Vez ou outra o mundo cinematográfico arrasta grandes sucessos da Broadway para as telonas. Em 2014, o mais notável, e fracassado, foi Caminhos da Floresta. Mas, outro grande sucesso dos palcos ganhou sua versão para o cinema, aliás, a segunda, já que Annie havia sido adaptado em 1982, com um êxito bem abaixo do esperado. Nesta nova versão, Will Gluck tenta uma pegada inclusiva mudando a personagem central de etnia, porém, com a mesma história, as mesmas situações e atuações abaixo do esperado. Resultado: passou longe dos prêmios da temporada e não seduziu o público. Contudo, com o lançamento para o mercado Home Vídeo, pode ser que isso mude ao atingir outros espectadores.
A órfã Annie (Quvenzhané Wallis) vive sonhando em encontrar seus pais, que a deixaram num orfanato comandado com um toque de crueldade pela instável senhora Hanningan (Cameron Diaz), somente com um bilhete prometendo voltar e um colar. Quando seu caminho cruza o do milionário candidato a prefeitura Will Stacks (Jamie Foxx), e é convidada a morar com ele por um tempo a fim de que lhe dê popularidade, o convívio deles poderá mudar tanto sua vida, quanto das pessoas ao seu redor.
O grande problema de Annie é a centralização da trama toda em cima da garotinha. Ok, o filme é dela, pra ela, assim como a peça de sucesso na Broadway, porém, para cinema, tudo fica muito enfadonho. Os coadjuvantes são quase imperceptíveis, não pelo tempo de cena, mas sim pelo fato de não ganharem a relevância devida dentro das cenas e da história. Se pulverizasse a trama de forma a aproveitar os outros atores, é quase certeza de que o filme funcionaria melhor. Ainda que a pequena e talentosa Quvenzhané Wallis consiga manter o ritmo e a simpatia.
Oriundo de comédias mais pueris e sem muita pretensão como A Mentira (2010) e Amizade Colorida (2011), Will Gluck dirige um musical em ritmo de MTV, com uma pegada mais ágil, uma batida contemporânea. É o pop, o hip-hop, com um pouquinho de espaço apenas para o clássico quando se exige um pouco do piegas. Talvez não fosse o diretor ideal para essa transposição, assim como não era trabalho para John Huston em 1982. Faltou um “time”, aquele dedo que faça engrenagem funcionar e as canções e coreografias não pareçam forçadas, sem uma razão de existência. Mesmo que alguns poucos números, como o das meninas fazendo a faxina, sejam interessantes, a maioria não empolga.
Mesmo que o filme não ajude muito no produto final, alguns dos atores se esforçam, principalmente Quvenzhané Wallis, que mesmo sendo muito exigida pela centralização exagerada das ações, consegue se superar, nem tanto pela música, mas sim pela simpatia que a fez conquistar a crítica e lhe fazer a pessoa mais nova a receber uma indicação ao Oscar, em 2012 por Indomável Sonhadora (9 anos). No elenco adulto, pouco pode se falar, mas é inevitável ignorar as caras e bocas de Cameron Diaz em uma das atuações mais patéticas do ano.
Ainda que tenha transportado o filme para uma aura atual, tornando os protagonistas negros (uma homenagem ao presidente?), Annie entrou na lista de remakes dispensáveis da história do cinema, além de ter conseguido ser mais um fracasso da transposição dos palcos da Broadway para as telonas (o outro foi Caminhos da Floresta). Péssimas críticas e premiado no Framboesa 2015, um indicativo de que esse não é o caminho para Will Gluck. Quem sabe uma ideia original da próxima vez…