O PROTETOR | EM DVD / BLU-RAY

O Protetor
O Protetor

Antoine Fuqua é um diretor bruto, nervoso, que parece querer expor tudo o que há de ruim nos seres humanos, transformar todos em criminosos e tem uma queda por anti-heróis. O que dá para ser provado através de sua filmografia, repleta de bandidos, assassinos, prostitutas, drogas e mortes (com exceção de seu pior filme, Rei Arthur, 2004). Entretanto, em meio a tanto caos existe a dualidade intrínseca, um maniqueísmo intimista, uma espécie de transtorno de personalidade estranho, todavia hipnótico. Em seu ponto máximo fez do Alonzo Harris de Denzel Washington seu melhor pior personagem. E é nessa capacidade de construir anti-heróis e desconstruir mocinhos é que traz O Protetor, em meio mafiosos, prostitutas, querendo fazer o que é certo sem abrir mão do errado, de novo com Washington, com menos qualidade textual, mas com seu sempre ótimo know-how para ação.

A trama é baseada na série de TV da década de 80, The Equalizer, e traz o aparentemente pacato, porém misterioso, ex-policial Robert McCall (Denzel Washington), que faz de tudo para ajudar as pessoas em sua volta, mesmo que para isso tenha de usar métodos ortodoxos. Uma noite ele conhece a jovem Teri (Chloë Grace Moretz), que por trás da doçura juvenil, sofre por ser explorada por uma rede de prostituição comandada pela máfia russa. Sem pensar muito, Robert decide ajudar a mocinha a sair das garras dos bandidos, entretanto, quando executa cinco integrantes do grupo, percebe que ali é apenas a ponto do iceberg, e muitos perigos ainda estão por vir.

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O roteirista Richard Wenk carrega a estigma de não conseguir emplacar um sucesso entre os críticos, em contrapartida com o público as coisas são diferentes, pois 16 Quadras (06) e Os Mercenários 2(12) conseguiram agradar os fãs do gênero. Viu na trama de uma série de TV oitentista a chance de igualar as coisas. E até pode-se dizer, que mesmo limitado, faz seu melhor roteiro de cinema até o momento, onde consegue trazer o clima de seriado para as telonas, com as mesmas liberdades televisivas dos exageros, de seus personagens icônicos e até um ar melodramático que não chegam a incomodar a quem está ali, já sabendo da premissa de ter um ser humano de capacidades incomuns que ajuda gente desprotegida.

O que impõe a mediocridade é a pouca valorização do diálogo em si, que é praticamente limitado a troca de “gentilezas” entre o mocinho e o bandido do meio até o fim da exibição. Wenk não está habituado a ter em filmes para qual escreve atores do porte de Denzel Washington, e talvez lhe faltou a sensibilidade de entender que poderia criar algo mais complexo do que uma simples dualidade que o personagem carrega. Mesmo que insira “os fins justificam os meios” para valorizar o mito em torno da figura de Robert e fazer com que o público aprove sua truculência, falta ao filme se aprofundar no que está por dentro da invulnerabilidade física, as motivações de seus atos. Não que precisa-se ser um Taxi Driver (76), mas faltou a desconstrução a que o diretor Fuqua está acostumado.

O diretor, por sinal, é o que dá ao filme o fiel da balança, pois Fuqua já trabalhou com Washington e sabia muito bem o que poderia render, tanto que foi em seu Dia de Treinamento (2001) que o ator ganhou seu Oscar de melhor ator. Ele se pega a obscuridade do submundo como fez em quase todos seus filmes para direcionar a atenção do público não no que está por vir, mas no está acontecendo de fato. Adora traçar um limite seguro entre quem vê e quem atua, parecendo se divertir em meio bandidos e prostitutas, e ainda que o roteiro não propicie as possibilidades de mais um personagem icônico, faz sua parte com perfeição. Tanto que os finais de seus filmes são imprevisíveis, sempre nos deixando com uma sensação de satisfação, mesmo que o longa não seja tão bom assim.

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Há de se destacar a competência e talento de Denzel Washington. O ator parece não se importar que o personagem não tenha a profundidade que gostaria e nem se a qualidade do filme é aceitável ou não, trazendo sempre características únicas, que por mais que pareça ser o mesmo de sempre, não é. Talvez por estar sempre encarando papéis mais complexos e dramáticos como em O Voo (12) que lhe rendeu mais uma indicação ao Oscar, ou simplesmente por se sentir à vontade trabalhando no gênero. O que se sabe ao certo mesmo é que ele tem a capacidade de carregar um filme sozinho apenas com seu sorriso insano e sua voracidade em meio à ação.

Pela irregularidade do roteiro O Protetor nos deixa com a sensação que poderia ter apresentado algo mais interessante do que um homem que tem o prazer de corrigir injustiças mesmo que para isso tenha de cometer atrocidades. Contudo, pela competência da parceria Antoine Fuqua e Denzel Washington ainda podemos aproveitar a ação de qualidade, que faz o tempo de exibição parecer o de um curta-metragem, e que sim, no fim nos deixa a sensação de que foi melhor do que realmente é.

Classificação:
Bom

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