Bom Dia, Sr. Mandela | LITERATURA

Bom Dia Sr. MandelaAcima dos pormenores, “Bom Dia, Sr. Mandela”, da Editora Novo Conceito, é um relato humano. Apesar de a autora Zelda la Grange nos alertar, logo de cara, de que não se trata de questões políticas e fofocas, a princípio, somos atraídos pela curiosidade em saber mais sobre bastidores, fatos inéditos e manobras a respeito da trajetória de inspiração e de superação do tão idolatrado líder sul-africano. O texto, profundo e inspirador, vai mudando essa perspectiva para que percebamos como a vida é muito maior que conquistas e luta pelo poder. Precisamos ser úteis ao próximo, transformadores e principalmente humanitários.

Dessa forma, o livro acaba teorizando sobre as formas de relações entre seres humanos a partir de uma: a ligação entre Madiba (um dos apelidos do renomado personagem) e a primeiramente datilógrafa, passando por secretária pessoal, virando grande amiga, Zeldina. Foram quase 20 décadas juntos, crescendo mutuamente. A evolução apresentada é de um valor tremendo.

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Assim como ela, nós, leitores, também não terminamos esse relato emocionante da mesma forma que iniciamos. A escritora finalizou os trabalhos para o ex-presidente extremamente esgotada, modificada e ciente daquilo que importa. Ficamos menos inocentes, mais críticos, menos inquisitivos, mais apaziguadores, menos mesquinhos, mais atuantes. Esse paralelismo, apesar da distância entre nós, impressiona.

A biografia se inicia com a situação da África do Sul por causa do apartheid, brevemente abordando como a própria família da autora, que é branca, lidava com a segregação racial. Até que, de repente, ela é escolhida pra trabalhar no primeiro governo democrático, capitaneado por Mandela, após ter ficado 27 anos preso. Temendo-o, graças à criação (cega) dos familiares, aos poucos, ela vai descobrindo a preciosidade dele, deixando-se modificar, até estar totalmente conectada e dependente emocionalmente.

Após a presidência, Zelda narra os trabalhos em prol das melhorias sociais, as centenas de viagens internacionais, as lutas diárias para alcançar conquistas. Os inúmeros acontecimentos ajudam a apontar erros e acertos. Instruem como deveria ser um ambiente harmônico ou um relacionamento mais saudável. Revelam ensinamentos. Por isso, a leitura não deve ser rápida. É preciso refletir, deixar entranhar as palavras de Nelson Mandela. E são tantas. Para convencer e confirmar sobre a força dessa vivência, nada mais digno e respeitoso do que algumas opiniões do próprio:

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“A amargura é a mais inútil das emoções, porque não pode mudar coisa alguma.”

“É preciso deixar as outras pessoas decidirem como querem se lembrar de você.”

“Eu me movimentava em círculos em que o bom senso e a experiência eram importantes, e neles as altas qualificações acadêmicas não eram necessariamente decisivas.”

“As pessoas esquecerão o que disse, mas nunca esquecerão como você as faz sentir.”

Depois disso, a competição é injusta. Qualquer outro escrito não carrega tanta força. Então, deixe logo essas palavras de lado, e vá sentir, inspirar-se, modificar-se com as emanações de Mandela, uma grande e imperiosa figura humana do nosso tempo.

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