Quando saiu da barriga, ou melhor, da cabeça de H. R. Giger e viu a luz do spot hollywoodiano de Ridley Scott não imaginou que teria tantos anos de trabalho pela frente. Recém-saído de seu primeiro longa, Os duelistas, Scott soube construir a história de um parasita interplanetário muito, muito paciente: deixou os ovos quietinhos, com os incubadores hibernando lá dentro à espera de quem os fosse visitar. E não é que a ganância humana fez com que uma nave fosse até lá?
O cargueiro Nostromo e seus sete tripulantes… Peraí, vamos fazer conta: quando Kane está vivo, são sete. Quando o Alien sai dele, ele morre, e o Alien se torna o sétimo, não o oitavo passageiro. Ou o gato conta? Enfim: Nostromo segue as coordenadas enviadas pela Terra para averiguar o que havia por lá (mesmo que já soubessem) e os humanos encontram os restos da mãe morta e seus muitos ovos. Kane ganha um beijo da aranha, gera um alienzinho e morre, deixando o terror solto na nave e uma tripulação desesperada pela saída.
Ficção científica e terror em boas doses, Scott faz o temor monstro algo maior pela ausência da criatura do que propriamente por sua forma esquelética e seu sangue ácido. Como divulgado na época, Tubarão no espaço. Caminho aberto para Ellen Ripley começar sua parceria com os monstros. E não adianta gritar, no espaço ninguém te ouve, como destacou o slogan de 1979.
A segunda parte, Aliens, tem o nome perfeito: é o segundo e tem muitos monstrinhos. O diretor, antes de se perder em melodramas marítimos e azuis, fez um de seus melhores filmes: James Cameron, ousado como em Piranhas 2 e apocalíptico como em Exterminador do futuro, conduz Ripley de volta aos braços dos bichinos nojetos e babados.
Desacreditada por todos quando conta, mais de 50 anos depois (ficou congelada até ser encontrada no espaço), torna-se parte de uma equipe que vai investigar o que aconteceu em uma colônia espacial humana. E adivinhe? Aliens, muitos e espertos, com direito a mamãe viva e tudo. E como briga bem a velha, contra um exoesqueleto não tem cena melhor. E esse povo vendo MMA na televisão… Novamente, escapa em uma cápsula criogênica e demora anos até ser novamente acordada…
…dessa vez numa prisão espacial apenas com homens e dirigida por David Fincher. Alien 3 é o primeiro longa do diretor, que nem o considera planamente, porque foram tantas as intervenções do estúdio que várias vezes ele chegou a abandonar as filmagens, ou até pegou uma câmera e filmou escondido dos demais. Ainda assim, o filme traz a cena mais simbólica de todos até hoje: o rosto de Ripley encostado em uma parede de azulejos e aquela sedutora boquinha do alien se aproximando para mordiscá-la. Só que não. Pra uns um mistério, pros atentos, uma revelação.
Ela tem que ajudar a matar o bicho que está solto na prisão. Para isso, recruta os presos e os perde em grande quantidade no decorrer da história, mas não poderia parar, afinal, a aranha incubadora veio em sua nave e pegou o cachorro de um dos presos, por isso o alien é menor que os dos outros filmes. Para que tudo acabe bem, Ripley, cercada de interessados da Terra em manter a espécie e usá-la pra fins ilícitos, pula numa caldeira e pronto, final de uma trilogia.
Só que, desde Lázaro, morrer não é tão simples: Alien, a ressurreição traz Jean-Pierre Jeunet antes de Amélie Poulain, mas não sem seu senso de humor entre exagerado e introspectivo. A ele se soma o roteirista Joss Whedon, muuuuuito antes dos Vingadores fazerem parte de sua vida, mas já com as gracinhas como no diálogo em que um dos homens pergunta a Ripley o que ela fez quando enfrentou esses monstros antes e ela é direta: morri. Nesse caso, voltou clonada e teve o DNA misturado com o do bicho, o que a torna íntima da galera e a faz saborear mesmo quando um do seu time perde pro do time adversário.
Alien 3 traz a fórmula do primeiro (um monstro num lugar fechado com poucos recursos para matá-lo) e o quarto filme repete a do segundo (um monte de monstros e um monte de equipamento); ou seja: mistério, porrada, mistério e porrada. A sequência (ou prequência) teria que ser mistério, porque vem depois da porrada, ou porrada, porque vem antes do mistério? Misturou os dois, colocou mais um monte de efeitos especiais e deixou a cargo do diretor de origem, Ridley Scott, decidir o que fazer. Fecharam bem o ciclo, explicaram antecedentes e ligaram tudo com a história da humanidade. Precisa de mais Prometeus em 2016?