também adoram esse mundo. E nada melhor que contar as mazelas de uma época em que a vida dos astros de Hollywood era governada por algum Manda-Chuva de um grande estúdio, e seu cotidiano era almejado por 10 entre 10 pessoas de todo o mundo. Os diretores usam esse pano de fundo para contar uma trama bizarra, cheia de bom humor e crítica ao mundo das celebridades, do cinema e de tudo que faz sua máquina funcionar.
O astro do momento Baird Whitlock (George Clooney, em grande atuação) interpreta um romano em uma grande produção épica da Capitol Estudios. Porém ele acaba sequestrado por um grupo de roteiristas comunistas. Cabe ao executivo faz tudo do estúdio Eddie Mannix (Josh Brolin, ótimo)resolver o caso. Entretanto, além deste contratempo, Mannix tem que lidar também com um jovem astro de westerns que é escalado para um drama, uma atriz temperamental que precisa de outro casamento, uma nova proposta de emprego, as fofoqueiras e sua fé. Difícil? Não para Mannix.
É excepcional viajar pelo mundo cinematográfico imposto pelos irmãos Joel e Ethan Coen neste Ave, César!. Ao contrário das várias obras metalinguísticas que vimos ultimamente, eles não se interessam por um fato específico, como por exemplo, Trumbo – Lista Negra. Simplesmente criam uma trama inocente, propositalmente ridícula, para mostrar um pouco do universo cinematográfico na época dos grandes estúdios. Tanto que, não se percebe uma grande preocupação com a trama central em si, a periferia dos acontecimentos, principalmente que envolvem Mannix, que acabam por ser supervalorizadas.
Os personagens não são claramente inspirados em figuras reais, mas sim, em uma compilação estereotipada de muitos deles. Temos ali um ator de filmes épicos (Charlton Heston, Richard Burton), ator de faroestes sem talento para dramas (Rock Hudson, Montgomery Clift), a musa loira problemática (Marilyn Monroe, Kim Novak), os roteiristas comunistas (Trumbo), as fofoqueiras de plantão (Hedda Hopper), atores de musicais excêntricos (Sinatra, Gene Kelly), diretores metódicos (Laurence Olivier, Willian Wyler), e por aí vai. E, com as referências tão vivas na cabeça de quem conhece de quê, e de quem eles estão falando, as passagens tornam ainda mais impagáveis.
A produção dos Coens seguem seu padrão acima da média. Os diretores tem todo os cuidado de criar passagens de filmes daquela época, respeitando as características de linguagem e narrativa das mesmas. Épicos, musicais, westerns, todos retratados da mesma forma em que vemos em vídeo. Detalhe para mais um excepcional trabalho de Roger Deakins, que além de respeitar as tomadas e até mesmo o Technocolor das pequenas cenas que são mostradas, cria uma característica neo-noir para a trama central.
Talvez, a forma como expande o território, mostrando diversas facetas do universo dos grandes estúdios e também se apegando em detalhes cinematográficos, Avé, César! seja muita história para pouco filme. Isso provoca uma valorização das atuações de quem aparece mais em cena, caso de Josh Brolin, George Clooney e do jovem Alden Ehrenreich, mas deixa grandes atores como Ralph Fiennes, Frances McDormand e Tilda Swinton como meros figurantes de luxo. A impressão que se tem é que havia ainda muitos desdobramentos que, com certeza, não cansaria ninguém.
É óbvio que Ave, César! não irá figurar no top 5 de uma carreira tão brilhante como a dos irmãos Coen, porém, devido a qualidade cinematográfica que impõe e pelo apelo metalinguístico, sempre interessante, e o humor negro, o filme é imperdível.