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Em 2008, o ótimo Cloverfield – Monstro causou um grande impacto no público ao criar, no melhor estilo “found footage”, um falso documentário sobre monstros que atacam Nova Iorque. Mesmo que a fórmula já tivesse sido usada antes, a alta tensão foi proporcionada por revelar algozes ferozes, não ficando na subjetividade de imagens rápidas e jogos de sombras. Agora, J. J. Abrams volta a investir sua produção em um spin-off do longa de 2008, sem a câmera na mão, mas com um suspense que faz o público se questionar o tempo todo sobre quem são os verdadeiros vilões da história.
A jovem Michelle (Mary Elizabeth Winstead) acorda em um estranho porão depois de sofrer um grave acidente na estrada. O seu anfitrião é o estranho Howard (John Goodman, excelente) que explica-lhe que não poderá sair de seu bunker, já que o planeta sofrer uma guerra nuclear que deixou o ar irrespirável. Porém, na companhia de outro hóspede de Howard, Emmett (John Gallagher Jr.), começa a desconfiar que a história que contou pode não ser verdade.
O interessante de Rua Cloverfield 10 é que, assim como o filme que lhe deu origem, não há preocupação com uma introdução plausível da trama, pois o que se vê no início é apenas a apresentação de Michelle, e suas dúvidas pessoais sobre seu futuro. Talvez por isso, o clima intenso que se instaura quando a jovem acorda no porão é verossímil, e mesmo que saibamos o que pode ter lá fora (se lembramos de Cloverfield, claro) não há como não se deixar questionar se existe mesmo um empecilho para que não se saia do abrigo. O que também implica no questionamento de mal real e o mal confeccionado.
Mérito do ótimo roteiro de Josh Campbell, em parceria com Damien Chazelle, superpremiado com Whiplash (2014), que conduz a trama entre as quatro paredes, na obscuridade que envolve o personagem de Goodman, e também nas dúvidas a respeito de Emmett. É um suspense, que em diversos momentos tem picos de terror, mas sem situações desesperadoras, absurdos visuais que deixam o filme com tom farsesco. É no simples envolvimentos dos poucos personagens, e suas atitudes. E o melhor, inteligível independentemente de conhecer o filme de 2008.
A direção de Dan Trachtenberg chega a ser uma surpresa, pois só tem uma experiência na carreira, no desconhecido Portal: No Escape (2011). Entretanto, sua câmera não se apressa, acompanha os acontecimentos quase como um espectador, criando a sensação da onipresença dos males que os esperam fora do abrigo. Claro que não pode se ver muitas ousadias por parte do diretor, mas, na dúvida, fazer o simples às vezes é o necessário.
Com grandes atuações de Mary Elizabeth Winstead, e principalmente de John Goodman, Rua Cloverfield 10 é mais um projeto bem sucedido de J. J. Abrams, que ao poucos vai se tornando uma espécie de Steven Spielberg do novo milênio, já que está difícil de ver alguma produção ruim na qual esteja envolvido. Um suspense, com doses certas de terror, que não deixará ninguém insatisfeitos quando os créditos começarem a subir.