Quando estreou nos cinemas em 2012, adaptado da obra de Suzanne Collins, muita gente achou que Jogos Vorazes seria algo juvenil e dispensável, que viria a ser apenas um caça-níquel qualquer e que renderia bons frutos na bilheteria, assim como a saga Crepúsculo. Entretanto, o público percebeu que não era bem assim, e a distopia se mostrou uma crítica política interessante, de reminiscências em obras como 1984 de George Orwell e Adorável Mundo Novo de Aldous Huxley. Além disso, apresentava um ser humano comum desafiando o Estado. Depois de três filmes, Jogos Vorazes – A Esperança: O final chega para entregar o desfecho esperado, mesmo que titubeie no apagar das luzes deixando uma sensação de que faltou algo.
Depois de aceitar ser o Tordo da revolução contra a Capital, Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) tem seu ódio contra o Presidente Snow (Donald Sutherland) ainda mais aguçado depois que Peeta (Josh Hutcherson) volta do cativeiro em que foi mantido, tentando matá-la, pois sofreu uma lavagem cerebral. Mesmo contra os planos da Presidente Coin (Julianne Moore), que a pretendia usar apenas como uma propaganda de guerra, Katniss parte para o fronte, a fim de assassinar Snow e terminar com os conflitos.
A expectativa em torno desta segunda parte de Jogos Vorazes – A Esperança era grande, principalmente depois da parada primeira parte. E, pode se dizer que ela não decepcionou. Todo o conteúdo que veio sendo construído deste o primeiro filme, em 2012, tem uma conexão lógica com a resolução do conflito que Katniss iniciou após o massacre quaternário. O roteiro escrito por Danny Strong e Peter Craig tem um teor claustrofóbico, pesado, que, diferente do que muitos pensavam, não se apega na guerra em si, mas na estratégia bélica, a forma como o Tordo chegaria ao seu destino e cumpriria sua missão.
Mas, o interessante é que o roteiro não caiu na sedução do espetaculoso, e, principalmente, não deixaram a figura de Katniss desandar. Conseguiram manter ela como um ser humano, dotado apenas de uma indomável força de vontade, que precisa de seus companheiros para conseguir seus objetivos e também tem seus defeitos como qualquer outra pessoa. Nesse ponto, podemos até compará-la com outros revolucionários da história, que foram excepcionais, mas que eram humanos e propensos a equívocos. Neste quesito, o filme fecharia sua trajetória como uma obra notável.
Entretanto, estranhamente o filme perde o senso de conteúdo em sua parte final. Depois do desfecho do destino de Snow e do país, o que vimos foi uma clara intenção em agradar os fãs. Claro, que o fim segue a linha do livro, mas é inquestionável, que depois de tanto derramamento de sangue, nossos olhos não conseguiram absorver algo tão discrepante do conteúdo que a saga apresentou. Era o momento de a saga ser encerrada com chave de ouro, mas, acabou caindo no previsível e pueril. E Katniss, depois de tanto batalhar, depois de tantos sacrifícios, terminou como um ninguém em meio à multidão.
Esse equívoco no final do longa não chega a prejudicar a direção de Francis Lawrence, que criou um clima tenso, valorizou o roteiro no que ele foi melhor, e principalmente, soube explorar sua heroína. Claro, que muito disso se deve ao talento inegável de Jennifer Lawrence, que carrega uma dualidade constante em sua Katniss, nunca perdendo a mão no que o personagem pede. Só não ficará imortalizada no papel pelo fato de ter talento suficiente para estar sempre apresentando ao público grandes atuações e facetas diversificadas.
Mesmo com a sensação de que seus quinze minutos finais não fazem parte do mesmo filme que se desenvolveu desde 2012, Jogos Vorazes – A Esperança: O Final conseguiu ser conciso com seu conteúdo. De todas as sagas adaptadas de livros infanto-juvenis que foram lançadas nos últimos anos, foi a que conseguiu se manter em bom nível em todas as partes e despertou mais o interesse do público adulto. No geral, deixará saudades.