Revival do slasher: novos títulos e o retorno de grandes franquias indicam novo fôlego para o gênero

Imagem do filme Pânico
Divulgação

Famoso pelos seus imparáveis assassinos mascarados, o slasher, subgênero do terror consolidado entre os anos 1970 e 1980, está de volta ao mainstream, ocupando as telas de cinema com sequências de suas mais famosas franquias, como Pânico e Halloween.

De tempos em tempos, a indústria do cinema contempla o público com o ressurgimento de franquias e gêneros consagrados. O efeito da nostalgia é um fator poderoso nos mecanismos que determinam as tendências culturais de qualquer era. No momento, são os filmes sinceros do subgênero slasher que têm estado em alta.

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E todo esse movimento se deve não só à estrutura cíclica da cultura pop, mas também às muitas produções que têm se dedicado a atualizar as narrativas já consolidadas, ao mesmo tempo em que se mantêm fiéis aos seus elementos centrais.

O slasher

O primeiro filme que pode ser enquadrado no subgênero é Psycho, de 1960, do diretor Alfred Hitchcock. O filme introduziu alguns dos elementos que seriam aproveitados e desenvolvidos nas décadas seguintes, incluindo o foco no misterioso assassino com motivações obscuras e identidade desconhecida até os minutos finais.

Depois de Psycho, outros filmes como Black Christmas (1974) e Seis Mulheres para o Assassino (1965) também adicionaram elementos de direção e narrativa, de forma que podem ser considerados filmes proto-slasher, sendo precursores da fórmula que mais tarde seria refinada.

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Esse refino e consolidação tem como seu principal representante o primeiro longa da franquia Halloween, estreado em 1978, e responsável pelo pontapé inicial da era de ouro dos slashers.

Dirigido pelo veterano John Carpenter, Halloween trouxe dos proto-slashers todo o foco na violência e nos assassinatos, enquanto, ao mesmo tempo, estabeleceu e consolidou tropos essenciais como o estilo do assassino, que é sempre alguém mascarado e misterioso, e a famosa final girl, a protagonista paradigma de inocência e pureza e com quem a audiência sempre empatiza. Depois de Halloween, Sexta-Feira 13, de 1980, serviu para consolidar a narrativa centrada em adolescentes indefesos.

Depois dessa era, o subgênero, como todos os seus antagonistas, ainda seria ressuscitado, após o lançamento do inovador Pânico, de 1996, que trouxe toda uma nova abordagem com a pergunta “o que os personagens fariam se eles soubessem que são parte de um filme de slasher?”. A sagacidade na metalinguagem inteligente de Pânico deu um sopro de vida nova ao subgênero. A franquia está no centro das atenções nos últimos tempos, em que vemos um revival inspirado nos clássicos, mas moldado para uma nova geração.

Ressuscitando assassinos

Pânico é o Slasher de 2022
Divulgação

Não é certo o momento em que o subgênero voltou a tomar a atenção do público e a dedicação da indústria, mas podemos considerar que a preparação do caminho foi feita pela recente onda de filmes de terror, como A Bruxa (2015) e os queridinhos do público Midsommar (2019) e Hereditário (2018), do diretor Ari Aster.

E se esses foram os filmes que deixaram o público mais interessado no terror e preparado para o retorno dos slashers, então a trilogia Rua Do Medo, da Netflix, pode ter reintroduzido o slasher para valer, trazendo consigo uma série de novos elementos, todos centrados em uma narrativa muito similar aos clássicos.

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Na trilogia, você encontra todos os tropos já consolidados, como a final girl, a narrativa centrada em jovens adolescentes e os assassinatos brutais envoltos de mistério. As diferenças e inovações estéticas agradam a nova geração, e em questão de narrativa, em Rua do Medo, os personagens principais são justamente os desajustados, aqueles que nunca estariam em um slasher clássico.

Rua do Medo serviu para introduzir o slasher a muitas pessoas da nova geração – que nunca tinham tido contato prévio com o subgênero –, e para lembrar os veteranos como os filmes desse estilo são prazerosos de se assistir.

Com a popularidade cada vez maior, o retorno de franquias famosas começou a ser anunciado. No ano passado, tivemos a volta do imparável e aterrorizante Michael Myers, no filme Halloween Kills: O Terror Continua, e também uma nova série do boneco assassino Chucky. Ainda neste mês, fomos agraciados com a estreia do muito hypado Pânico 5.

O filme trouxe de volta a suprema final girl Sidney Prescott e mais um assassino vestindo o manto de Ghostface, que, desta vez, ao incorporar elementos de um terror contemporâneo, fez uma aparição ainda mais séria e assustadora.

O filme é uma ode à nostalgia dos clássicos e ao formato estabelecido dos filmes da franquia. O que não faltou foram sacadas inteligentes, metalinguística e piscadelas ao público. Mais do que isso, o filme ainda conseguiu introduzir uma nova geração e preparar o caminho para sequências que podem fazer a passada de tocha para essa geração, perpetuando a franquia.

Enquanto a nostalgia durar, o slasher pode se manter como tendência, mas o subgênero tem um estilo que pode fazer com que sua presença no mainstream dure muito mais.

O appeal do slasher

Pânico em 2022
Divulgação

É fácil ver um filme desse subgênero do terror e não se arrepender. Os slashers são filmes simples e sinceros, onde o mistério e o perigo são os principais fatores que cativam o público.

Há quem diga que os filmes, em sua fórmula básica, são de cunho um tanto quanto moralista. Um grupo de jovens irresponsáveis e lascivos sendo brutalmente reprimido  pela ameaça de um assassino mascarado parece um enredo a lá Cautionary Tales (conto de advertência). A fórmula, no entanto, já foi tão usada e modificada que, a essa altura, pode ser utilizada sem implicar esse tipo de ideia.

Existem críticos que também afirmam que slashers podem ter seu apelo na exploração do ciclo do ódio, se apoiando no passado vagamente trágico dos assassinos, afirmando que sua dedicação à matança é uma forma de expurgar suas experiências traumáticas. O verdadeiro appeal dos slashers, no entanto, pode estar em algo muito mais simples.

O caráter atrativo da narrativa cheia de assassinatos brutais pode estar em uma necessidade mais profunda de sentir medo e adrenalina. É difícil para qualquer fã de terror explicar o porquê dele se sentir bem ao ficar com medo ou sendo assustado. Essa relação é simplesmente contraintuitiva, mas ela existe, e não é exclusiva aos fãs de terror. O slasher, permite que até os mais avessos ao gênero possam se divertir e sentir o medo desejado. Simplificando: é bom sentir medo, e todo mundo tem um pouco de desejo por ele.

Os slashers entregam filmes honestos, onde é possível se interessar pelo mistério e empatizar com os protagonistas inteiramente humanos, se fazendo a pergunta: “o que faria se fosse eu?”.

Acesse seu streaming de preferência, ligue sua TV Sony ou computador e aproveite, pois existe um enorme catálogo desses filmes para além dos contemporâneos. Então, enquanto novas obras não expandem as capacidades desses filmes, aproveite para mergulhar de cabeça nesse subgênero tão querido do terror.

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