Pode até ser que Guilhermo Del Toro não tenha conseguido atingir o êxtase criativo de sua obra-prima, O Labirinto do Fauno, 2006, mas não tem como negar que A Colina Escarlate veio para preencher sua ânsia pelo terror, pelo assombro, pelo medo que o seduz desde que lançou A Espinha do Diabo, 2001. O diretor com seu toque especial para a fantasia consegue caprichar mais uma vez no terror gótico com um visual ousado e requintado, apesar de a trama ficar no mais do mesmo de outras obras do gênero.
A escritora Edith Cushing (Mia Wasikowska) se apaixona pelo galante e misterioso Sir Thomas Sharpe (Tom Hiddlestone). Eles decidem ir morar junto em uma obscura mansão no alto de uma colina, na qual vive a cunhada de Sharpe, a estranha Lucille (Jessica Chastain, ótima), que perambula pela casa. Porém, Edith começa a perceber que além da gélida mulher, outra coisa está a espreita, batendo portas, sussurrando, tocando piano… algo que ela não gostaria de descobrir o que é.
Em meio ao obscuro da grandiosa mansão eis que surge o medo. Mesmo que o roteiro não seja preciosista, que tenta a todo custo instigar o imaginário, o filme procura se escorar no senso de criação de Del Toro, que controla forma e conteúdo de modo especial, incomum, exaltando o cenário, que assim como fazia mestres como Hitchcock, faz dele um personagem à parte. Ainda que exista um exagero visual, intencional ou não, na extravagância do vermelho e dourado, essa agressão tende a criar um clima ainda mais claustrofóbico, hipnótico.
Mas, eis o tendão de Aquiles. Sim, mesmo com uma produção excepcional, nem mesmo a fotografia estupenda e a caracterização de época são o suficiente para desviar nosso olhar da trivialidade da trama. O centro da história é a obsessão, a tensão emocional e sexual, uma tentativa de se inserir um conteúdo dramático acima do normal, o mesmo erro de Mama (2013). Talvez fosse interessante uma atenção maior às manifestações fantasmagóricas, nas expressões de Jessica Chastain, em (mais uma) atuação para lá de competente, no susto, no medo, no assombro.
Todo o simbolismo que o filme carrega é mais pelo talento de Del Toro em conduzir sua câmera atenta, sorrateira, quase em primeira pessoa, do que do roteiro em si. A química entre Wasikowska e Hiddlestone não se segura, assim como o teor de mistério em torno dos fantasmas. O filme comete o erro de entregar ao público mais do que deveria, exigindo menos atenção e tornando as inserções de “medo” batidas, esperadas, quase cronometradas. Quem está acostumado ao gênero poderá sentir falta de emoções mais fortes.
Contudo, para um gênero cambaleante quanto o terror, A Colina Escarlate não é um filme dispensável. Porém fica muito mais refém de sua impecável produção e caracterização assombrosa do que a trama em si. Mas, se depender de Guilhermo Del Toro, suas tentativas de entregar ao público uma obra tão impressionante e grandiosa quanto O Labirinto do Fauno não vão parar por aí. Os fãs de terror agradecerão sua persistência.