ENTRE ABELHAS | CRÍTICA

Classificação:
Bom

postercinema_entreabelhas.jpg__932x545_q85_subsampling-2Muito se critica o cinema nacional por sua avalanche de comédias “Globo” que vem sendo lançadas e com a qualidade duvidosa, que tende a agradar o público acostumado a pastiches televisivos, mas detonadas pela crítica. Entretanto, uma “nova onda” do humor brasileiro, liderados pelo hiper sucesso da internet Porta dos Fundos, vem ganhando força e experimentando novas formas de se fazer rir, ou, como no caso de Entre Abelhas, refletir de forma bem humorada de assuntos delicados, sem exageros, hiperbolias, e pasmem, com uma ótima atuação dramática de Fábio Porchat.

- publicidade -

Bruno (Porchat) é um publicitário editor de vídeos que acabou de se separar da esposa Regina (Giovanna Lancellotti). Ele tenta se recuperar do baque emocional frequentando baladas e enchendo a cara com se melhor amigo, o amalucado Davi (Marcos Veras). Entretanto, misteriosamente ele começa a parar de enxergar as pessoas, e entre esbarrões, trombadas e atropelamentos, precisará da ajuda da mãe (Irene Ravache) e de seu psicólogo (Marcello Vale) para descobrir o motivo dos desaparecimentos.

Não é de se espantar que o Porta dos Fundos tenha tantos seguidores no seu canal do Youtube, aproximadamente dez milhões. Essa nova turma faz um humor cético, direto, negro, politicamente incorreto, e às vezes, também com uma dose de exagero. Porém, as duas cabeças pensantes do grupo, Ian SBF e Fábio Porchat, trazem algo quase raro no cinema nacional, uma comédia dramática, que mesmo preferindo separá-las gradativamente para o enredo ganhe mais intensidade, ainda assim é um roteiro bem amarrado, com a parte da comédia bem demarcada, principalmente pela dupla Ravache/Luis Lobianco, mas que nunca ofuscam o mote primordial do longa.

Essa construção do drama sobre um arcabouço cômico acaba por surpreender, já que o filme começa bobo, com piadinhas sem força. E isso que eleva a qualidade do filme, pois percebe-se que ele só fica bom mesmo quando há uma carga dramática evidente, incisiva, que desperta curiosidade, mas não de forma obcecada, desmedida. O humor fica cada vez mais sensível, subjetivo, às vezes mais no visual do que no textual, dando espaço para o trabalho dos atores, algo que raramente se vê em comédias, não só no cinema nacional, mas numa forma geral. Porchat entrega uma atuação formidável, que em nada lembra o espalhafatoso e exagerado comediante conhecido do público. A forma como ignora as pessoas que não e sofre com o fato é mais do convincente.

- publicidade -

Claro que para tudo funcionar deve-se exaltar a boa direção de SBF, que captura a solidão de Bruno de forma intimista. Mesmo que nunca seja revelado o motivo de seu transtorno, somos induzidos a concluir os motivos, apontar prováveis resoluções e torcer para que tudo acabe bem para o protagonista. Todavia, é nesse aspecto que se encontra o maior problema de Entre Abelhas: o pouco tempo de desenvolvimento do personagem depois que as coisas pioram pra valer, onde poderia ser explorado tanto o estado de desespero extremo, quanto o fim, que poderia ser mais apoteótico e conclusivo.

Mesmo que não seja uma obra perfeita, Entre Abelhas é uma grata surpresa do nosso cinema e que mostra que não só temos filmes de qualidade, mas como também podemos transformar um gênero tão criticado em algo apreciável, não só para o público, como também para a crítica. E quando essa realidade chegar, bons filmes como este não surpreenderão mais. Que assim seja.

- publicidade -

Notícias Relacionadas

Últimas Notícias

- publicidade -