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A crise econômica que se abateu nos EUA e no mundo em 2008 foi, com certeza, um dos fatos mais importantes deste novo século. Milhões de pessoas ficaram sem emprego e moradia, além de perder suas poupanças e investimentos. Esse fato já foi narrado com excelência através do filme de J. C. Chandor, Margin Call – O Dia antes do Fim (2011), onde tudo o que contribuiu que a bolha imobiliária explodisse fosse passado ao público. Entretanto, AM A Grande Aposta, Adam McKay reúne um elenco formidável para mostrar que toda crise tem um viés, e que mesmo em meio ao pandemônio pessoas enxergaram uma oportunidade. E tudo isso com muito bom humor e uma dose de crítica social.
Quando um dono de uma empresa de médio porte, Michael Burry (Christian Bale) decide investir dinheiro apostando na quebra do sistema imobiliário americano, muita gente, inclusive os banqueiros e seus investidores acharam que era loucura tal decisão. Porém, o corretor Jared Vennet (Ryan Gosling) acredita nessa aposta e decide oferecê-la a Mark Baum (Steve Carrell), dono de uma corretora em crise depois de uma tragédia na família. Quem também corre atrás são dois jovens investidores, que pedem ajuda a um figurão recluso de Wall Street, Bem Rickert (Brad Pitt), que decide ajudá-los.
É nesse efeito cascata que Adam McKay consegue imprimir seu ritmo louco para nos contar algo tão sério, tão dramático de uma forma tão inteligente, divertida, sem os devaneios lunáticos do ótimo O Lobo de Wall Sttreet (2014), mas também sem a angústia do filme de Chandor, cita no início do texto. Ele e seu co-roteirista, Charles Randolph, fazem um contra-balanço imparcial de forma que a gana de lucrar a qualquer custo dos personagens não provocar raiva contra eles, pois a todo momento é evidenciado que a culpa não é deles, e sim de uma ingerência de todos, desde os banqueiros até a população americana.
Sim, existe nesse meio apenas a oportunidade. Para tal o filme se utiliza de ferramentas cinematográficas poucos usais, como os personagens que interagem com a câmera, inclusões para lá de divertida de personalidades reais (Margot Robbie, Selena Gomez, etc) que vem explicar um termo ou outro de economia aplicada, de forma menos complicada de se entender. Aos poucos somos convencidos de que compreendemos um pouco de economia, mas na verdade, é o suficiente apenas para poder entender o pano de fundo do filme.
A montagem cheia de cortes secos, em em meio a frases soltas nos dá uma sensação de crescente tensão, da hecatombe anunciada pelas quais os personagens se descabelam. Em contrapartida, existe uma inserção balanceada de drama, ao qual deve-se muito prestar atenção, pois dois personagens chave, Michael Burry e Mark Baum, necessitam de aporte para que possamos compreender a dualidade da questão, os conflitos morais e psicológicos que suas atitudes podem gerar à milhões de pessoas. Mas não espere nada tão aprofundado, é apenas uma forma de demonstrar que não é falta de respeito com quem se deu mal com o problema, e sim um filme que se diverte com a loucura do mundo econômico.
O estrelado elenco de A Grande Aposta talvez o maior responsável por elevar a qualidade e dar um toque inteligível ao filme. Desde o icônico Brad Pitt, que nos convence como um guru recluso de Wall Street, passando pelo alucinado corretor de um engraçadíssimo Ryan Gosling, e chegando aos novatos, todos apresentam uma sincronia interessante nesse ode à ganância. Porém, Christian Bale (indicado ao Oscar de ator coadjuvante) e Steve Carrell roubam todas as cenas das quais participam, justificando seus nomes em algumas premiações do circuito.
Mesmo com suas 5 indicações ao Oscar, inclusive de melhor filme, é provável que muita gente não saia totalmente contente do cinema ao assistir A Grande Aposta, pois podem esperar uma comédia tradicional e cheia de gags visuais. Contudo, se o que esperam é um filme com um humor colocado, inteligente, o sorriso estará estampado em seus rostos após a sessão.