Steven Spielberg é considerado o maior Midas de Hollywood devido à sua facilidade de transformar filmes com tramas triviais em feitos maravilhosos, Cult movies inesquecíveis e até obras-primas instantâneas. Uma dessas investidas surgiu Poltergeist – O Fenômeno, onde Spielberg produziu, roteirizou, mas deixou a direção à cargo de Tobe Hooper. Resultado: clássico do gênero. Mais de três décadas depois eis que o filme ressurge, com uma pegada mais moderna, apostando em efeitos especiais pesados e cenas impactantes. Mas, além do roteiro frágil e implausível, existe um problema maior: não tem Spielberg.
A base da trama é a mesma. Uma família é obrigada a se mudar para uma vizinha mais modesta devido a problemas financeiros. Eles encontram uma casa aconchegante, com uma bela e antiga árvore no quintal. Porém, coisas estranhas começam a acontecer, principalmente depois que a pequenina Madison (Kennedi Clements) passa a conversar com seres que somente ela ouve. Quando finalmente eles fazem contato direto e “capturam” a menininha, os pais Eric (Sam Rockwell) e Amy (Rosemary DeWitt) procuram a ajuda de especialistas em atividades sobrenaturais que lhes revelam que os espíritos são na verdades Poltergeits, e são hostis.
Não dá para entender qual o motivo de grandes estúdios continuarem apostando em remakes, ainda mais se tratando de filmes que se tornaram clássicos. A clara falta de criatividade dos roteiristas e a ânsia por nada menos do que milhões em bilheteria acabam arrastando atores, diretores e produtores para uma vala-comum de filmes B, só que com orçamento milionário. Neste novo Poltergeist – O Fenômeno, tudo segue o mesmo padrão do clássico de 1982, porém, mais apressado e com uma estranha necessidade de auto-explicação, pois aqui, a família passa por arroxo financeiro, por isso não cai fora dali quando as coisas começam a desandar. Essa decisão talvez nasceu de uma das principais críticas feitas ao primeiro filme: Por que simplesmente não vão embora?
Entretanto, se o padrão fosse mantido, esse início repleto de draminha farsesco ao menos faria sentido. Pouco tempo de filme depois tudo descamba para as mesmas sucessões de gafes textuais, onde nenhum personagem é bem desenvolvido de forma a justificar o papel de cada um na reta final, onde os atos se justificariam sem necessidade de mais explicações. Nem mesmo a pequena Madison tem um cuidado maior. Ela é o fio condutor de toda a história, o motivo pelo qual os Poltergeists fazem o contato. Os fios e as meadas se perdem, caem no pastiche bobo, uma mera cópia do que foi visto, com mais efeitos, e menos criatividade.
Sim, o filme roteirizado por Steven Spielberg não apresenta a mesma fragilidade na história, todavia, ele acerta em escalar um mestre do gênero na época, Tobe Hooper, que soube dosar os sustos em meio ao caos que se forma. Mais há uma gigantesca diferença entre os anos 80, onde o exagero visual era quase uma necessidade, além da contextualização com um monstro que crescia de forma a se tornar uma ameaça ao cinema, a televisão. Aqui, a não ser as ferramentas tecnológicas notáveis, nada traz um afresco diferenciado, algo que torne a história mais interessante do que é. Nem mesmo a aparição de um famoso “ghosthunter” e sua tentativa de introduzir humor funciona.
Talvez fosse melhor que Hollywood tentasse investir em histórias originais ou em adaptações de filmes que fracassaram na época de seu lançamento. Pois se continuarem a simplesmente tentar explorar o sucesso de obras de outrora entregando produtos de qualidade duvidosa como este Poltergeist, ao invés de levar grandes histórias do cinema ao conhecimento do público jovem, vai acabar por torná-lo cada vez mais indiferente à importância do cinema como arte em si. Será apenas um mero espectador zumbi, que se diverte ao celular enquanto o filme passa. Quem dera existissem mais Spielbergs…