Desde que emocionou o mundo com sua bilheteria na casa do bilhão em Toy Story 3 (2010), muito se esperava da Disney/Pixar algo que chegasse àquele patamar. Sim, pois antes da trama dos bonequinhos, o estúdio também entregou grandes obras-primas, tais como Up – Altas Aventuras (2009) e Wall-E (2008). Mesmo que seus filmes posteriores terem sido muito bons, já haviam extrapolado este patamar. Precisava ser mais do que ótimo. Agora, após serem aplaudidos de pé no Festival de Cannes, eles trazem Divertida Mente, que chega aos cinemas com a mesma originalidade que elevou o gênero a outro nível, com uma estranha forma de conduzir as emoções, tanto da personagem, quanto do público.
Quando nasce, a pequena Riley começa as atividades dentro de sua mente. Mas não estamos falando de um emaranhando de neurônios dentro de uma massa cinzenta. São cinco emoções distintas; Alegria, Tristeza, Raiva, Nojo e Medo; que caracterizam qualquer pessoa, e aos 11 anos de idade da garotinha, já se consolidaram de forma a guiar todas as decisões dela. Quando os pais de Riley decidem se mudar de Minessota para San Francisco, um baque emocional abala a garotinha e suas emoções. Depois de um incidente provocado pela Tristeza, ela e a Alegria acabam fora do painel de controle, ameaçando assim o futuro de Riley. Elas precisam voltar, e logo.
É incrível, esplêndido, extraordinário perceber que, ao fim da sessão, o roteiro de Pete Docter, em conjunto com Meg LeFauve e Josh Cooley, simplesmente nos arremessou dentro do complexo mundo que compõe nossa mente. Ali, como num passe de mágica experimentamos alegrias, tristezas, raiva, nojo e medo. Rimos, choramos, ficamos apreensivos, tudo ali, enquanto o filme acontece. Sim, mais que uma animação Divertida Mente é um experimento psicológico, uma forma de provar que os sons e as imagens são, além de arte, uma forma de cativar o público.
Nesse hiper-contexto em que somos involuntariamente inseridos, mas alegremente aceitamos fazer parte, o diretor nos conta como tudo acontece, e por incrível que pareça não sobra espaço para contestações. Parece que as bases de um estudo de Freud, Yung ou outro maluco que tentou entender as engrenagens da mente fossem pulverizadas em um conjunto de personagens fofos e paletas coloridas. É tudo tão correto, tão intrigante, que se sai do cinema imaginando que a sua “alegria” apertou todos os botões do painel de controle, por que o sorriso bobo não sai de sua cara.
Ainda tem as questões implícitas, que são o fator que tira filmes como este da categoria dos ótimos para figurar em algo ainda mais relevante. Ali confrontamos o passar do tempo, nossas lembranças, a vida que se foi e não volta, aquilo que era importante e não é mais (exemplificado na figura do elefante-gato-algodão-doce Pinpong). É de arrancar lágrimas até no mais durão que esteja na sala. Ah, e tem ainda o cinema, sim, a trilha sonora bela, ou a ausência dela quando a mente perde a alegria. Sem delongas, excessos, só emoção, das boas.
A Pixar conseguiu mais uma vez, arrepiou, emocionou, alegrou. Foi fundo, saiu do lugar comum, trouxe para o público algo que vai além de boas gargalhadas, algumas lágrimas, um Oscar. Extraiu o melhor deles, o melhor de nós, apenas com uma dúzia de bons personagens, um roteiro maravilhoso e uma animação de traços certeiros. Aquilo que faz do gênero algo maior do que pensam que é, cinema bonito, de verdade, original. Senhoras e senhores, eis uma obra de arte. Aperta o botão da Alegria!