Classificação:
Ron Howard é um diretor interessante. Desde que entrou no hall de diretores competentes, com o drama espacial Apollo 13 (1995), sempre se mostrou um tanto inconstante, ora nos entregando filmes extraordinários como Uma Mente Brilhante (2001), que lhe deu o Oscar de melhor diretor e filme, e em outras oportunidades apelando ao melodrama insosso (A Luta pela Esperança, 2006) ou adaptações mal sucedidas, como O Código Da Vinci (2006). Com No Coração do Mar, ele tenta se equilibrar entre o racional e o emocional para contar a fabulosa história que inspirou o clássico da literatura Mobi Dick, e, depois do excelente Rush – No Limite da Emoção (2013), se espera muito dele.
No início do século 19, Owen Chase (Chris Hemsworth) está excitado pela chance de ser capitão de um navio baleeiro pela primeira vez. Porém, quando se reúne com seus “chefes”, descobre que será apenas Primeiro Oficial do inexperiente George Pollard (Benjamin Walker). Eles começam a ter suas desavenças, porém, quando seu navio é atacado por uma gigantesca baleia branca, eles terão de ser fortes para sobreviver em alto mar, sem comida e sem água.
Não tem como não se deixar encantar pelo belíssimo trabalho que fez a produção de No Coração do Mar. As cenas em alto mar, a direção de arte, a maquiagem e a determinação dos atores em entregar o material mais verídico possível de reconstituição histórica é fabuloso. Desde os primeiros minutos somos hipnotizados e levados ao êxtase com a ótima sequência da tempestade que enfrentam logo no começo da aventura. Isso consegue dar corpo ao roteiro escrito por Charles Leavitt, que, até em sua metade sobrevive a textos previsíveis e um maniqueísmo batido, onde se caricaturam os bons e os maus.
Mas, existe algo que incomoda no desenrolar do filme. Depois de serem destroçados pela gigantesca baleia, falta um tanto de delicadeza para se promover o caos melodramático. Esse equilíbrio é o que pesa no começo do fim. Não conseguimos encontrar aqui algo que dê sentido à existência da trama, mesmo que saibamos que se trata de uma narrativa de ponto de vista, do jovem Thomas Nickerson (Tom Holland; Brendan Gleeson). Poderia ter investido mais no drama humano mais profundo, nos dilemas morais que inevitavelmente surgem quando seres humanos são colocados em situações limite.
Essa falta de sincronia entre texto e imagem talvez seja algo que torna a carreira de Ron Howard tão irregular. Seu filme anterior, Rush, consegue reservar a parte de cada atributo, não deixando que as maravilhosas cenas de corrida limite o embate psicológico dos personagens. Aqui, sua direção é competente como na grande maioria de seus filmes, mas parece que se deixou seduzir pelo potencial de espetáculo que o ambiente náutico poderia, e conseguiu, proporcionar. O que parece é que está se especializando em ser diretor de cenas primorosas, mas sofrendo em entregar conteúdo de qualidade.
Tem de se lembrar também que o filme não é Mobi Dick, com seu paranóico Capitão Ahab e o personagem principal Ismael. Talvez para ter essa desambiguação Howard não tenha se empenhado tanto em construir uma relação maior entre o homem e o animal, e não tenha se aprofundado mais na questão. Porém, mantém o teor da obra de Herman Menville (Interpretado no filme por Ben Whirshaw), que quanto mais ganância o homem tem, mais ele sucumbe.
No Coração do Mar não está entre os melhores filmes de Ron Howard, mas também está longe de figurar entre os piores. Nessa balança desequilibrada, o roteiro deixa a desejar e perde pontos por morosidade, contudo, além dos méritos da produção e de sua direção competente, há de se enfatizar o bom desempenho de Hemsworth, que com o diretor parece conseguir atuações promissoras. Esperemos que Howard consiga se equilibrar novamente em seu próximo filme, pois quando isso acontece, ele fica entre os grandes.