Por Flavia C. Silva
Classificação:
O casamento de Jennifer Lawrence com o diretor David O.Russel ganha um novo capítulo nesta cinebiografia de uma dona de casa que se torna uma empresária de sucesso. Para muitos fãs, a parceria é sempre certeza de grandes trabalhos para o diretor e para a atriz, que concorre pela quarta vez a Estatueta, sendo por 3 filmes de O. Russel (O lado bom da vida, Trapaça e agora Joy). Em time que tá ganhando não se mexe, certo? Bem, analisando friamente este último trabalho, está na hora de rever este dito popular…
Jennifer Lawrence sempre talentosa, carismática e neste filme surpreendentemente mais linda que habitual, vive a protagonista Joy Mangano. Uma menina sonhadora, que cresceu com a realidade de uma família totalmente disfuncional. A separação dos pais, deixou o patriarca (Robert De Niro) sem rumo, ostentando um estado permanente de bon vivant aposentado até encontrar uma nova parceira (Isabella Rossellini). Enquanto se consolidava um estado de inércia quase irreversível na mãe (Virginia Madsen), que passa seus dias na cama assistindo a novelas. Aliás, este é um elemento quase protagonista do filme, pois se formos observar toda a estrutura narrativa da história real de Mangano, sua vida parece mesmo uma novela. Puro drama.
Mãe divorciada, mas não conseguindo se desvencilhar por completo do marido (Edgar Ramírez), que mora em seu porão tentando reviver seus bons dias como cantor. Além de cuidar do filho, Joy ainda tem de ser o alicerce de sua família que não enxerga suas frustrações num emprego por necessidade. O contexto do filme teria de ser voltado para este gênero, mas O.Russel optou por dar um tom mais irônico à história, quase uma comédia.
As mesmas nuances usadas nos filmes anteriores não se encaixaram aqui. Com isso, muita coisa da vida empresarial da protagonista deixou de ser mencionada, ganhando uma incômoda irrelevância. A invenção mais famosa (o Miracle Mop) e com a qual tornou-se o nome que é hoje, tem seu espaço na trama, e certamente é o ponto mais alto de tudo onde a atriz pôde exercer todo o seu talento comprovado. Seu parceiro de longa data, Bradley Cooper está lá como um Magnata de uma rede de TV. Sua presença apagada já anunciava o desgaste da relação.
O sucesso do produto na TV lançado por uma mulher de personalidade, seria o olho de um furacão em uma tempestade de brigas patenteais. Situação interessante e pouco explorada, deixada de lado pelo foco cômico, destruindo qualquer coisa que pudesse convencer como uma história de sacrifício, persistência e superação. Em outras palavras, o diretor tinha um grande filme nas mãos, aproveitando toda a onda de força feminina no cinema, mas sua opção por algo mais leve, o destituiu de uma qualidade melhor criando coadjuvantes caricatos e exaurindo sua ótima parceira de produções.
A nomeação ao Oscar da estrela de Jogos Vorazes se fez justa neste sentido. No sentido dela ter sido maior que o filme, ter-se tornado algo vital. Arrisco dizer que se não fosse por ela, o fracasso e a irrelevância como cinema seriam certos. Uma pena que todo este potencial tenha se perdido na transição de gêneros e perda de foco narrativo. Fatos que podem ou não ser um sinal de que este casamento passa por uma crise. Só depende do tempo.