Quando se pensa no terror moderno e na nova onda de filmes do gênero, o apreciador casual pode imediatamente lembrar-se dos recentes sucessos de Ari Aster e o estúdio A24. Hereditário, Midsommar, O Farol e demais produções são longas que dispensam o uso barato de jumpscares e investem fortemente em temas psicológicos, explorando situações e sentimentos análogos aos encontrados no mundo real. Mas a América não é de longe o único continente gerando produções inovadoras e construindo uma possível renascença do cinema de terror.
Na Europa, mais especificamente na Espanha, um movimento similar floresce, influenciado pela própria história do país e fruto das mudanças ocorridas em diferentes esferas durante o período de pandemia. A nova e estranha onda de terror espanhol investe na hiper estilização, na inversão de olhares e na exploração de horrores internos.
Em setembro deste ano, na edição de 2022 do Fantastic Fest – um respeitado festival americano dedicado principalmente a filmes de terror, fantasia e ficção – dois dos principais prêmios foram concedidos a filmes espanhóis de terror, deixando claro que o movimento pode ser sentido além dos mares.
Piggy, de Carlota Pereda, recebeu o prêmio de melhor filme na categoria Horror Features (filmes de terror) enquanto La Pietà, de Eduardo Casanova, recebeu as honrarias mais altas na categoria principal (Main Competition). 8 foi o total de longas espanhóis que participaram do Fantastic Fest 2022.
A notoriedade das produções se dá principalmente pela trajetória que levou à mentalidade dos cineastas da Espanha moderna. Nos anos 60 e 70 o terror espanhol era marcado pelo fantaterror, estilo nacional influenciado pela literatura gótica e o cinema apelativo. O fantaterror surgiu da influência dos filmes americanos e como resposta à censura imposta pelo governo do ditador Francisco Franco.
Os títulos dessa era eram focados no enredo e no estilo, sendo claramente voltados para os olhares de fora, mas inevitavelmente incorporando o espírito nacional. A nova onda, por sua vez, deixa de lado as influências do gótico, esquece o apelativo e inverte sua atenção, se dedicando muito mais aos personagens, a conflitos internos e sua representação no mundo à fora.
Os filmes modernos de terror espanhol têm estilo, voz e vida. Com um desejo cada vez maior pelo terror como estratégia narrativa para a exploração de temas intimamente assustadores, a audiência das américas e de todo o mundo tem muito a apreciar ao assistir os títulos mais famosos do movimento.
Confira abaixo 5 filmes que fazem parte da Nova Onda Espanhola do Terror
Piggy (2022)
No longa da diretora Carlota Pereda, a violência do horror gore toma nova forma ao explorar a tortura interna-externa. Nele, Sara (Laura Galán) é uma jovem gorda, estigmatizada pelas suas características físicas, hostilizada pelos demais membros de sua comunidade e diariamente torturada. Sua dinâmica com a família, seu bully pessoal e uma ex-amiga são centro da trama que se inicia após a chegada de um serial killer à cidadezinha em que vivem. O enredo é repleto de cenas de violência e paralelos entre as esferas do psicológico e do físico.
La Pietà (Piety, 2022)
Tomando forma num estilo hiper estilizado, o filme de Eduardo Casanova explora a relação entre mãe e filho, toxicidade e obsessão. A trama gira em torno dos personagens Mateo (Manel Llunell) e sua mãe, Libertad (Ángela Molina). Quando Mateo é diagnosticado com câncer, sua mãe decide que também está doente e desenvolve uma obsessão aquém da síndrome de Munchausen por procuração. O filme foca no uso de recursos visuais e estilísticos para representar e analisar o comportamento tóxico.
Manticore
Manticore, por sua vez, é um filme que é melhor assistido sem muitas informações. O longa de Carlos Vermut impressiona pela maneira com que trata seu protagonista: um designer de monstros para jogos digitais. Assim como Piggy inverte os olhares quanto às vítimas de violência, Manticore inverte o olhar sobre o monstro, despertando uma análise crua e profundamente desconfortável dos cantos mais obscuros da mente humana.
Manticore é sobre um homem doente, com uma obsessão execrável e passa o enredo procurando a solução do seu problema na presença de outro personagem, que conhece em uma festa pouco depois de salvar uma criança vizinha de um incêndio.
La Abuela (A avó, 2021)
O diretor Paco Plaza é conhecido pelo aclamado REC, filme found footage de 2007, que deu origem a duas sequências e uma adaptação americana. Em La Abuela, Plaza explora a relação do tempo com os corpos, o terror psicológico e a aflição no cuidado de entes queridos debilitados. Nele, a personagem Suzana (Almudena Amor), interrompe sua vida para cuidar de sua avó Pilar (Vera Valdez), que sofre um AVC e precisa de cuidados. O mistério da trama se desenvolve junto com a revelação dos segredos da aparentemente inofensiva idosa.
Viejos (Os velhos, 2022)
De Cerezo e Fernando González Gómez, Viejos aborda, assim como La Abuela, temas relacionados à idade e aos corpos idosos de maneira a provocar questionamentos internos. O filme segue a trajetória do personagem Manuel (Zorion Eguileor) que, após o subto suicídio da esposa, é obrigado a se mudar e ficar com o filho e a família. Pouco a pouco, Manuel se degrada e o espectador se pergunta se o personagem é medonho e idoso ou medonho porque é idoso.
Os filmes acima podem ser encontrados em diferentes plataformas de streaming e podem ser assistidos em casa, no sofá, na cama box com colchão macio ou em qualquer lugar que ofereça o conforto necessário para apreciar um bom filme de terror.
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