Quem não lembra da adaptação de A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça na década de 90? Estrelado por Johnny Depp, o projeto contou com as características de Tim Burton, aplicando o seu próprio clima de terror e chamando cada vez mais atenção com o passar dos anos. Querendo ou não, a narrativa foi marcante e criou sua própria perspectiva, recheada de assassinatos, sanguinária e marcada por elementos próprios do seu diretor. Agora, anos após o filme, chegou a vez de uma nova abordagem ser trabalhada. Com a ideia de inovação e a promessa de um caminho diferente, o conto de Washington Irving voltou a ganhar destaque através da série de TV Sleepy Hollow, que agora chega ao mercado Home Vídeo.
O programa começa quando Ichabod Crane (Tom Mison), um expatriado britânico que morreu na Revolução americana, volta à vida em Nova York já na era do telefone celular. Entretanto, juntamente com ele, quem também reaparece é o Cavaleiro Sem Cabeça que planeja aniquilar a humanidade. A partir de então, trabalhando com uma destemida tenente da polícia local (interpretada por Nicole Beharie), Crane precisa correr para vencer as forças malignas que acabam de ressurgir… ou o mundo terá de enfrentar o apocalipse. O início de uma jornada recheada de reviravoltas e mistérios, mostrando uma grande batalha entre o bem e o mal.
Sem dúvida alguma, a narrativa é o ponto mais interessante para se escrever sobre a série de TV. Diferente de tudo aquilo que foi apresentado até agora sobre o Cavaleiro Sem Cabeça, a ambientação é realizada nos tempos atuais e apresenta um contexto totalmente para o seu antagonista. Uma nova mitologia é construída aos poucos, utilizando de fundo o livro do Apocalipse. Contudo, engana-se quem pensa que o programa fica preso por conta disso. Logo o roteiro encontra também outras vertentes e casos para isolados, criando algo realmente diversificado. Além disso, direção e fotografia também funcionam muito bem dentro do projeto, aplicando um clima por vezes mais obscuro quando necessário, sendo complementado pela trilha sonora.
Passando para os seus personagens, o seriado apresenta mais aspectos interessantes. A relação Ichabod Crane e Grace Abigail “Abbie” Mills chama atenção desde o início por conta de todo o contexto temporal envolvido. Com o primeiro sendo acordado de repente, assim como o Cavaleiro, ele vai precisando aos poucos se acostumar com as atualidades e gerando algumas situações que chegam a ser engraçadas. Por outro lado, Abigail é a série e cética policial, que não acredita no sobrenatural e acaba se surpreendendo. Quando ambos aceitam os seus destinos e os acontecimentos, logo tudo começa a se encaixar através de seus conhecimentos e aprendizados. É aqui que ocorre a grande diversificação da trama original, mas com um contexto bem definido.
De tal forma, além de entrar na questão envolvendo o fim do mundo e algumas características do terror sobrenatural com uma visão mais leve, o título também envolve os dramas pessoais de seus protagonistas. Com todas as descobertas e as visões que vão sendo introduzidas, o passado de Grace começa a fazer mais sentido, fazendo ela partir em busca da sua irmã, enquanto Crane tenta se reunir com a sua esposa bruxa, responsável pelo feitiço que lhe acordou juntamente com o Cavaleiro da Morte / Sem Cabeça, que está presa no purgatório. São realmente elementos que não estavam no conto e que mostram a grande diferença, mas ainda assim deixam o projeto interessante por ser único.
Com essa grande diferença muito bem definida, a produção vai ficando cada vez mais interessante ao longo da temporada. Casos vão aparecendo envolvendo lendas, além de que demônios começam a se fazer presentes em todo o processo. A guerra contra Moloch fica mais intensa, introduzindo personagens que logo se mostram fundamentais para o futuro do programa. Entretanto, tudo está ligado. Independente do caso, ele parecendo isolado ou não, tudo vai aos poucos formando uma grande trilha através dos passados dos seus protagonistas e um contexto único por conta do livro do apocalipse, colocando o fim do mundo no centro de tudo. Uma verdadeira batalha também passa a ser travada por conta de uma bíblia de George Washington, revelando que ela pode ter a chave para o fim de tudo.
E claro, como outros tantos títulos, reviravoltas e momentos de grande tensão vão se fazendo presentes no desenvolver de todo o projeto. Outro ponto que não é tão importante para os acontecimentos, mas que ainda assim é muito presente, são os comentários de Crane sobre grandes personagens da história dos EUA. São fatos que podem ser considerados banais em sua maioria, mas colocam um clima de descontração dentro de todo o roteiro quando necessário. E assim, com tudo isso, Sleepy Hollow ainda consegue criar um final de temporada apavorante e recheado de grande tensão, provando também que conquistou o seu espaço ao apresentar uma primeira temporada completa em diversos aspectos.
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