A LISTA | LITERATURA

CAPA-A-ListaJรก contei por aqui minhas duas experiรชncias anteriores com a escritora Cecelia Ahern. A primeira, indireta, como talvez seja a da maioria, pelo cinema, com a adaptaรงรฃo de P.S. Eu te amo; a segunda, com o romance, tambรฉm adaptado para o cinema (a cujo filme nรฃo assisti), Simplesmente acontece. O terceiro encontro foi com este A lista, que reafirma o mรฉrito da autora de falar de amor e descoberta sem nenhum tipo de pieguismo.

Nele, conhecemos a histรณria da jornalista Katherine Logan, que se encontra num momento profissional e pessoal particularmente difรญcil. Na avidez por um furo de reportagem, acabou acusando alguรฉm injustamente e isso lhe custou a reputaรงรฃo. Na vida sentimental, tambรฉm foi largada pelo namorado e teve um desentendimento com o melhor amigo. A perspectiva de uma volta por cima surge em meio ร  tristeza: antes de morrer, Constance, sua editora, mentora e confidente deixou uma relaรงรฃo de nomes de pessoas desconhecidas. E รฉ com base nessa lista, descobrindo quem sรฃo essas pessoas e o que elas tรชm a dizer, que Kitty espera escrever A Matรฉria, bem maiรบscula, com a qual pretende retomar os rumos de sua vida.

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Nรฃo serei a estraga-prazeres que vai revelar qual o fio condutor que une os personagens da lista deixada por Constance. Basta dizer que a ideia me lembra Eliane Brum โ€” que considero, nรฃo sozinha, a melhor jornalista brasileira โ€” e seu A vida que ninguรฉm vรช, um conjunto de crรดnicas publicadas originalmente no jornal Zero Hora e depois transformadas em livro que narram justamente aquilo que costuma ser invisรญvel aos olhos da imprensa: a vida das pessoas comuns.

No romance de Ahern, o trabalho de Kitty se revela mais difรญcil do que o esperado e ela demora muito, praticamente o livro todo, para encontrar a conexรฃo entre os cem nomes deixados pela chefe e amiga. E a tarefa nรฃo รฉ รกrdua apenas porque sรฃo muitas pessoas, porque Constance parece nunca ter entrado em contato com qualquer uma delas ou porque o mistรฉrio que supostamente as une รฉ inescrutรกvel. ร‰ difรญcil porque, ao contrรกrio da liรงรฃo jornalรญstica dada por Eliane Brum, Kitty espera e procura o extraordinรกrio, quando bastava manter os olhos abertos para o que รฉ comum โ€” e, por isso mesmo, mais singular.

O mesmo ensinamento pode se aplicado ร  literatura, em especial ร  escrita por Cecelia Ahern. Nem sempre รฉ necessรกrio mergulhar em universos fantรกsticos, em mundos mรญticos, em amores impossรญveis. Muitas vezes, o mais palpรกvel รฉ tambรฉm o mais tocante.

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