CLASSIFICAÇÃO:
Um dos melhores gêneros que já teve no cinema foi com certeza o cinema de espionagem, daqueles que investigações se estendiam por todo o filme e sempre resultava em finais fenomenais, que instigavam o público a sempre procurar por mais. Um dos grandes ícones do gênero foi o brilhante Todos os Homens do Presidente (1976), dirigido por Alan J. Pakula, que mostrou ao mundo a investigação de dois jornalistas que resultou no maior escândalo político da história dos EUA, o Watergate, e que de lambuja ocasionou a renúncia do presidente Richard Nixon. 40 anos depois, Thomas McCarthy nos traz novamente um thriller hipnótico que escancara um escândalo que ao poucos vai ganhando mais os holofotes do mundo, e o faz contando com um elenco afiado e um roteiro inspirado.
A trama, baseado em fatos reais, mostra a história de um grupo de jornalistas de Boston, EUA, que reúnem milhares de provas que atestam uma série de graves crimes cometidos por padres católicos, o abuso sexual contra crianças. Além disso, também descobrem que os líderes religiosos da região, ao invés de puni-los, apenas os mudavam de paróquias. Agora cabe aos jornalistas enfrentarem suas convicções e levar ao público a verdade, acima de qualquer coisa.
É interessante perceber que ao terminarmos de assistir a Spotlight – Segredos Revelados ficamos em puro estado de catarse emocional, sem saber se nos sentimos aliviados pelo desfecho positivo do longa, ou se ficamos apreensivos por imaginar se algum daqueles delitos acontece próximo à nossa casa. Isso tudo por que o roteiro de McCarthy em parceria com Josh Singer não faz floreios, não tenta imprimir um nível de eloqüência maior que necessitamos para compreender a trama. A narrativa é simples, linear, simplista, porém esclarece os fatos, vai direto ao ponto e ainda sobra uma ponta de tempo para delinear os personagens de modo que cada imprime sua própria visão do problema, apenas com poucos gestos.
O melhor de tudo isso é que toca em uma ferida que segue pulsando em carne viva nos últimos anos, e que subseqüentes escândalos são tão corriqueiros que a maior autoridade da igreja católica atualmente, o Papa Francisco, assumiu o pontificado tendo como uma de suas principais metas, acabar com tais crimes. Sabendo disso, o filme não perdoa a parte que toca a igreja, cutuca com vara curtíssima ao acentuar o fato mais aterrador de toda história: que o alto escalão do clero sabia de tudo e apenas manipulava a justiça e imprensa a seu favor, e apenas realocava os padres criminosos, que, claro, continuavam a cometer os abusos.
A direção de McCarthy é surpreendentemente segura, se levarmos em consideração que sua última experiência na direção foi com fraco Trocando os pés (2014), uma patota com Adam Sandler. Mesmo que não mostre nenhum “algo a mais”, o diretor consegue um trabalho incisivo, daqueles que deixam o espectador preso à cadeira, ansioso pelo próximo passo. Apesar de ter uma proximidade grande com o filme de Alan J. Pakula, Spotlight – Segredos revelados tem vida própria em um gênero cada vez menos explorado no cinema atual.
Outro ponto que merece destaque é a grande forma do elenco. Entre as grandes atuações estão Liev Schreiber, Mark Ruffalo, Rachel McAdams e Brian d’Arcy James, porém, sem dúvidas é Michael Keaton o grande nome do filme. Depois de ótima atuação em Birdman (2015), o ator parece ter entrado em nova fase, a de estar bem e em grandes filmes. Seria um ator sempre subestimado ou apenas agora acertou nos projetos?
O certo é que Spotlight – Segredos Revelados é com certeza candidato a melhor filme do ano e merecidamente um dos fortes nomes para o Oscar 2016. Nos mostra que existe espaço para filmes que tratam de assuntos delicados, que ninguém gosta de falar ou assistir, mas, quando são contados da maneira certa, acabam por abrir os olhos da sociedade. Tomara que ainda tenham muitos segredos a serem revelados por aí.