Liam Neeson se tornou sinônimo de ação depois que Busca Implacável ganhou notoriedade e tornou seu personagem, Bryan Mills, conhecido entre os fãs do gênero. De lá para cá, quase todos os projeto em que se mete acabam dando certo, seja por entregar ao público o que querem ver, ou pela sua enigmática figura que em cena se transforma em ícone. Caçada Mortal é mais um destes, trabalhando novamente em cima da imagem atual desenvolvida pelo ator na mídia, mas com uma pegada um pouco diferente da usual. E assim, agora o filme já está disponível também no mercado home vídeo.
Matt Scudder (Neeson) é um ex-policial que age agora como detetive particular, atuando muitas vezes sem os critérios da lei. Ele é assombrado pelo seu passado, onde em uma perseguição a bandidos, acaba ferindo mortalmente uma garotinha de sete anos. Quando é procurado pelo traficante de drogas Kenny Kristo (Dan Stevens) para encontrar os bandidos que sequestraram, estupraram e assassinaram sua esposa. Depois de relutar, Matt aceita o serviço, mas, quando se aprofunda no caso, descobre que a morte da esposa de Kristo está relacionada a uma série de crimes brutais contra mulheres.
A premissa de Caçada Mortal é banal mesmo, com os mesmos arquétipos construídos durante anos, depois que o gênero deixou de ser nobre após os dourados anos 70 de Dirty Harry, Popeye Doyle e cia. Mas, o que faz o roteiro do diretor e roteirista do longa Scott Frank funcionar é justamente a simplicidade, pois não inventa nada que poderia se tornar forçado demais para os desenrolar da trama, ou seja, não tenta entregar nada mais do que seu espectador quer ver. Além disso, soube jogar com o que tinha à disposição, injetando tensão, flashbacks, alguma carga dramática, e referências aos grandes personagens do gênero, como o Philip Marlowe, citado pelo pequeno ajudante de Matt, TJ (Brian “Astro” Bradley).
Não que tenha conseguido fazer um exemplar “Neo-Noir”, mas Frank trabalha os conceitos de bem e mal usando a figura do ex-policial de forma imparcial, atribuindo-lhe defeitos, impondo-lhe dificuldades, ou seja, tomamos o personagem central como um homem fazendo seu trabalho, não um herói com capacidade acima do normal. Talvez apareça demasiado o tom exagerado nas relações interpessoais, e o desfecho caia no previsível, mas o filme é construído para ter em suas complicações o ponto central, ou seja, o interessante mesmo é montar o quebra-cabeças e relacionar a morte da mulher do traficantes com outras que tiveram o mesmo infortúnio.
Frank, que faz sua estreia na direção de longas, se mostra seguro, e não tentar construir nada acima teria condições de conduzir. Talvez, por ter feito sucesso com roteiros de filmes como Minorty Report – A Nova Lei (2002) e Wolverine – Imortal (2013), sabe que para seguir vivo em Hollywood tem saber esperar e não apostar todas suas fichas. Seu Caçada Mortal não é perfeito, mas consegue ser um dos poucos filmes de “tiro” que sai do limbo repleto de bobagens que tem mais sons de armas que palavras.
A certeza mesmo é que o filme não teria sido a mesma coisa sem Liam Neeson. Depois de ter sido alçado ao estrelato com sua atuação indicada a vários prêmios, inclusive ao Oscar, por A Lista de Schindler (1993), encontrou seu lugar nos gêneros cinematográficos. Seu jeitão durão, de expressão sofrida praticamente garantiu o sucesso nos cinemas, agora, com certeza, continuará garantindo seus “trocados”, neste, e nos outros que obviamente virão.