Filmes baseados em fatos sempre chamaram a atenção do público na história do cinema. É algo que acaba dando uma certa credibilidade, mesmo que por vezes acabe utilizando apenas o mais importante para o desenvolvimento do seu projeto. Nos últimos anos as cinebiografias também tem ganhado um certo espaço, fazendo com que a literatura mostre mais uma vez o seu valor para a sétima arte ao se ver envolvida em uma nova fase de adaptações. É o momento de escapar dos grandes blockbusters juvenis, para assim apresentar a intenção e objetivo de contar um pouco sobre a vida de nomes importantes em algum aspecto ou abordagem. E agora, após presidentes, soldados, exploradores e tantos outros, chegou a vez de Stephen Hawking ganhar um certo destaque através de A Teoria de Tudo também nos formatos de DVD ou Blu-ray.
Baseado no livro de memórias de Jane Wilde, Travelling to Infinity: My Life with Stephen, o longa mostra desde o seu início sua intenção em focar na vida pessoal de Stephen Hawking (Eddie Redmayne) e no seu relacionamento com Jane Wilde (Felicity Jones). Dando um destaque para o cotidiano do físico teórico na Universidade de Cambridge em seu início, o longa vai mudando sua linguagem através do crescimento do seu envolvimento com a jovem estudante. E assim, após a descoberta de sua doença, o aspecto pessoal na vida dos protagonistas passa a ganhar mais destaque, mostrando diversos acontecimentos e momentos de grande superação na vida de Hawking, assim como sua persistência e descobertas científicas que foram acontecendo com o tempo.
Com seus parâmetros bem definidos desde suas primeiras cenas, A Teoria de Tudo não apresenta uma narrativa diferente do que o público está acostumado. Na verdade, é bem simples, mas sabe como utilizar o estilo a seu favor desde as primeiras cenas, quando mostra um Hawking alegre, sorridente, até quando caminha para a descoberta de sua doença. É nesse ponto que o roteiro muda completamente o seu tom, saindo do romance que estava sendo construído com Jane e passando para momentos de superação com a participação da jovem, já que ela se mostra um grande estimulo para Stephen. No restante dos aspectos técnicos, o título não peca em nada. Sua maquiagem é deslumbrante, enquanto fotografia, ambientação e figurino levam o espectador para a década de 60. Para completar, a trilha sonora e direção trabalham em busca da perfeição.
Por sinal, tal colocação também pode ser claramente usada para definir Eddie Redmayne e Felicity Jones. Responsáveis por interpretar o casal protagonista, ambos mostram os seus talentos desde os primeiros minutos do filme. Entretanto, mesmo com todo carisma e talento de Jones, é Redmayne que consegue facilmente expor toda a sua capacidade. Quanto mais a doença do seu personagem evoluí, mais o talento do ator aflora. É tão espetacular que chega ao ponto de ele não se mover mais, mas o espectador conseguir decifrar o sentimento de Hawking na cena através de seu olhar e sua expressão distorcida. Atuação que já lhe rendeu prêmios, incluindo um merecido Oscar. Para completar, Charlie Cox é o que tem mais destaque em um elenco coadjuvante que também conta com Emily Watson, Simon McBurney e David Thewlis.
É interessante poder presenciar um filme com tal abordagem nos dias de hoje, já que o projeto inteiro parte do ponto em que o espectador conhece um Stephen Hawking jovem, focando no seu relacionamento com Jane, mas ainda assim conseguindo apresentar um pouco de suas descobertas. A verdade é que roteiro e direção sabem como separar a trama nos pontos certos, mostrando o crescimento de um sentimento e a passagem por superações de um casal, mas sem esquecer de citar os feitos do seu protagonista em tempos certos. Infelizmente, o confronto pessoal do físico entre religião e ciência não foi abordado profundamente, marcando apenas uma leve presença. Entretanto, dentro do que é apresentado, aspectos profissionais e pessoais vão se misturando, criando espaços também para a introdução de desconfianças e a presença de Jonathan Jones (Charlie Cox).
A partir da chegada deste terceiro elemento, a trama mais uma vez começa a se remodelar. É evidente o sentimento crescente entre Jonathan e Jane, ainda mais através de momentos tão conturbados por conta da doença. Contudo, até nisso a produção sabe como se posicionar, deixando questões abertas em certos momentos, enquanto também apresenta mudanças na vida de Hawking e suas escolhas amorosas. Tudo isso também mexe com a relação do espectador-personagem, que por vezes sente uma raiva enorme da protagonista, enquanto em outras torce para que o caminho seja dos dois juntos pela amizade construída através dos anos. Entretanto, mesmo com tudo definido como realmente aconteceu, com a aprovação real daqueles que tiveram envolvidos nos fatos, é ainda mais gratificante saber que A Teoria de Tudo, acima de qualquer coisa, constrói todos os seus pontos para mostra que é sobre um amor que nunca acaba: a amizade.