DIÁRIO DE UM ADOLESCENTE APAIXONADO | LITERATURA

669e144b-faf8-4ecc-9b0e-7227ac82035bO vlogueiro Rafael Moreira tem nada menos do que 150 mil seguidores em sua fanpage no Facebook. Isso só vim a descobrir recentemente, quando chegou às minhas mãos seu livro, Diário de um adolescente apaixonado. Antes nunca tinha ouvido falar dele, o que não é de se estranhar visto que já passei há algum tempo da faixa etária à qual ele pertence e a cujos temas se dedica. Talvez por isso mesmo seja tão curioso para mim o fenômeno editorial em que ele se transformou, a exemplo de outros jovens de sua geração.

Meninas do meu tempo de adolescência costumavam nem ter propriamente diários, mas agendas nas quais anotavam tudo, de poesias a confissões (ao lado de colagens de letras de revistas e papéis de bombons e balas). Mas essas agendas eram secretas e nem mesmo as melhores amigas (as tais BFFs de hoje) tinham acesso a todos os pensamentos derramados ali. A internet, porém, modificou a forma como se dá a relação entre o que é público e o que é privado. E isso interfere também na maneira como cada um enfrenta – sobretudo os adolescentes da atualidade, que já cresceram mergulhados nesse universo – os sentimentos e sua exposição. O diário – ou a agenda – passa a ser o blog (ou vlog), as redes sociais, a webcam, o mundo.

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Não, o jovem Rafael não faz revelações bombásticas em seu livro (confesso que não cheguei a tanto e continuo sem saber o que ele faz exatamente na internet). Mas admite questões com as quais, provavelmente, a maioria de seus amigos também tem de lidar. E não apenas seus amigos; milhares de jovens que também se apaixonam, que também levam fora, que também acham que vão morrer de amor a cada novo amor. Com isso, a exemplo do que aconteceu com minha conterrânea Isabela Freitas (não, não li seu livro, mas entrei em seu blog para saber “qualé” de tanta repercussão), seus escritos tem um quê de autoajuda juvenil. E se há uma coisa que as editoras aprenderam sobre autoajuda e fenômenos midiáticos é que as duas coisas vendem. Ainda mais se forem combinadas.

Existe, entretanto, uma diferença interessante no livro de Rafael: o fato de ter sido escrito por um garoto. Numa sociedade em que o machismo, infelizmente, ainda está arraigado, muitas vezes fingindo que nem é machismo, meninos aprendem, lamentavelmente, que não podem expressar sentimentos, como se a parte do sistema límbico responsável por acionar as glândulas lacrimais ficasse no útero, e não no cérebro. Ainda bem que, aos poucos, isso vai mudando. E que garotos de 17 anos podem ir para o YouTube ou para a lista de best-sellers mostrar que têm opinião formada sobre tudo. Até sobre o amor.

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