Quando pensamos em uma história de contos épicos, temos sempre alguns elementos clássicos, comuns a todas elas. O herói em uma jornada para derrotar um grande vilão que ameaça a paz do seu mundo, uma profecia que escolhe esse herói, o lutador corajoso que é o único capaz de combater a bruxa, dragão ou déspota e por um fim ao seu reinado de terror. The Swords of Ditto tem tudo isso, mas não se engane: os clichês acabam aqui, dando espaço a uma narrativa inovadora transbordando charme.
Desenvolvido pelo onebitbeyond e distribuído pela Devolver Digital, The Swords of Ditto é um RPG nos moldes de The Legend of Zelda: A Link to the Past. Você é livre para explorar um mapa em 2D, com masmorras e quebra-cabeças, enquanto enfrenta monstros com sua espada e outros itens que te concedem habilidades especiais, chamados de Toys. Usando todos seus poderes você deve derrotar Momo, uma feiticeira maligna que planeja conquistar o mundo todo com seu exército de monstros.
Passando o bastão
The Sword of Ditto começa com o herói escolhido recebendo a espada das lendas, que lhe dará o poder de derrotar a feiticeira Momo. Não demora muito e você já parte para o primeiro encontro com a bruxa, porém seus poderes recém despertados não são o suficiente e você sucumbe. O herói está morto. Não, ele não volta à vida através de alguma magia milagrosa ou poder oculto. Fim de jogo para o jovem. Para sempre.
Cem anos depois, a espada possui energia suficiente para invocar um novo portador. O herói da lenda está de volta, pronto para lutar em um mundo dominado pela feiticeira por um século. Cada vez que você cai em batalha, mais cem anos se passam e a espada escolhe um novo jovem para ser o herói.
Essa é a grande sacada de The Swords of Ditto. Cada vez que você morre, é como se um novo jogo tivesse início. Como existe um avanço de 100 anos no tempo, o mapa, inimigos e e dungeons mudam completamente e você reinicia sua jornada contra Momo, porém com a força das vidas passadas.
O game traduz essa crônica da seguinte forma: ao despertar em outro herói, a espada mantém o mesmo nível de personagem, que influencia na quantidade de vida e de dano causado pelos seus ataques, mas em compensação você perde todo o resto, o que inclui os seus Toys e Adesivos (umas espécies de acessórios que garantem bônus e melhorias aos personagens). Isso faz com que você encare os desafios do game com muito mais cuidado, pois morrer literalmente significa começar tudo de novo.
Outra morte, outro tempo
Isso poderia tornar as sessões de The Swords of Ditto lentas e tediosas, fazendo com que os jogadores tomem menos riscos e avancem muito lentamente. É quando aparece outro aspecto do jogo que muda tudo: o tempo. Você tem quatro dias (no tempo do jogo) para se preparar para enfrentar Momo. Ao fim desses quatro dias, você é levado até a dungeon final do jogo, onde derrotará a bruxa ou morrerá tentando, reiniciando o ciclo.
O relógio altera toda a maneira como você encara o jogo. Ele não corre dentro das masmorras e casas, mas não para enquanto você estiver pelo mapa, que é onde você passa a maior parte do tempo (ainda mais se você levar em consideração que ele muda completamente cada vez que você morre, te fazendo explorá-lo por inteiro outra vez).
Assim, ao invés de assumir uma postura mais conservadora e cuidadosa, você começa a se arriscar mais para estar melhor preparado para o confronto final. O mapa guarda diversos segredos que podem tornar seu personagem mais forte e diminuir os poderes de Momo, até mudando o interior da última dungeon. Conforme você vai jogando, você também melhora na prática, conhecendo mais seus inimigos, suas fraquezas e as armas disponíveis para você.
Isso cria uma progressão muito interessante, pois você sente uma diferença enorme quando está mais forte e treinado, dando uma impressão de que finalmente está na hora de destruir a bruxa maligna. Vale lembrar também que o jogo possui um co-op local, então você pode plugar mais um controle e jogar com um amigo.
Uma nova aventura a cada vida
Já mostramos que The Swords of Ditto é um roguelike: uma vez que você morre, seu personagem está permanentemente morto. Então você vai perder todo o seu dinheiro, upgrades para seus Toys e quaisquer adesivos que você tenha obtido. A única coisa que você pode manter em suas jogadas subsequentes é a experiência que você ganhou com sua espada. Ele sobe de nível à medida que você derrota os inimigos, e os inimigos também evoluem conforme você se fortalece. Depois de perder toda a sua saúde, você basicamente inicia o jogo do zero com um novo protagonista.
Para quem não gosta de roguelikes, o problema está na repetição. Ter que fazer as mesmas coisas toda vez que você morre pode ficar frustrante rapidamente. O jogo tenta corrigir isso com seu sistema de geração procedural, alterando as dungeons em cada morte. Apesar de ser uma solução inteligente para o problema, acontece que mesmo a geração procedural de mapas não dá conta de fazer com que eles pareçam diferentes uns dos outros.
Existe uma grande falta elementos e inimigos para você enfrentar. O mapa inteiro possui menos de uma dúzia de áreas e pode ser percorrido em menos de uma hora, se você não parar para enfrentar os monstros. Durante o jogo todo, devo ter enfrentado uns 4 ou 5 chefes, no máximo.
Um grande jogo e um curto jogo
Absolutamente tudo em The Swords of Ditto atrai e prende sua atenção. A linda arte, muito bem animada, que parece até um desenho do Cartoon Network e uma jogabilidade fluída que não cansa, com cada novo elemento que surge através dos itens e melhorias acrescentando profundidade. O único defeito que achei em meu tempo em The Swords of Ditto foi sua duração.
Espero que ele receba atualizações com mais chefes, mais armas e mais opções de jogo. Um game desses precisa ser curtido por muito mais que algumas horas.
The Swords of Ditto está disponível para PlayStation 4 e PC, via Steam e GOG.com. No Metacritic, o jogo teve média de 74 pontos na versão avaliada.
*Review elaborado usando a versão de PS4 do jogo. Cópia fornecida pela desenvolvedora.