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Quando surgiu para o mundo cinematográfico com a versão intergaláctica do Aparthaid no brilhante e premiado Distrito 9 (2010), Neill Blomkamp foi elevado à categoria de “novo James Cameron”, que fazia um cinema inventivo e hi-tech, entretanto, contextualizado com as condições socioeconômicas de seu país natal, a África do Sul. Mas, em sua chance em Hollywood, acabou não tendo um bom resultado com o insosso Elysium (2013). Agora, com Chappie, um conto sobre humanidade, novamente através da tecnologia, onde escreve, dirige, produz e filma novamente em sua “casa”. Ou seja, tudo a favor para um novo grande trabalho.
Em uma Johannesburgo dominada por gangues e com altas taxas de homicídios, a polícia local aceita a ajuda de andróides feitos de titânio, que ajudam a recolocar ordem na cidade. O inventor dos chamados “guardas”, Deon (Dev Patel), tenta convencer a dona da empresa que fabrica os robôs, Michele (Sigourney Weaver), a bancar seu novo projeto: inteligência artificial. Depois de ouvir um não, ele vê em um guarda avariado a chance de testar seu produto. Sua invenção dá certo, mas outras coisas dão errado, abrindo espaço para a ambição de Vincent (Hugh Jackman). E o robô, bem, este é “criado” por uma família para lá de estranha…
É louvável a criatividade de Neill Blomkamp. Este seu Chappie, assim como Distrito 9 e Elysium, são estudos sociais que exploram muito bem fatos de conhecimento universal, sendo assim, o público não tem muita dificuldade em entender tudo o que está passando em cena. A interação máquina-homem tenta explorar a mesma premissa do alien-homem de seu primeiro longa, onde nas entrelinhas percebemos sua militância, e de fato, essa forma fantástica de discutir assuntos sérios é notável. Porém, neste novo filme existe um fator que não esteve presente nos projetos anteriores, que é a inserção de carga dramática acima do normal para o teor de sua produção.
O processo de aprendizagem de Chappie acaba ganhando contornos folhetinescos, onde uma trama paralela com bandidos e dinheiro se forma e enfraquece o alicerce principal do filme. A família que o “adota”, formada por um trio de assaltantes afetados, cria um vínculo afetivo com o androide forçado, daqueles onde o amor muda o comportamento, descambando para um final clichê e decepcionante. Além disso, existe um vácuo temporal no roteiro, uma indecisão em qual caminho seguir que esfacela a parte que seria mais interessante, a humanização da inteligência artificial.
Essa indecisão narrativa de Blomkamp é compensada por uma boa direção nas cenas de ação. Ele mantém seu estilo de edição palpitante, usa e abusa de câmeras lentas e cria cenas tensas, frenéticas e não poupa o público do desagradável das cenas de violência e mutilação. Só nestes momentos identificamos o diretor promissor que surpreendeu o mundo. Os efeitos também são de ótima qualidade, pois conseguimos tomar o simpático Chappie (com a personalidade de Sharito Copley) como um ser humano revestido com uma armadura de titânio.
No apagar das luzes Chappie até funciona como um passatempo divertido, com suas tiradas cômicas e sua ação de qualidade, mas depois de todo alvoroço e expectativa que se criou em torno do nome de Neill Blomkamp, se torna uma decepção. Se não quiser correr o risco de se tornar um novo M. Nigth Shyamalan, que depois de uma estréia genial viu sua carreira retroceder, deve passar a se preocupar mais com o conteúdo textual, tanto quanto se preocupa com a visual, que este sim assegura vida longa no cinema atual.