FINGINDO | LITERATURA

Fingindo livroQuem já esteve por aqui antes deve ter percebido que tenho um pé atrás com continuações. Não que elas não possam acontecer. Há livros, que, na verdade, já nascem prontos para prosseguir, seja com mais um, dois, três ou sete volumes. Tampouco existe um “nível” literário para isso; vai de Harry Potter a Em busca do tempo perdido. A implicância brota quando a continuidade não foi pensada previamente, mas forçada por um único e exclusivo argumento: o mercado. E no impulso de sucessos editorais, não é incomum ver autores perdendo seus personagens e histórias.

Essa cisma fica maior ainda com os tais spin-offs. Sinceramente? Se é raro eu querer saber o que aconteceu com os protagonistas de um romance depois do ponto final, preferindo que não destruam minha imaginação com novos conflitos mirabolantes nem afundem uma relação que terminou bem na mesmice (é sempre uma coisa ou outra), mais raro ainda é eu ter curiosidade sobre a vida de personagens secundários.

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Acontece que às vezes caio do cavalo. E de cara no chão. Foi o que aconteceu com Fingindo, o segundo volume da série de Cora Carmack. Já havia escrito sobre o primeiro, Perdendo-me, aqui e tinha gostado. Não é o tipo de livro do qual as pessoas costumam se lembrar para o resto da vida e tive que recorrer ao meu próprio texto para recordar detalhes. Ainda assim, continuo mantendo a boa sensação de perder a noção do tempo enquanto o lia.

Essa sensação repetiu-se com Fingindo. No entanto, a ela se juntou uma outra: a de que eu estava diante do primeiro spin-off  da minha vida que conseguia ser mais profundo que seu antecessor. Os que buscam grandes reflexões ou experimentações de estilo não se entusiasmem. Continua sendo apenas uma leve historinha de amor. Mas se Cade não chamou minha atenção em Perdendo-me, a ponto de sequer citá-lo no texto anterior, no segundo livro da série, o amigo apaixonado e rejeitado de Bliss se revela o tipo de mocinho bem mais interessante do que Garrick fora antes dele.

Em Fingindo, Cade conhece Max. A cantora, com seus cabelos coloridos e todas as tatuagens e piercings, precisa de um namorado fake certinho para convencer os pais a continuar ajudando-a a se sustentar e correr atrás do sonho de viver de música. E é justamente aí que o ator, genro dos sonhos de qualquer mãe, entra.

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O envolvimento dos dois ultrapassa, porém, o prazo e os limites estabelecidos no acordo. E não se trata de envolvimento físico, embora, é claro, eles sintam uma atração sexual um pelo outro. Trata-se de um envolvimento que é, antes, emocional. E é porque Max é uma personagem de dramas muito mais complexos que os de Bliss – cujo único conflito inicial era ser ou não ser virgem, eis a questão – que Fingindo se torna um livro mais forte e o casal de protagonistas ainda mais envolvente. Ponto para Cora Carmack.

Não pensem vocês, no entanto, que o feito me faz menos reticente quanto ao terceiro livro da série, que deve ser lançado em breve no Brasil. É esperar para ver.

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