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Hollywood adora falar de si mesmo e de seus amados “filhos”. Todos os anos sempre surgem produções com o intuito de falar do universo do cinema americano, ora para bajular, outras para tecer críticas. No caso de Trumbo – Lista Negra, o que acompanhamos é apenas uma cinebiografia de um dos mais respeitados roteiristas da história hollywoodiana, correta e com uma produção bem amparada, porém, que não consegue trazer uma discussão mais profunda da questão central, a repressão artística.
Dalton Trumbo (Bryan Cranston) é o mais bem pago roteirista do cinema americano na década de 40. Porém, quando se inicia a Guerra Fria e os Estados Unidos passam a considerar os comunistas como uma ameaça real à nação, ele e alguns de seus companheiros de profissão passam a ser perseguidos, isso acaba por deixa-los sem emprego, sem dinheiro e com uma passagem direta para a prisão. Mas, com muita presença de espírito e determinação ele não desiste, e esta repressão não o impede de escrever grandes obras-primas para o cinema.
Embora seja inteiramente didático e redondinho, Trumbo – Lista Negra tem seu charme, escorando-se principalmente na atmosfera metalinguística interessante que compõe a trama. O roteiro escrito por John McNamara não prima por grandes reviravoltas, e nem se preocupa em se aprofundar demais em nenhuma das passagens da vida do escritor, porém consegue nos enviar diretamente para a Hollywood dos anos 40. As personalidades e os astros da época atiça a curiosidade de se saber como se posicionavam à época. Um exemplo é saber que Edward G. Robinson era colecionador de arte e traiu Trumbo e os outros para se salvar.
Esse direcionamento pesado para a sociedade cinematográfica e seus bastiões, acaba por não valorizar os problemas que Trumbo enfrentou quanto teve de conviver com as restrições de trabalho. O que mostra mesmo é o fato de o roteirista ter ganho dois prêmios da Academia e não poder colher os louros, seja por A Princesa e o Plebeu, no qual Ian McLellan Hunter assinou o seu roteiro e em Arenas Sangrentas, em que usou um pseudônimo. O relacionamento com a família, que também se tornou muito difícil devido ao fato de ter de se desdobrar em vários trabalhos, também deixa a desejar. E mesmo com as ótimas e esforçadas coadjuvantes Diane Lane e Elle Fanning, o que poderia ser preponderante para uma valorização dramática acaba sendo reduzida a algumas pequenas rusgas, facilmente resolvida, com sua filha.
O alívio cômico que o filme ganha, até em horas inconvenientes, se dá muito pela preciosa participação de John Goodman (está se especializando nisso) como o produtor de filmes B Frank King e seus ataques histéricos. Claro, há de se levar em conta também o espólio da comédia que Cranston carrega da época em que arrasa como o protagonista da série Malcom. A forma como manteve as principais características do conhecidamente indomável Trumbo se deu pelo casamento ideal de drama e comédia, trejeitos e olhares. E, nenhum momento foi possível enxergar o icônico Walter White, da série Breaking Bad, o que valoriza sua merecida indicação ao Oscar.
Mesmo que deixe a desejar no quesito dramaticidade, Trumbo – Lista Negra ganha pontos por ser um ótimo estudo de época, de uma Hollywood que ainda se deixava levar por opiniões puritanas de jornalistas (Hedda Hopper, vivida por Helen Mirren). Além disso, existe uma ponta de lição de moral, pois mesmo na lista negra, impedido de assinar seus projetos, Dalton Trumbo foi capaz de fazer maravilhas e vencer dois Oscar.