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O famosíssimo personagem criado por Edgar Rice Burroughs em 1912 é um dos que mais tiveram passagens pelo cinema. Desde sua primeira aparição na era muda em 1918, até uma aventura digital alemã em 2013, foram mais de cinquenta aparições. Eis então que o fator novidade é quase impossível de se conseguir. Mas, David Yates traz de volta o personagem em uma trama que não conta mais o nascimento da lenda, mas sim sua confirmação, em uma pegada de ação mais acentuada, visual estonteante, porém, com o roteiro previsível e exagerado.
Depois de suas aventuras na floresta, onde ficou e foi criado por macacos, Tarzan (Alexander Skaargard) conhece Jane (Margot Robbie) e parte para viver em Londres. Anos depois, já “domesticado” e com comportamento de lorde, ele recebe um convite para ser um emissário do parlamento britânico no território onde conhece bem. Mas, como sempre vilões aparecem em seu caminho, ameaçando o amor de sua vida e a paz do continente africano.
Tudo bem que se percebe desde os trailers que A Lenda de Tarzan é um filme feito exclusivamente para angariar seus milhões de bilheteria, visto seu arrojo visual, quase nauseante, que carregam principalmente as cenas de frenesi pela selva. Mas, ainda assim, se a proposta era trazer uma trama que se passasse após que o mito já estivesse consolidado, devia-se valorizar mais a contraposição entre homem/animal, e o que se tem de bom e ruim entre suas personalidades. Contudo, a história segue a mesma linha da trama original, mas sem os fatos interessantes da vida do personagem, que é seu aprendizado em meio o mundo selvagem.
A narrativa proposta por Yates tem um apelo quase que exclusivamente visual, que tenta valorizar ao máximo os combates corporais (aí se valendo das câmeras lentas) e as incursões nauseantes de Tarzan pelo meio da selva. Além disso, impõe características sobre humanas ao personagem, que enfrenta gorilas em par de igualdade, o que seria até aceitável se fosse o antigo Tarzan, ainda selvagem e com a virilidade animalesca. Sendo assim, é um pouco contraditória a visão inicial do lorde John com a posterior volta aos costumes antigos, como se não houvesse nenhum intervalo de tempo inserido no filme.
Não há como negar que a produção é a melhor que a era do CGI e os milhões hollywoodianos poderiam proporcionar. A direção de arte é primorosa, assim como a maquiagem, e os efeitos visuais espetaculares. Entretanto, a forma como busca uma ação mais moderna para capturar o público atual, acaba por desvalorizar os personagens em si, perdendo Tarzan sua presença forte de cena, vista desde a época de Johnny Weissmuller. Até seu famoso grito é abafado, como se fosse piegas demais para tanta modernidade.
Mesmo que o elenco se esforce para incorporar o espírito selvagem do filme, o estereótipo não exige interpretações mais do que razoáveis. Skaargard faz apenas o que seus antecessores já fizeram, com a exceção de dar o famoso grito, apenas ouvido ao longe. Margot Robbie é simpática e Samuel L. Jackson um alívio cômico bem-vindo. Mas, a decepção é por conta de mais um caricato vilão divertido que Christoph Waltz incorpora. Passou da hora de mudar. Parece que Hans Landa não abandona seu corpo…
A Lenda de Tarzan, no fim das contas, é um filme que cumpre seu papel de acompanhamento para pipoca de luxo. Vai, de fato, agradar ao grande público que está mesmo à procura de entretenimento com gigantescos efeitos visuais em 3D. Mas, como cinema, esta adaptação de Tarzan deixa muito a desejar e fica bem atrás do bom Greystoke, A Lenda de Tarzan, O Rei da Selva (1984) e dos clássicos estrelatos por Weissmuller.