TODO DIA | LITERATURA

Todo Dia
Todo Dia

Todo dia, A acorda em um corpo diferente. Independentemente do lugar onde se encontra, do gรชnero de seu novo corpo ou da personalidade da mente que ocupa, A precisa se adaptar, mesmo que sรณ por um dia. Sรฃo 16 anos vivendo assim, sob duas regras imprescindรญveis: nunca interferir, nuncaย se envolver. Atรฉ que, em determinada manhรฃ, A acorda no corpo de Justin e apenas um dia รฉ suficiente para se apaixonar por sua namorada, Rhiannon. E jรก nรฃo รฉ mais possรญvel evitar interferรชncias; ele รฉ todo envolvimento.

Esse รฉ o ponto de partida de Todo dia, de autoriaย de David Levithan, escritorย que se consagrou ao escrever, em parceria com John Green, o livro Will & Will, o primeiro romance jovem-adulto gay a entrar na lista do New York Times.ย O argumento deste Todo diaย pode parecer muito inspirado no realismo mรกgico, mas, no subtexto do livro, nรฃo hรก nada de fantasia. Dia a dia A รฉ obrigado a lidar com uma gama de sentimentos muito pertinentes a todo adolescente dito โ€œnormalโ€: a inadequaรงรฃo, o estranhamento em relaรงรฃo ao prรณprio corpo, a descoberta da sexualidade (de diferentes maneiras), as agonias do primeiro amor. Nessa bela alegoria, o livro aborda experiรชncias e sensaรงรตes que, embora potencializadas e radicalizadas na narrativa, sรฃo bem humanas. De um lado, o encontro com alguรฉm com quem se quer permanecerย dia apรณs dia, todos eles; de outro, a noรงรฃo heraclitiana de que somos diferentes a cada dia, sempre novos, sempre em constante transformaรงรฃo. Como lidar com isso se tudo flui e sรณ a mudanรงa รฉ real?

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Por outra perspectiva, Todo dia tambรฉm apresenta uma linda reflexรฃo sobre o amor, que transcende a aparรชncia e o gรชnero para se concentrar no que nรฃo tem forma ou nome. ร‰ um impasse indecidรญvel entre o que รฉ sempre o mesmo e o que รฉ sempre outro. Como mencionei Herรกclito, o livro constrรณi uma espรฉcie de linha tรชnue entre seu pensamento e o de Parmรชnides: afinal, a essรชncia do ser se modificaย ou nรฃo? Serรก que aquilo que amamos โ€“ e o prรณprio amor โ€“ permanece imutรกvel a despeito de os sentidos nos dizerem que, como na mรบsica, tudo muda o tempo todo no mundo?

Todo dia nรฃo รฉ somente uma histรณria sensรญvel. ร‰ praticamente um tratado sobre a vida. E รฉ tambรฉm um daqueles livro que nos faz perguntar: que centelha o desencadeou? Que abrir de olhos fez alguรฉm acordar com essa sensaรงรฃo de ocupar outro corpo, outro espaรงo, outra vida? De que dรบvida surgiu essa ideia? E de que certeza?

A รบnica que tenho, neste instante, รฉ de que todos deveriam lรช-lo.

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